No coração da clareira, envolta pela tranquilidade das matas e a presença imponente do lago, Wen Ning escutava atentamente, sua expressão um espelho da tristeza contida nas histórias que ouvia. As palavras de Bai Renshu se espalhavam pelo ar, carregadas de memórias dolorosas, enquanto prosseguia:
"Com sua beleza destruída, a cortesã foi desprezada por aqueles que antes a adoravam. Sua vida de prestígio e adulação desmoronou, relegando-a às sombras da sociedade. Nos becos imundos da cidade, vendia seu corpo por alguns trocados miseráveis. Seu espírito outrora radiante foi obscurecido pelo sofrimento e pela humilhação.No entanto, a crueldade de Yan Quon não conhecia limites. Embora, em seu próprio benefício, não quisesse me tornar menos atraente, ele desejava que eu experimentasse semelhante degradação. Então, manipulando os eventos com astúcia, fez com que eu a reencontrasse em seu novo estado miserável.
Guiado pelas pistas que aquele demônio engendrava, cheguei a uma área portuária. Sob uma ponte, em plena luz do dia, ali a encontrei, com os seios à mostra e as saias levantadas. Estava cercada por um grupo de marinheiros que exploravam seu corpo de forma rude e lasciva, constantemente revezando-se pelo direito de montá-la.
Aterrorizado e envergonhado, recuei para as sombras, incapaz de desviar o olhar. Meu corpo tremia, dividido entre o horror e a fascinação. Os gemidos de dor e de prazer ecoavam em meus ouvidos com uma dualidade sufocante; despertavam em mim um rigor pulsante, um ardor emergente não apenas pela mulher, mas também pelos corpos viris que severamente a dominavam.
Cedi à tentação, minhas mãos tremendo enquanto deslizavam para dentro das minhas roupas íntimas. Pela primeira vez na vida, sentia vontade de me tocar. Cada textura e proeminência descobertas sob meus dedos faziam meu coração acelerar em uma mistura de medo e excitação por sucumbir a esses desejos em uma situação tão inadequada.
Minhas mãos se moviam instintivamente, guiadas por um impulso primitivo que eu não conseguia controlar. A visão dos marinheiros, suas mãos firmes e bocas impiedosas, se mesclava com a imagem da mulher subjugada, alimentando uma chama perversa dentro de mim que me fazia desejar participar. Inicialmente, minha mente não considerava a violência do ato; apenas a intensa excitação que aquela cena provocava.
O êxtase me envolveu como uma onda poderosa, inundando-me inicialmente com uma intensa sensação de bem-estar. Mas logo em seguida, o peso do arrependimento me atingiu, esmagando-me com sua intensidade devastadora. Lembrei-me da ocasião em que fui violentado e, só então, considerei a situação degradante – e possivelmente lancinante – em que aquela mulher se encontrava.
Senti-me como um monstro, consumido pela culpa e pelo pesar. Pensei em ajudá-la, mas jovem como era, a covardia me limitava. Curvado sobre mim mesmo, abraçando os joelhos, lágrimas silenciosas escaparam dos meus olhos enquanto os ouvia regozijando, urrando feito animais. E então, após chamarem-na de abominação e urinarem sobre suas cicatrizes, os marinheiros atiraram moedas em seu rosto e afastaram-se com suas risadas cruéis, como se nenhuma forma de humilhação fosse suficiente para insultá-la.
Aproximei-me devagar, mas a mulher, exausta, recostou-se na parede, fechando as pálpebras enquanto respirava profundamente, sem parecer me notar. Cheirava a urina, suor e sêmen, um contraste chocante com o aroma floral e vibrante que costumava exalar.
Quando finalmente as abriu, seu único olho castanho fixou-me diretamente, suspirando com desgosto ao constatar que eu ainda não havia ido embora. Só então percebi que ela já sabia de minha presença e que estava deliberadamente tentando me evitar.
Determinado a não desistir, recolhi e devolvi as moedas espalhadas pelo chão. Com um sorriso de escárnio, ela ajeitou seu vestido, enfiou as moedas no decote e depois cobrou-me pela moeda que faltava. Pálido e mortalmente envergonhado, compreendi que havia sido descuidado e que, em algum momento, ela conseguiu me flagrar.
Angustiado, baixei a cabeça e calei-me; sem dinheiro, sem desculpas, sem saber o que falar. Suspirando impaciente, ela me empurrou para longe, declarando que só perderia seu tempo comigo se eu trouxesse algum cliente ou se tivesse algum dinheiro para lhe dar. Expondo sua nova realidade com um toque de sarcasmo, afastou-se dizendo que agora cobrava apenas uma moeda por seus serviços – e duas, se o cliente também quisesse esbofeteá-la.
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O Legado da Carne
FanficDois anos após tornar-se independente de Wei Wuxian, seu antigo mestre, o ainda temido e odiado "General Fantasma" tornou-se um andarilho solitário que vagava o mundo eliminando monstros e sobrevivendo humildemente de pequenas recompensas. Enquanto...