você é uma péssima amiga

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𝐶𝑙𝑎𝑟𝑎.
📍 Asfalto Rec – Guarulhos, 19:42 – 15°C ⛈️

— Onde cê tava? - Paulo pergunta quando entro no estúdio.
— Na ... Cozinha.
— E cadê o Léo?
— Na cozinha - Digo receosa.
— Cêis foram comer e não me chamaram? - Pergunta rindo.
— Comer o que se não tem como ligar o microondas?
— É verdade - Rimos - Tô aproveitando pra finalizar aquele som do JayA, quer me ajudar?
— Pode ser.

Me aproximei da mesa de som e sentei na cadeira ao seu lado. Não demorou nada e o Leonardo entrou no estúdio. Nós nos olhamos e ele deu um riso leve de canto e eu voltei a olhar pro computador.
Estava com vergonha, isso era um fato. Mas foi muito bom. A forma com que ele me apertava firme, o cheiro dele, o beijo intenso. Tudo.
Meu corpo estremeceu e eu soltei um suspiro tão profundo que fez com que os dois me olhassem.

— Tá tudo bem? - Paulo pergunta.
— Tá, tá sim - Digo e ouço o Leonardo rir levemente.
— Cêis tão tudo esquisito hoje - Paulo continua - Mas o Léo, esse bagulho bate mesmo mano.
— Lógico que bate - Ele responde rindo - Por isso é bom.
— Cêis vão ter que me levar pra casa porque eu não vou dar conta de dirigir não.
— Relaxa, nóis te deixa lá.
— E você tá bem mesmo pra dirigir? - Falo com o Léo.
— Já disse que sim, pode confiar - Sorri.

Tencionei dizer alguma coisa mas fomos surpreendidos pela energia voltando. Todas as luzes se ascenderam e fechei meus olhos por conta da claridade. Aos poucos fui abrindo de novo e então vi o Leonardo me encarando, era como se a volta da luz não tivesse interferindo em nada da visão dele e pensei que talvez ele estivesse vendo tudo tão embaçado que não o afetava e eu ri disso.
Paulo decidiu que era melhor mesmo irmos embora, pra não correr o risco de acabar a energia novamente e ficarmos ali o resto da noite.
Léo colocou o carro do Paulo na garagem dos fundos, já que ele não estava mesmo em condições de fazer isso. Depois disso, entramos no carro do Léo e logo estávamos seguindo pro Prédio onde o Paulo morava.

𝐿𝑒𝑜𝑛𝑎𝑟𝑑𝑜.
📍 Av. Monteiro Lobato – Guarulhos, 20:01 – 15°C ⛈️

Estávamos parados no trânsito. Eco estava no banco do passageiro quase dormindo e eu ri da cena. Olhei pra Clara através do retrovisor e ela estava esparramada no banco de trás totalmente focada no livro.

— Tá confortável? - Pergunto e ela olha pro retrovisor.
— Demais, gostosin no azeite - Eco responde e Clara e eu rimos.
— Tô falando com a Clara, maluco - Digo - Vai dormir, vai.
— Vou mesmo - Se ajeita e encosta a cabeça no vidro.
— Qual livro é esse? - Pergunto.
— O Homem de Giz - Me olha novamente.
— Tá gostando?
— Uhum - Sorri e eu faço o mesmo.

Permanecemos nos encarando através do retrovisor e ela ficou sem graça, então desviou o olhar de volta pro livro.
Tinha sido bom ficar com ela, talvez acontecesse de novo quando eu a deixasse em casa. Talvez a gente pudesse transar. Eu queria.

📍 Casa do Eco – Guarulhos, 20:37 – 15°C ⛈️

Clara ficou no carro e eu subi com o Eco até o apartamento dele. Nós subimos e ele me entregou a chave e, quando destranquei a porta, vi a Aylla deitada no sofá, mexendo no celular.

— Ótimo - Ela diz ao nos ver.
— Começa não - Digo - Vai, irmão.
— Já chegamo? - Eco pergunta e eu ri.
— Já - Entrego a chave do carro dele - Toma um banho e vai dormir, fraco do caralho.
— Vai se foder - Fala e nós rimos - Cadê a Clara?
— Puta que pariu - Ri mais - Tá no carro, vai deitar mano.

Eco fez que sim com a cabeça e seguiu caminhando devagar pelo apartamento em direção ao quarto dele.

— O que ele tem? - Aylla se aproxima.
— Tomou um bagulho e não bateu bem - Digo seco - Fica de olho pra ele não dormir do nada e cair.
— É forte assim?
— Aham. Tchau.
— Espera - Segura no meu pulso - Obrigada por trazer ele.
— É meu amigo, não ia deixar ele lá.
— Eu sei, mas ...
— O que você quer, Aylla?
— Eu ... Eu estive pensando, conversei com a Clara e acho que agi mal com você - Diz e eu me surpreendo - Fui muito estúpida e eu queria te pedir desculpa.
— Ah ... Tá ... Tá bom.
— E se você quiser, a gente pode recomeçar e tal, talvez até viremos amigos.
— Isso aí a gente vai vendo. Eu preciso ir, a Clara tá lá embaixo sozinha.
— Ela tá?
— Sim, tô levando ela pra casa.
— Ah - Diz meio desconfortável - Vocês tão bem próximos, né?
— Estamos.
— E vocês já ficaram?
— Bem menos Aylla, nós não somos amigos. Não te devo satisfação de nada.
— Mas ...
— Se quiser saber, pergunta pra Clara. Vocês sim são amigas.
Eu acho que ela não me contaria.
— E você? Se a gente tivesse ficado, contaria pra ela?
— Não.
— E porque? - A encaro

Eu já sabia a resposta. Ela com certeza sabia dos sentimentos da Clara por mim e aquilo me irritava. Elas eram amigas e quando a Aylla notou que alguma coisa poderia acontecer entre a Clara e eu, ela quis se aproximar de mim para impedir isso. Tarde demais.

— Olha, Aylla, eu preciso mesmo ir - Digo - Fica de olho no seu irmão porque ...

Ela não me deixalou terminar a frase e num gesto inesperado choca o corpo dela contra o meu e cola nossas bocas num selinho.
Demorei alguns segundos pra assimilar, mas eu entendi o que ela queria com aquilo, então me afastei rapidamente.

— Não faz mais isso - Digo irritado.
— Mas ...
— Você é uma péssima amiga pra Clara - Digo e ela me olha espantada.
— Você não pode contar isso pra ela. Ela tá confusa e ...
Ela não tá confusa, ela sabe muito bem o que sente, mas tá com medo, por sua causa, porque se preocupa com a sua amizade.
— Eu ...
— Foda-se.

Virei as costas e segui rapidamente em direção ao elevador, não demorando já estava de volta ao térreo e então corri na direção do meu carro já que ainda estava chovendo. Entrei rapidamente e isso fez com que a Clara se assustasse, já que ela estava concentrada no livro.

— Leonardo do céu - Coloca a mão no peito.
— Foi mal - Digo rindo - Porque cê tá aí ainda? Não vai passar pra frente?
— Aqui tá tão confortável - Diz se esparramando ainda mais sobre o banco.
— Confortável quanto? - Digo com certa malícia.
— Muito confortável - Reafirma e então me olha - Sem noção.
— Só perguntei ué - Digo rindo e ela ri também.
— Peraí, vou passar pra frente.
— Não precisa descer, vem por aqui - Digo.
— Vou pisar no banco.
— Não tem problema.
— Se você tá dizendo ...

Ela pegou o livro e o celular e então se colocou entre os bancos. Observei atentamente enquanto ela passava e depois que se ajeitou no banco da frente, colocou o cinto e aí sim eu dei partida no carro, seguindo em direção ao acesso da rodovia.

[ ... ]

𝙘𝙤𝙡𝙖𝙥𝙨𝙤 🌪️ • leozin mcOnde histórias criam vida. Descubra agora