Capítulo 31

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Wen Ning escutou os gritos ao longe, mas desta vez, com a tocha em mãos, as criaturas não ousaram incomodá-lo. Quando transpassou a casa em ruínas e não encontrou o ponto iluminado, sentiu grande aperto no peito, embora não tivesse nenhuma ilusão de que iria encontrá-lo.
Sem aquele chamariz para guiá-lo na escuridão e com diversas árvores parecidas para confundi-lo, o General sentiu dificuldade em encontrar a correta direção para aquele local longínquo, mas quando conseguiu aproximar-se ao acaso, os relinchos abafados de Shu felizmente facilitaram sua localização.

"Agora compreendo porque nessa casa há esse tipo de construção. O pai do Renshu devia guardar carruagens e cavalos aqui, quando chegava de viagem" - pensou o Wen, enquanto abria a porta do estábulo.

Wen Ning primeiro alimentou seu cavalo e lhe deu um pouco de atenção, depois acendeu velas em todos os cômodos da casa porque tinha a certeza de que era o que Renshu lhe pediria que fizesse, se ele ainda estivesse vivo.

O General não queria comer, mas forçou-se a engolir mais duas frutas porque sabia que este também seria o desejo de Bai Renshu. Logo após, ele prestou 3 reverências diante da placa memorial de seu amado, acendeu alguns incensos que havia encontrado, conversou com ele sobre suas descobertas, lhe confessou que adoraria tê-lo visto com seus cabelos de ouro branco e lhe prometeu que, em breve, também faria uma placa memorial para Bai Meiling e que posteriormente faria outras para seus avós, assim que descobrisse seus nomes.

Wen Ning tentou dormir, mas não conseguiu. O pensamento de que tudo poderia ter sido muito diferente se seus destinos tivessem se cruzado mais cedo, era algo que o assombrava. Para afastar sua da mente a ideia fixa sobre algo que infelizmente não poderia ser mudado, Wen Ning levantou-se e tentou se manter ocupado.
Ele levou todas as madeiras estraçalhadas para fora, fez uma grande fogueira, tomou um banho de balde e, após recolocar o cordão com a bolsinha que continha a mecha de cabelo de Bai Renshu, ele vestiu provisoriamente uma das apertadas e muito longas roupas que pertenceram ao seu amado.
Estar sozinho naquela casa era algo que deixava o coração do General dilacerado, mas o cheiro que ele tanto adorava e que também impregnado naquelas vestes, lhe trouxeram algum reconforto.

Wen Ning lavou as suas roupas – as velhas e novas –, e as pendurou relativamente próximas do fogo para que pudessem secar mais rapido. Depois, retornou para dentro da casa e passou a separar e empilhar todos os objetos que ainda estavam espalhados pelo chão.
O trabalho monótono finalmente fizera com que seus olhos pesassem. Wen Ning, então, aninhou-se numa pilha de roupas de Renshu e, deixando escapar uma lágrima, abraçou algumas delas e dormiu ali mesmo, no chão.

De repente, Wen Ning acordou com a sensação de que estava sendo observado. Pouco depois dele ter se erguido sentado, Wen Ning ouviu as portas da frente se deslizarem com cuidado e sentiu o seu coração disparar-se.
— Renshu??? - ele disse, enquanto corria eufórico, mas quando chegou ao hall de entrada, ficou ainda mais surpreso com a pessoa que encontrou em seu lugar.

— Tio Ning, sinto muito por decepcioná-lo, mas sou eu. Então esse era o nome da pessoa que o senhor amava? "Bai Renshu?" - disse Lan Sizhui, enquanto fechava a porta atrás de si.

— Sim, era esse... - respondeu o Wen, dando um suspiro desolado.
O General tocou o ombro de Lan Sizhui e o olhou nos olhos com firmeza. Embora seu sorriso fosse triste, ele encarou o rapaz de modo muito confiante, e lhe disse:
— Só que encontrar você, jamais seria uma decepção, A-Yuan. Te conheço desde pequenino e tenho grande estima por você. Eu só achei muito improvável encontrar você nesta casa... E aliás, me diga: Como e por que você veio parar aqui?

— Tio Ning, vamos nos sentar primeiro. Eu preciso muito lhe contar uma coisa, mas eu quero que o senhor entenda que isso não significa necessariamente que o destino tenha mudado. Portanto eu peço que o senhor não se desespere e não saia correndo sem rumo, tomando decisões precipitadas.

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