vocês não funcionam separados

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𝐿𝑒𝑜𝑛𝑎𝑟𝑑𝑜.
📍 Casa da Clara – Osasco, 14:47 – 18°C ⛈️

Acordei com uma dor de cabeça insuportável, o que julguei ser por conta de toda a bebida da noite anterior. Olhei pro lado e a Clara dormia toda encolhida, agarrada a um travesseiro e parecia que ela tinha levantado pra tomar banho e dormido de novo.
Nós chegamos na casa dela quase lá pelas seis da manhã e acabei dormindo ali. Nós tomamos banho e fomos dormir, parecia estar tudo bem, mas não tínhamos conversado sobre o que ia acontecer dali pra frente. Será que eu tava me precipitando demais? Às vezes, pra ela não tinha significado nada além de uma transa, mas eu não queria que fosse só isso. Meu Deus, eu tava mesmo pensando nessas coisas?

— Que foi? - Ela pergunta baixinho e só então vejo que tinha acordado.
— Nada não - Me ajeito, apoiando meu corpo sob meu braço - Cê saiu depois que eu dormi?
— Não, só tomei outro banho lá pra meio-dia, mas vim deitar de novo. Desceu pra mim e eu tô com muita cólica.
— Cê não tá com uma cara muito boa não, tem certeza que é só isso?
— Uhum - Força um sorriso - No primeiro dia dói muito, mas depois passa.
— Tem remédio pra isso, não tem?
— Tem, eu já tomei - Senta devagar - Relaxa, é só cólica.
— É que cê já teve isso, mas eu nunca tinha visto ficar tão mal assim. Tô preocupado - Falo sincero.
— É por causa da chuva que eu tomei quando a gente desceu do carro pra entrar em casa - Explica - É normal. Até o fim do dia eu já tô melhor.
— Se você tá dizendo - Digo e ela faz que sim com a cabeça - Eu acho que já vou então. É melhor, né?
— Você que sabe - Diz - Se precisa ir, tudo bem. Mas se quiser ficar ... Enfim.
— Eu quero, é só que eu ainda tô meio confuso, sei lá. Não quero que a gente fique assim pra acabar brigando depois e ...
— A gente só vai brigar se você quiser. Sério, por mim, tá tudo bem.
— Mas e a gente?
— O que tem?
— Deixa pra lá - Me levanto - Vou ficar. Até depois do almoço. Ou até você melhorar, sei lá.
— Tá, tá bom. Vamo pedir comida?
— Aham, escolhe aí o que cê quiser, vou escovar os dentes e já venho.
— Tá bom.

𝐶𝑙𝑎𝑟𝑎.

Eu estava confusa e sabia que ele também estava. Eu não tinha uma resposta pra tudo o que rolou. Não sabia se a gente tinha voltado, se foi só uma "recaída" ou se aquilo se tornaria algo frequente. Não tinha certeza de nada, a não ser de que eu não tinha mesmo esquecido dele. Mesmo que eu quisesse, não era tão fácil e depois do que rolou, eu só tinha mais certeza que ia ser complicado.
Por mais que ele tivesse vacilado, eu não conseguia sentir raiva dele, meu coração não me permitia. Eu sempre fui a boazinha, a trouxa e otária que perdoa todo mundo e por um tempo eu achava que ser assim era algo ruim, mas eu também não conseguia mudar e talvez não quisesse.
Não é como se eu tivesse esquecido tudo o que aconteceu, mas eu também não via necessidade em ficar com raiva dele. Leonardo era importante pra mim e eu sabia que também era pra ele. Do mesmo jeito que eu precisava dele, ele precisava de mim e arriscaria dizer que ele precisava até mais.
O fato é, eu não sabia o que ia acontecer depois, mas enquanto eu observava ele se encarando no espelho do banheiro enquanto escova os dentes, o que viria depois não era tão importante assim.

— Tava pensando - Ele diz quando acaba - Seu aniversário também tá chegando, né?
— Aham - Me levanto - Falta umas semanas, mas sim.
— E o que cê vai fazer?
— Nada - Dou de ombros.
— Como nada? É seu aniversário mano - Me encara.
— Ah Léo, gosto de comemorar com os meus pais, mas na semana do meu aniversário eles vão estar viajando, então ... Vou só me deixar comer tudo o que eu quiser sem culpa.
— Como se você tivesse esse problema com a sua consciência - Diz e nós rimos - Já escolheu a comida?

•••

Depois que comemos, deitei no sofá pra procurar um filme enquanto brincava um pouco com o Little Joe e me surpreendi ao ver o Léo lavando a louça, mas não disse nada. Ele estava todo atencioso e preocupado, o que chegava a ser engraçado, já que era só uma cólica, mas se ele queria fazer tudo pra mim, eu não ia recusar.

— Cê pode atender pra mim? - Diz quando o celular começa a tocar.
— Aham - Estico o braço e pego o telefone na mesinha de centro - É o Vino. Ele vai zoar.
— Com certeza ele vai - Rimos - Mas pode atender.
— Tá ... Alô - Digo ao atender.
— Quem é? - Pergunta confuso.
— A Clara.
— Oxi - Vino fala - Tô chapado, fui ligar pro Léo e liguei pra você. Foi mal.
— Ligou certo paizinho - Falo rindo.
— Não tô ouvindo isso não - Ri - Cêis não tem jeito, meu Deus. Mas tava na hora de voltar mesmo, vocês não funcionam separados.
— A gente não ... Que que tu quer, hein?
— Ô grossinha - Ri - Fala pro Léo que eu mandei minha parte da música no WhatsApp dele, pra ver se ele se inspira um pouco.
— Ah ... Tá, vou falar.
— Então tá, juízo, viu minha filha?
— Pode deixar, papai - Rimos.
— É nóis, com Deus aí.
— Amém, tchau.

Encerrei a chamada e deixei o celular no sofá, então fui até a geladeira em busca de algum doce ou qualquer bobeira pra comer.

— O que ele disse? - Pergunta.
— Que te mandou a parte dele da música, pra ver se você se inspira - Fecho a geladeira - Tá sem inspiração, é?
— Não é que eu tô sem inspiração - Continua com a atenção voltada pra louça - É que eu não queria falar nada triste ou essas paradas que falei nas outras músicas, aí não tava saindo nada.
— E é mais uma pra mixtape? - Encosto no balcão ao lado.
— Se eu conseguir fazer alguma coisa, sim - Diz e nós rimos - Quer ver o que tem até agora?
— Pode ser.
— Pega meu celular lá

Fui rapidamente até a sala e peguei o celular. Digitei os números antigos que eram a senha dele e quando o celular foi desbloqueado me aproximei dele.

— Abre o WhatsApp aí, tá naquele grupo só comigo - Fala sem importância.
— Posso abrir seu WhatsApp mesmo?
— Se eu tô falando pra abrir - Me olha e parece entender o que eu quis dizer - Não tem nada aí além de coisa de trabalho. Você me conhece.
— É só que às vezes pode ter algo ...
— Clara, eu não tô falando com ninguém. É a última coisa que passa na minha cabeça - Sorri - Bem, era a última coisa até essa noite, né?
— Tô ficando com calor - Falo e ele ri - Deixa eu ver.

Abri o aplicativo e fui direto no grupo do qual ele se referiu. Ouvi o beat que estava logo acima e reconheci de imediato. Era um beat que eu tinha produzido. Paulo provavelmente mandou alguns e o Léo acabou escolhendo aquele, o que de certa forma foi bom de saber. Li o que ele tinha escrito e não demorei a entender o porquê de não estar fluindo.

— Sei o que tá acontecendo - Falo quando termino de ler.
— O que? - Me olha.
— Você não é assim. Não escreve suas letras. Cê só senta lá, canta e pronto. Tá feito - Falo.
— É, mas eu não sei. O beat é foda, eu quero ele, mas minha mente fica travada. Achei que se fosse escrevendo aos poucos, podia dar certo.
— Eu acho que não vai - Digo sincera - Isso não tá muito parecido com o que você faz. Quero dizer, até tá, mas não tem bem muito de você aqui. Entende?
— Entendi totalmente - Ri - Eu não sei o que seria de mim e dessa mixtape sem você.
— Você não tinha feito nem a metade do que fez - Falo e nós rimos.
— É, não mesmo.

Nós nos encaramos por alguns segundos e senti meu corpo esquentar. Ele fechou a torneira e rapidamente me puxou pela cintura, me beijando. Suas mãos estavam geladas por causa da água e aquilo estava me deixando arrepiada. Apertei seus ombros com as mãos assim como ele apertava minha cintura.

— Léo ... Para - Digo com as nossas bocas coladas.
— O que foi? - Me olha - Cê já se arrependeu de ... Nós?
— Não, idiota - Ri - É que eu sei onde isso vai parar e eu tô ... Menstruada.
— Ah, é mesmo - Ri - Tá, tá bom - Me dá um selinho - Cê me ajuda com a música?
— Óbvio que sim - Sorrio.

[ ... ]

𝙘𝙤𝙡𝙖𝙥𝙨𝙤 🌪️ • leozin mcOnde histórias criam vida. Descubra agora