𝙘𝙤𝙡𝙖𝙥𝙨𝙤 🌪️ • leozin mc

a abelha e a flor de plástico

𝐿𝑒𝑜𝑛𝑎𝑟𝑑𝑜.
📍 Em casa – Cotia, 22:37 – 22°C 🌑

Nós voltamos para o estúdio continuamos o processo de criação do beat. Eu sabia que a Clara estava um pouco nervosa, era a primeira vez dela criando um beat do zero e eu precisava ajudar ela e apoiar, porque tava realmente ficando bom e ela não conseguia ver.

— Eu acho melhor você fazer isso com o Paulo - Diz.
— Clara, tá dando tudo certo mano, relaxa - Falo olhando pro computador.
— Mas não tá ficando tá ficando igual aos do Paulo - Me olha.
— Não, tá melhor - Dou um selinho e então seguro seu queixo a fazendo olhar pro computador de novo.
— Mas Léo ...
— Quer um doce? Acho que tem chocolate e finni - Digo me levantando.
— Achei que era droga - Fala e nós rimos.
— Tem também, cê quer?
— Agora não, mas quero o chocolate. Acho que vai me deixar mais calma.
— Vou lá buscar pra gente, quer alguma outra coisa?
— Um pouco de água, por favor.
— Por favor - Repito empurrando o dedo na covinha dela.
— Sai idiota - Tira minha mão.
— Sai idiota - Repito o gesto dando risada enquanto ela empurra minha mão - Você que me quis, tem que me aguentar do jeito que eu sou.
— Quem tá reclamando? Eu não vi, quer colocar o dedo na minha covinha? Pode colocar - Fala e eu ri alto.
— Vou colocar mesmo ... em você - Digo maliciosamente e ela ri negando com a cabeça.

O celular dela vibrou indicando uma mensagem e enquanto ela voltou a atenção pra ele, eu saí do estúdio e atravessei o quintal até a cozinha. Peguei uma sacola e saí procurando bobeiras nos armários e na geladeira pra levar de volta. Peguei uma garrafa com a água e outra de refrigerante e então voltei até o estúdio.

— Na moral - Digo me aproximando - Trouxe tudo que eu vi pela frente. Dá pra gente ficar aqui uma semana que não vamo passar ... fome. Clara, o que foi?

Ela estava encarando o nada e seus olhos estavam marejados, mas nenhuma lágrima tinha escorrido. Deixei as coisas na mesa e então me abaixei pra ficar da altura dela.
Passei o dedo no seu rosto assim que uma lágrima caiu e nesse momento eu senti uma puta agonia.
Antes que eu perguntasse de novo, ela desbloqueou o celular e me entregou numa conversa de WhatsApp aberta.

Ayllita 🤞🏻💓

amiga?

oiiiii 💓

não quero que você
fique chateada comigo
tudo o que eu te falo
é pelo seu bem, cê sabe, né?

sei amiga
o que foi?

eu tava mexendo no facebook
e vi uma frase que me fez refletir

ué kkk
que frase?

"Uma vez eu vi uma abelha
procurando pólen numa flor
de plástico.
É mais ou menos isso que
acontece quando uma pessoa
está apaixonada e a outra não"
amiga, não tô falando pro seu mal
mas você tá se metendo numa puta furada
ele não gosta de você amiga, ele não gosta
de ninguém a não ser ele mesmo
eu sei como você é frágil e como vai ficar
quando essa brincadeira toda acabar
e eu não quero isso, não quero te ver mal
eu juro que não é por nada além disso
não tem nada a ver com o que nós
conversamos aquele dia. O que eu SENTIA
por ele era só porque eu achava charmoso
o jeito todo sério dele. Mas agora que eu sei
que você tá mesmo gostando dele, eu preciso
te alertar. Eu só quero o seu bem amiga
Ele não vai gostar de você como você gosta dele
Ele não vai retribuir o sentimento e se ele tá te
falando que gosta de você também, é mentira

Clara não tinha respondido nada e também provavelmente não saberia o que responder. Eu não entendia se ela estava chateada pelo que a Aylla tinha dito ou se ela realmente tava acreditando naquilo.
Eu não queria que ela pensasse isso. Ler aquela mensagem me fez pensar em todas às vezes em que eu disse ou pensei que não poderia sentir nada por ela. Eu estava errado. Eu poderia sim sentir e agora mais do que nunca eu queria sentir tanto quanto ela, porque precisava demonstrar isso pra ela ver que nada daquilo era real.

— Clara ...
— Se ela é mesmo minha amiga, porque é que fala essas coisas pra mim? - Pergunta com a voz falha.
— Porque ela é uma cuzona do caralho - Deixo o celular de lado - Não chora véi, por favor.
— Não vou conseguir segurar mais - Faz bico e vejo o queixo dela tremer levemente.
— Ô mano, vem aqui, vem.

Fico em pé novamente e a puxo pra cima, a abraçando em seguida. A apertei firme e ficamos assim por alguns segundos, mas quando eu pensei que ela estava se acalmando, ela deu um soluço leve e logo outro e o choro se intensificou.

— Clara, não chora mano - Faço carinho nas costas dela - Eu disse pro seu pai que não ia te fazer chorar véi, por favor - Digo e ela ri em meio ao choro - É sério. Não foi minha culpa essa maluca ter dito isso, mas se tem meu nome no meio, tem a ver comigo.
— Eu sei que disse que ela não faz por mal - Fala manhosa - Mas isso foi muita maldade.
— Foi mesmo, mas isso é quem ela é e você não pode ficar mal por isso - A afasto pra olhar pra ela - Eu juro que tô tentando, você acredita em mim?
— Acredito - Diz tentando parar de chorar.
— Então ela que se foda. Ela não tem nada a ver com isso, ela não sabe o que tá acontecendo entre a gente.
— E se não acontecer? E se você não conseguir sentir a mesma coisa que eu? Eu disse que poderia lidar, mas eu acho que não vou conseguir.
— Cê não pode me falar isso assim do nada. Você disse que podia lidar com isso, Clara.
— Tá, mas talvez eu não possa - Se afasta mais - Você não tá sentindo nada?
— Eu tô tentando. Eu quero sentir, talvez eu sinta, mas eu não consigo dizer e eu não tenho certeza.
— Talvez porque você não vai sentir - Diz como se fosse mais pra ela do que pra mim.
— Do que cê tá falando?
— Esse tipo de coisa não funciona assim. Não é pressionar que acontece - Passa a mão no rosto pra secar - Eu pensei que se talvez a gente tentasse, poderia dar certo, mas não é assim. Não é tentar, tem que acontecer sozinho ... Se for pra acontecer.
— Clara, que que cê quer dizer com isso? Cê não quer mais?
— Eu quero, mas ...
— Não, sem mas - Me aproximo novamente - Eu não tô sentindo exatamente a mesma coisa que você, mas eu sei que tem alguma coisa. Eu gosto da gente junto, gosto de ficar com você. Cê me deixa mais feliz.
— Mas isso não é suficiente.
— Pra uma pessoa que não tinha mais felicidade nenhuma, é muito - Digo e ela me olha surpresa - Quer saber uma coisa?
— Eu ...
— Não, eu quero te falar. Por favor, me deixa falar.

[ ... ]