Capítulo 14

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Bai Renshu sentiu um desconforto no peito e uma pontada de dor em sua cabeça. Aquela história o perturbava até as entranhas, mas já que cometera o pecado de reencontrar o General mesmo estando ciente das consequências, não lhe restava alternativa senão revelá-la.
O cultivador ofereceu ao outro o seu sorriso enigmático e ponderou sobre a melhor forma de contá-la.
"Já que cheguei ao inferno, só me resta abraçar o diabo" - ele concluiu.

- Não fique tão preocupado, General. Eu até cheguei a me deitar ao seu lado, mas eu logo saí. E também não te desrespeitei em nenhum momento. - disse o Bai, de maneira sincera.

Wen Ning, que continuava na banheira, elevou suas mãos em forma de arco e fez uma reverência improvisada.

- Obrigado por isso - ele respondeu aliviado.

- Entretanto...

Wen Ning engoliu em seco.

- En-entretanto? - repetiu o Wen, apreensivo.

Bai Renshu virou-se de costas e abraçou o próprio corpo, parecendo terrivelmente desamparado. Minutos depois, ele voltou-se para Wen Ning com os olhos marejados e uma expressão amedrontada.

- Você... - disse o cultivador com a voz embargada, mas não conseguiu concluir sua frase. Aquelas palavras pareciam terríveis demais para serem pronunciadas.

O General entrou em pânico e não conseguiu fazer ou dizer nada. Ele apenas observava Bai Renshu com seus olhos arregalados e seu semblante aterrorizado.

Bai Renshu, então, caiu de joelhos, apontou para Wen Ning com as mãos trêmulas e disse com o semblante torturado:

- Você me agarrou à força!

O General quase sofreu um infarto.

- Eu O QUÊ?! Co-co-co-co-co-como assim, Bai Renshu?
"Meudeusmeudeusmeudeus! O QUE FOI QUE EU FIZ??? Eu totalmente, definitivamente, veementemente NUNCA MAIS vou beber em toda a minha vida!!!" - pensou o Wen, sentindo-se como se estivesse prestes a desmaiar.

Bai Renshu sentou-se sobre as panturrilhas e abaixou a cabeça. Ele aninhou a si mesmo, esfregando seus braços como se pudesse proteger-se do frio imaginário que assombrava a sua alma. Seus cabelos desalinhados, lançados sobre seu rosto, lhe proporcionavam uma aparência lamentável. Seu estado era digno de pena.

- Você... você nem mesmo me perguntou se eu também queria... já foi logo afundando o rosto no meu peito, se debruçando sobre meu corpo e me forçando a... a... a ficar embaixo de você... - disse em uma voz vacilante e chorosa, de cortar o coração.

Bai Renshu levou as mãos ao rosto e lamentou. Seus ombros tremiam enquanto ele chorava.

Wen Ning desesperadamente puxou a toalha que estava sobre a cadeira decidido a acalentar o cultivador e lhe implorar pelo seu perdão. Ele esticou a toalha formando uma parede e se ergueu parcialmente abaixado, de modo que Renshu não pudesse vê-lo despido enquanto ele cobria os seus quadris. Já envolto na toalha, ele passou uma das pernas para fora do ofurô, mas quando estava prestes a sair da banheira por completo, ele notou que aquele resmungo lamentoso estava se tornando cada vez mais estranho.
Wen Ning voltou para dentro do ofurô, desatou a toalha formando com ela a mesma parede, abaixou-se na água e aguardou prudentemente.

- Renshu? - ele chamou com cautela. - Você pode olhar pra mim um pouco, por favor?

As costas de Bai Renshu se sacudiram de um modo cada vez mais frenético até que, por fim, ele explodiu em gargalhadas.

A expressão preocupada de Wen Ning se contorceu, transfigurando-se em uma expressão zangada.

- Bai Renshu! - repreendeu o general, atirando a toalha na cara dele. - Eu quase morri do coração, seu idiota!

O Legado da CarneOnde histórias criam vida. Descubra agora