Cap. 11 - A luz que me guia

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Wen Ning caminhou por um longo período, e assim que atingiu a pequena floresta que separava o grande povoado da cidade de sua área mais remota, o sol já estava se pondo.

Ele não previu que voltaria durante a noite e tampouco tivera a certeza de que ainda retornaria àquela casa, mas assim que ouviu o primeiro bramido animalesco cortando o silêncio da mata durante o crepúsculo, um terrível calafrio percorreu sua espinha e Wen Ning arrependeu-se, de imediato, por não pensado em trazer uma tocha consigo.

O General apertou seus passos e se apressou para cruzar o trecho de mata fechada antes que o céu se escurecesse por completo. Quanto mais a iluminação celeste se extinguia, maiores e mais aterrorizantes eram os gritos bestiais e tortuosos que o afligiam.

Quando atingiu o final do aglomerado de árvores e vislumbrou a casa em ruínas através da tênue luz do luar, a noite já havia caído por completo.

De repente, dezenas de brados coléricos gritaram em uníssono e Wen Ning passou a ouvir uma movimentação crescente na mata, como se centenas daquelas criaturas agora o estivessem perseguindo.

O General correu para dentro do casebre sentindo-se cada vez mais apreensivo. Wen Ning não possuía plena convicção de que, ao cruzar aquela janela, ele conseguiria seguir às cegas na exata direção em que outrora havia seguido, mas caso não o encontrasse o ponto iluminado para guiá-lo, não lhe restaria alternativa senão contar com sua própria sorte. Entretanto, tão logo se aproximou da abertura, seu coração alegrou-se ao perceber que aquele pontinho distante havia sido novamente iluminado.

"Ele
voltou! Bai Renshu voltou!" - ele comemorou mentalmente, mas logo voltou a ficar tenso.

Wen Ning ouviu novos gritos e novos passos, de novas direções. O agrupamento de criaturas estava aumentando e agora também parecia disposto a cercá-lo.

O General cogitou enfrentá-los, mas como não dispunha de uma espada, isso não lhe pareceu uma ideia sensata. Afinal, o enigma sobre Legado da Carne ainda não havia sido totalmente esclarecido e atacar, com as mãos nuas, criaturas adoecidas e quiçá contagiosas, certamente não seria a decisão mais sábia. Isto posto, não restava ao General outra opção além de fugir.

Wen Ning respirou fundo, pulou a janela e cruzou a planície com toda a velocidade que seu corpo permitia.

Ele correu. Correu tão rápido como se sua própria "não vida" dependesse disso porque, de fato, era isso o que ele pressentia.

A distância percorrida parecia interminável. Wen Ning estava começando a perder velocidade e temeu que alguma daquelas criaturas fosse capaz alcançá-lo, mas quando finalmente conseguiu atingir o perímetro iluminado pela casa de Bai Renshu, os gritos e passos felizmente cessaram.

Wen Ning suspirou aliviado e, exausto, deixou-se cair sobre a grama. Deitado de costas, recuperando o seu fôlego sobre a grama úmida, ele observou as estrelas enquanto tentava imaginar um roteiro com tudo o que desejava perguntar e dizer para Bai Renshu, mas a adrenalina havia tornado seus pensamentos confusos e acelerados, então ele não conseguiu chegar a conclusão alguma.

Decidido a improvisar, o General levantou-se e mais uma vez espiou através daquela janela iluminada, mas dessa vez não havia ninguém se banhando.

Wen Ning contornou a casa, subiu três largos degraus de concreto, cruzou o deck de madeira e chegou à entrada da residência. Ele bateu insistentemente na porta e aguardou ansioso por uma resposta, mas ninguém o atendeu.

Preocupado com o que poderia ter acontecido, Wen Ning tentou deslizar as portas e viu que as mesmas não estavam trancadas.

A agonia era crescente em seu peito, por isso o General se atreveu a entrar mesmo sem um convite. Ele desculpou-se em voz alta, alertando sobre sua entrada e procurou Bai Renshu por todos os cômodos, mas exceto pelo próprio Wen Ning, a casa estava misteriosamente vazia. 

O Legado da CarneOnde histórias criam vida. Descubra agora