Cap. 128 - Revelações - parte IX: A inocência perdida

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AVISO: Este capítulo contém eventos sensíveis relacionados à infância e ao início da puberdade de Bai Renshu que tiveram grande impacto em suas decisões futuras. Originalmente mais longo, optei por dividir o texto em consideração àqueles que preferem evitar conteúdos pesados, deixando a parte mais leve para a próxima postagem.
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A luz do sol filtrava-se delicadamente pelo dossel das árvores, pintando padrões dourados na clareira onde dois companheiros desfrutavam de uma conversa animada. O suave murmúrio do lago e o sussurro das folhagens, agitadas pela aragem, se entrelaçavam em uma atmosfera deleitável, proporcionando um cenário fresco e reconfortante para suas risadas despreocupadas.

Acariciada pela brisa, uma folha seca desprendeu-se de um galho e flutuou graciosamente pelo ar, antes de pousar com leveza sobre os cabelos de Wen Ning. Bai Renshu, percebendo o detalhe, estendeu a mão para removê-la despretensiosamente, mas ao se deparar com a expressão tímida no rosto do parceiro, considerou-o tão adorável que precisou conter o impulso de apertar suas bochechas rosadas.

Ao perceber o sorriso bobo nos lábios do cultivador, Wen Ning o observou com curiosidade, como se estivesse prestes a questionar o motivo. Contudo, quando seus olhares acidentalmente se encontraram, uma aura de fascínio os envolveu, hipnotizando-os tão profundamente que o tempo pareceu congelar.

As risadas cessaram, substituídas por um silêncio significativo. Um desejo antigo e profundo borbulhava sob a superfície, prestes a transbordar a qualquer instante. Seus corações batiam em uníssono, a paixão entre eles era fácil de notar.

Por um momento, seus lábios quase se tocaram, o desejo de se entregarem um ao outro se tornando irresistível. No entanto, como se acordassem de um sonho, a realidade os envolveu, trazendo consigo a desconfortável lembrança de que, apesar do amor que compartilhavam, o que tiveram no passado já havia se perdido.

Foi então que Wen Ning quebrou o silêncio, sua voz trêmula rompendo a tranquilidade da clareira. "Renshu," ele começou, os olhos fixos no chão, "eu torço muito para que exista uma próxima vida, onde possamos finalmente nos casar."

Diante da confissão inesperada, Bai Renshu ficou atônito, seu coração até falhando uma batida.

— Nós iremos – afirmou ele, suas mãos sobre os joelhos, agarrando suas vestes desbotadas como se estivesse agarrado à sua última esperança. — Não somente na próxima e nas posteriores, como também nesta!

— Você sabe que não podemos – retrucou Wen Ning, sua voz tingida de resignação. — Você já tem uma família e... bem, mesmo se não tivesse, nós dois somos homens. Nunca seríamos reconhecidos oficialmente como cônjuges.

Bai Renshu observou atentamente o semblante do parceiro, notando cada linha de apreensão que se formava em suas feições.

— E isso te preocupa? – perguntou ele, seus olhos procurando os de Wen Ning em busca de uma resposta sincera.

Wen Ning evitou o olhar direto de Bai Renshu, uma sombra de constrangimento passando por seus traços.

— Bem... a você não? – respondeu, deixando a pergunta pairar no ar, como se temesse mostrar-se excessivamente emotivo.

— Na realidade, não – disse o outro, sua entonação demonstrando naturalidade e convicção. — Após tantas experiências com homens e mulheres casados, percebi que ser reconhecido como cônjuge não define o verdadeiro compromisso. Testemunhar tantos matrimônios vazios, meras fachadas de conveniência, me fez perceber que o amor transcende as formalidades sociais.

Percebendo a confusão estampada no rosto de Wen Ning, assim como as emoções de desapontamento que emanavam dele, Bai Renshu decidiu continuar:

— Isso não diminui minha vontade de cumprir os rituais e receber as bençãos de nossos antepassados, mas no momento em que nos erguemos lado a lado, vestidos de vermelho, pouco me importará o que diz a lei dos homens, pois nosso compromisso será tão sagrado quanto qualquer outro baseado no amor genuíno. Além disso, tenho certeza de que seremos tão unidos e apaixonados que, onde quer que estejamos, ninguém que nos visse juntos ousaria duvidar da profundidade do nosso vínculo!

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