eu já te chamei de baby, mas ...

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𝐶𝑙𝑎𝑟𝑎.
📍 Asfalto Rec – Guarulhos, 07:44 – 20°C 🌥️

Cheguei na gravadora e logo vi o carro do Paulo e do Leonardo ali, indicando que eles provavelmente teriam virado a madrugada produzindo.
Entrei e fui direto ligar meu computador, então guardei minha mochila e caminhei devagar em direção ao estúdio. A luz de gravação estava acesa, então apertei o botão do lado de fora e a porta foi aberta então entrei em silêncio porque o Leonardo estava gravando voz.

— ... Não sei se me sinto bem, tenho pensando na gente. Não sei se entende minha wave, mas sei que é a última vez. Eu já te chamei de baby mas não quero mais te ver na minha frente.

Ele estava de costas pra mim, mas com certeza sabia que eu estava ali porque quando apertamos o botão do lado de fora, uma luz ascende no painel e o Paulo tinha liberado a minha entrada.
Se tinha alguma coisa a ver comigo eu não podia afirmar, mas que doeu, doeu. E muito.
Fechei os olhos por alguns segundos e respirei fundo pra tentar segurar o choro. Ele ainda estava cantando, mas eu já não conseguia prestar atenção na letra, sabia que se ouvisse mais alguma coisa desse tipo, ia chorar mesmo.
Me aproximei do Paulo, que estava em frente ao computador e então senti o olhar do Leonardo sob mim, mas não olhei de volta.

— Só pra avisar que eu cheguei - Digo baixo, me abaixando pra ficar da altura do Paulo, que estava sentado.
— Beleza, cê vai lá na padaria pra nóis, antes de abrir lá na frente?
— Vou, quer o que?
— Tudo e mais um pouco - Diz me fazendo rir.

Ele pegou a carteira e enquanto procurava, voltei a ficar em pé e no meio segundo em que olhei pro Leonardo, vi ele me encarando. Tentei forçar um sorriso, mas eu não conseguia. Ele sorriu pra mim, um sorriso um pouco triste na real, então eu só assenti com a cabeça.
Paulo me entregou o cartão e eu saí rapidamente de dentro do estúdio.
Segui em direção a padaria e comprei as mesmas coisas de sempre, mas numa quantidade maior porque eu sabia que o JayA ia chegar logo e provavelmente com fome, já que era uma viagem longa. Paguei por tudo e então voltei pra gravadora.
Quando estava chegando lá, vi um rapaz parado com algo na mão que, mais perto ainda, notei que era um buquê lindo de girassóis.

— Oi, bom dia - Falo com ele.
— Bom dia - Sorri - Eu vim fazer uma entrega, mas ninguém me atendeu.
— Vou abrir agora - Balanço a chave e nós rimos - É pra quem?
— Ãn ... - Olha a nota - Pra Clara.
— Pra mim? - Me surpreendo.
— Se você for a Clara, sim - Diz e eu acabo rindo mais.
— É, eu sou a Clara - Digo abrindo a porta e logo vejo Paulo e Leonardo encostados no balcão nos observando.
— Então são pra você - Me entrega.
— Tem cartão?
— Tá no meio - Sorri - Bom dia, Clara.
— Bom dia ... Lucas - Digo lendo o nome dele na camiseta - E obrigada.
— De nada - Sorri simpático.

Ele se afastou indo em direção ao carro e então eu entrei e fechei a porta com o pé, enquanto Paulo se aproximou e pegou as sacolas da minha mão.

— Um buquê, Clarita? - Pergunta rindo.
— Pois é - Sorrio - Não é lindo?
— É - Ri - De quem é?
— Não faço idéia, mas tem cartão - Digo passando pelo Leonardo e então vou pro lado de dentro do balcão - O que cêis tão fazendo aqui?
— A gente precisa da senha do bdm - Paulo fala - Eu nunca consigo tirar sozinho.
— Isso porque você mexe com isso faz só trezentos anos - Digo e nós rimos.

Deixei o buquê em cima do balcão e fui acessar o banco de dados pra passar as senhas pra eles. Paulo simplesmente saiu com as sacolas, provavelmente indo até a cozinha e deixou nós dois ali sozinhos.
Evitei qualquer contato visual com ele, aquela música não saía da minha cabeça. Ele sempre disse que cantava o que sentia, então se aquilo era o que ele tava sentindo no momento, era melhor evitar.
Encarei o buquê e vi a ponta do cartão, então o peguei, mas não abri, não queria fazer isso na frente dele.
O sistema começou a carregar e demorava algum tempinho até que emitisse a senha, já que era um banco de dados extremamente seguro onde eles armazenagem as músicas prontas e onde as registravam, como sendo deles e todas as informações que precisavam ter, principalmente sobre os direitos autorais.
Comecei a ficar desconfortável. Eu sentia o olhar dele sobre mim e ao mesmo tempo eu estava curiosa pra ler o cartão, então algo passou na minha cabeça. Teria o Léo me mandado esse buquê e estava esperando que eu abrisse o cartão porque tinha algo importante ali? Eu tava me iludindo demais, não era dele. Aquilo não era o tipo de coisa que ele faria e além do mais, ele quem terminou, não tinha porque me mandar flores.

— Cê que me mandou isso? - Pergunto involuntariamente, meu Deus, porque eu sou assim?
— Eu? Não.
— Ah, ok.
— Cê não vai abrir o cartão?
— Agora não - Volto a olhar pro computador, mas então olho pra ele de novo - Será que tem o nome de quem mandou?
— Cê só vai saber de abrir - Ri.
— Tô curiosa - Confesso.
— Óbvio que tá - Ri mais e eu acabo rindo também - Abre logo.
— Meu Deus, que seja da minha vó da Genóvia dizendo que eu sou uma princesa e preciso assumir o trono - Falo abrindo o cartão e ele ri alto.

Tirei o papel do envelope e corri os olhos pela frase, que me fez sorrir largamente e melhorou um pouco do aperto que eu tinha no coração.

"Não mude por ninguém. Se achar que deve, que seja pela pessoa mais importante da sua vida: Você.
Você é muito mais que tudo isso."

— E aí? - Ele pergunta.
— Não tem nome, letra ... Nada. Só uma frase.
— Posso ver? - Estende a mão.
— Aham - Entrego pra ele.

Ele lê e atentamente e então arqueia uma das sobrancelhas, tendo uma leve expressão de surpresa no rosto, o que me fez entender que não tinha sido mesmo ele quem tinha mandado aquilo pra mim ou então ele era um bom ator.

— Cê falou sobre ... A gente pra alguém? - Me devolve o cartão.
— Que a gente tava junto ou que cê terminou comigo? - Pergunto naturalmente e ele suspira fundo.
— Que a gente não tá mais junto.
— Só pro Paulo e pra Aylla, porque?
— Parece que é de alguém querendo te dizer que vai ficar tudo bem.
— Então deve ser da Aylla, ela tava preocupada comigo - Guardo o cartão por entre o buquê novamente.
Claro que tava - Diz irônico.
— Mas não importa, o que vale é que me deixou feliz depois dessa merda que ... - Me calo.
— Termina de falar.
— Não ia falar nada - Me ajeito na cadeira.
— Não era pra você ter ouvido a música.
— Eu ia ouvir de qualquer jeito, você sabe - Volto a olhar pro computador.
— Eu só ...
— Você só canta o que sente, eu sei. Não se preocupa, eu já entendi.
— Mas ...
— Só não tem como eu não aparecer na sua frente, porque eu ainda trabalho aqui, então ...
— Eu não quis dizer no sentido literal.
— Mas foi o que pareceu - Volto a olhar pra ele - Quer anotar as senhas ou você decora?
— Clara ...
— As senhas são ...

Ele suspirou fundo e tirou o celular do bolso, então falei a senha referente a cada arquivo e ele as anotou.

— Valeu - Diz seco enquanto saí sem me dar chance de responder
— Por nada - Falo simpática num tom mais alto.

[ ... ]

6/10.

É pra superar e ele faz outra música falando dela 🤡

𝙘𝙤𝙡𝙖𝙥𝙨𝙤 🌪️ • leozin mcOnde histórias criam vida. Descubra agora