Capítulo 17

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Wen Ning enxugou-se, vestiu às pressas apenas as peças necessárias para ocultar as partes mais críticas de seu corpo e correu até a cozinha pra checar se Bai Renshu estava bem. Ele visualizou o cultivador de costas, fatiando as hortaliças em aparente tranquilidade, então decidiu recuar sorrateiramente de volta para o quarto de banho.
"Ele não parecia bem e eu ainda o enchi de perguntas" – pensou Wen Ning, tristemente arrependido – "Renshu não gosta de se abrir, ele não confia nas pessoas... Mas na minha ânsia em querer ajudá-lo, eu acabei pressionando-o demais e cometi o mesmo erro de ontem".
Wen Ning soltou um suspiro desolado e continuou pensando: "Quero me desculpar, mas acho que ainda não é uma boa hora. Eu também queria muito a companhia dele, mas no momento, acho que tudo o que ele mais precisa é de um tempo sozinho pra poder se acalmar".
Wen Ning vestiu o restante de seu traje, calçou os seus sapatos, dobrou suas roupas sujas e, lembrando-se da carta que queimara, apressou-se para limpar os sutis resquícios da prova de seu crime. O General novamente sentiu-se culpado e travou uma batalha interior ponderando se deveria ou não mencionar a carta, mas acabou, mais uma vez, convencendo-se de que só estava fazendo aquilo pelo bem do rapaz.
Wen Ning também ponderou que, vestido com essas roupas caras, talvez ele pudesse parecer um pouco refinado como o rapaz da carta, mas que para chegar próximo a isso, ainda era necessário, no mínimo, se pentear. Após encontrar um pente em uma gaveta abarrotada de belíssimas jóias, o General penteou seus cabelos sentindo-se amargurado ao imaginar como todas aquelas peças caríssimas foram adquiridas.
"Não, Wen Ning, isso não incomoda você. Nada do que existe aí dentro pode minimamente afetar a sua pessoa" – ele tentou se convencer, mas quando voltou a guardar o objeto no lugar, ele virou o seu rosto evitando, a todo custo, olhar para as jóias.
Agora arrumado, o General mirou-se no espelho e sentiu-se desanimado. Além de não se considerar uma pessoa elegante – mesmo dentro daquelas roupas caras –, ele concluiu que as cicatrizes negras em seu pescoço seriam capazes de estragar qualquer que fosse o seu visual.
"Cubra essas marcas feias de nascença" – ele lembrou da formosa senhora dizer, e entristeceu-se ao perceber que jamais seria bonito o suficiente.
"Espera! Bonito o suficiente pra quê?!" - ele se questionou, sacudindo a sua cabeça para afastar da mente aqueles pensamentos tolos. E mesmo assim, ele manteve os cabelos soltos para ocultar o máximo possível as suas cicatrizes.

Tentando ocupar a mente e o corpo, Wen Ning usou um balde que encontrou para esvaziar toda a água da banheira e descartou os pedaços da cadeira quebrada para que Renshu não se machucasse mais tarde. Ele sentou-se no peitoril da janela sacudindo ansiosamente as suas pernas e esperou até que a refeição ficasse pronta e Bai Renshu o chamasse.

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"Quero vê-lo. Quero muito vê-lo. Quero muito-muito-muito vê-lo. Por que será que ele ainda não veio? Ah, droga! Por que eu tenho que ser tarado desse jeito?! Não consigo parar de imaginar que ele deve estar irresistível, todo bonitão e cheiroso dentro daquelas roupas novas" - pensou Bai Renshu, dando um suspiro inconformado enquanto remexia com a colher a mistura deplorável e grudenta que havia dentro da panela.

Bai Renshu arrumou os pratos, hashis e copos sobre a mesa da cozinha enquanto a refeição terminava de cozinhar. Ele também havia pegado um jarro de vinho, mas tornou a guardá-lo prevenindo-se de que isso poderia não ser algo bom para Wen Ning, portanto, em vez disso, ele preparou um bule de chá e o colocou sobre a mesa.
"A-Ning estava faminto e também deve ter se sentido agoniado pela forma pela estranha com que eu acabei indo embora, por isso é provável que tenha bebido mais do que deveria. Mesmo assim, não tenho como afirmar se ele apenas exagerou ou se é fraco para a bebida. E se eu perguntar, ele pode pensar que estou preocupado com ele – o que não é verdade! - então acho melhor evitar servir-lhe álcool" – pensou o cultivador.

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