O Legado da Carne

Cap. 109 - A volúpia de um general - parte I

Bai Renshu acompanhou a mulher e a criança até a saída e despediu-se com um beijo na testa de ambas. Ao saírem, ergueu as portas danificadas e, utilizando-se de algumas gambiarras, tornou a equilibrá-las sobre as esquadrias, ao mesmo tempo que dizia:

— No passado, perdi para encantadora criatura o meu título de Divindade Reluzente. No presente, percebo que estou perdendo para a mesma figura o meu título de Magnífico Ator. Agora penso: o que tal elemento me usurpará no futuro? Será que meu título de "melhor pai do muuundo toooodo" também está com seus dias contados?

Ciente de que de nada adiantaria persistir naquela farsa, Wen Ning abriu seus olhos e assumiu uma carranca. Ao sentar-se, livrou-se das toalhas umedecidas, as lançou de volta à bacia e resmungou:

— Não achei que tivesse ouvido a criança...

Ao terminar de fechar a passagem, Bai Renshu voltou-se para Wen Ning com um meio sorriso e respondeu:

— Eu não a ouvi, de fato. Apenas me dei conta de que você havia recobrado a consciência quando passei a receptar sentimentos conflitantes entre a frustração e a ternura.

Com sisuda fisionomia, Wen Ning desviou seu olhar para o lado e permaneceu calado. Bai Renshu então ajoelhou-se diante da cama onde ele estava sentado, segurou as mãos dele e suplicou:

— Meu venerado, você não pode reconsiderar? Se conhecê-las melhor, tenho certeza de que poderão se dar bem!

Ainda de rosto virado, Wen Ning desvencilhou-se das mãos dele e obstinadamente respondeu:

— Não. Eu já expus a minha opinião e a mantenho. E se você não desistir desta história, temo que não seja possível recuperar a nossa amizade também.

Não menos determinado, Bai Renshu reergueu-se e escolheu se sentar do mesmo lado para o qual o rosto de Wen Ning estava voltado. Apesar da ameaça, ele suprimiu os próprios medos, buscou o olhar de seu amado e sinceramente declarou:

— Mas como eu poderia, vida minha? Se tê-los todos felizes em torno de uma mesa, é a maior alegria que eu poderia almejar!

Desviando seu olhar para o chão, o General comentou de maneira amargurada:

— Houve uma época, que para que você fosse feliz, bastaria a minha presença nesta mesa...

Após dar-lhe demorado beijo no ombro, Bai Renshu pousou a mão sobre a dele e acariciando-a, disse:

— Meu doce amor... no princípio e no final, assim foi e assim o será. Isto posto, então por que não amarmos quantas pessoas pudermos neste entremeio? Isto não lhe parece um grande desperdício?

Indignado em um nível em que sequer era capaz de externar, Wen Ning ergueu-se e vociferou:

— Desperdício é continuar tendo essa conversa absurda com você!

Feito isso, Wen Ning deu as costas para o cultivador e avançou, revoltado, em direção a saída.

Pálido como se sua alma o tivesse deixado, Bai Renshu correu até o General e o segurou pelo braço. Desesperado, ele implorou em sua voz trêmula:

— Ning, espera! Por favor, não se vá! Me xingue, me bata, mas pelos deuses, não saia desta casa! Suas mãos estão menos quentes, mas você ainda está um pouco febril. Você precisa...

Desvencilhando-se bruscamente, Wen Ning o cortou:

— Entrar na banheira. Foi para isso que vocês a encheram, não foi?

— Sim...

— E pra quê? Se você é tão bom quanto dizem, por que não me oferece um remédio para acabar, de uma vez por todas, com esta maldita febre?