Cap. 113 - O limite da amizade - parte I

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O sol emergiu gracioso e tímido, tingindo o insipido horizonte em nuances de laranja e dourado. Sua luz, suave e acolhedora, invadiu gradualmente o recinto, revelando um rosto adormecido e pacífico que seu insone companheiro silenciosamente admirava.

Erguendo sua mão trêmula e hesitante, o homem acordado lentamente tocou o rosto do outro, mas a expressão de asco que se formou naquele semblante o fez recuar.

"Perdoe-me", ele sussurrou se afastando, e sentindo-se indesejado e repulsivo, refletiu melancolicamente sobre qual era o seu lugar.

No entanto, para o seu divertimento e alívio, Wen Ning agitou suas mãos como se afastasse um inimigo invisível e começou a resmungar:

— Sai... Sai daqui, mosca!

Com um sorriso travesso, Bai Renshu tornou a cutucá-lo outras vezes, mas o desejo de cobrir de beijos aquela face zangada, fez seu coração se apertar. Sentia-se preso em uma teia de emoções conflitantes, dividido entre o anseio de expressar o amor que sentia, a imposição de serem apenas amigos e o medo constante de ultrapassar este tênue limiar.

"Preciso me conformar de que o perdi", Bai Renshu pensou cabisbaixo, e suspirando, uma mecha desgrenhada dos cabelos de Wen Ning, limitou-se a ajeitar.

Não obstante, sua ânsia em estreitar os dolorosos centímetros que os separavam, o consumia; minuto após minuto, novas desculpas para que suas mãos tocassem o ser amado, surgiam. E tal como um dependente diante do vício, Bai Renshu sentiu sua força de vontade se esvair até por fim se dissipar.

Momentos mais tarde, enquanto deliberadamente deslizava seus dedos por aqueles fios escuros e densos de uma forma muito carinhosa, uma dúvida angustiante o afligia: "Qual é o limite da amizade?", ele questionava-se. "Até que ponto seria aceitável encará-lo, tocá-lo, ou revelar o que sentia?"

De repente, como se o destino quisesse testá-lo, Wen Ning aconchegou-se ao corpo dele e o abraçou ternamente enquanto dormia.

Por consequência, o conturbado coração de Bai Renshu disparou, e afastando-se transtornado, o cultivador murmurou:

— Pelos Deuses! Desse jeito ele vai acabar nos matando antes mesmo de o nosso vigor vital acabar!

— O que disse? – perguntou Wen Ning, esfregando seus olhos enquanto ainda despertava.

A dois metros de distância, Bai Renshu ofegava com uma mão apoiada na parede e outra sobre o peito. Ao ouvir a voz dele, tornou virar-se na direção do leito e com um grande sorriso forçado, apressou-se em responder:

— Nada não, meu am... é... é... err... Ning.

Ainda bastante sonolento, Wen Ning posicionou uma das mãos diante da boca, deu um longo bocejo e sentou-se em posição de lótus sobre a cama.

— Tive a impressão de ter ouvido alguma coisa sobre "vigor vital" – ele comentou.

Embora não estivesse com sono, Bai Renshu também bocejou, contagiado por seu amado. Depois, sentando-se de frente para ele, o cultivador inventou:

— Ah! Claro, claro! Que tolo esquecido! Eu só estava, ahn... rezando aos deuses para que o nosso vigor vital perdurasse por muitas décadas!

— O nosso? – questionou Wen Ning, olhando-o de soslaio. — Acho que você quis dizer "o seu", não?

Dando de ombros, Bai Renshu retoricamente perguntou:

— O seu, o meu... que diferença faz?

Triste e conformado, Wen Ning suspirou.

— Faz muita – ele confessou. — Já que depois do procedimento, não deve ter me restado muita coisa...

O Legado da CarneOnde histórias criam vida. Descubra agora