63 - Paulo e Pedro

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- Eu não sei se você se lembra de mim. Eu estava no Centro, ontem de noite, quando houve aquela... manifestação? É assim que chama? - Fala Paulo, enquanto caminha ao lado de Pedro pela calçada da rua em que fica a casa da família do rapaz.

- É. Pode ser. – Responde Pedro, um pouco envergonhado.

- Então... você ficou caído no chão e foi ajudado pelas outras pessoas que estavam comandando o trabalho.

- Eu lembro de ter visto o senhor antes do trabalho começar. O senhor estava acompanhando o menino...

- Que está na cadeira de rodas. Isso mesmo! É meu neto. Davi. – Responde Paulo, interrompendo Pedro, respirando profundamente, enquanto baixa sua cabeça.

- Me desculpe. Eu não sabia como dizer

- Não se preocupe. Eu é que preciso me acostumar com isso de alguma maneira.

- Me desculpe, mas o senhor não disse seu nome.

- Paulo. Eu me chamo Paulo. – Responde Paulo estendendo a mão para cumprimentar Pedro.

- Pedro. Meu nome é Pedro. – Responde Pedro que cumprimenta Paulo enquanto param sobre a sombra de uma árvore próximo à esquina. - Como o senhor chegou até mim?

- Eu conheço a moça que estava perto de você, lhe ajudando enquanto você estava no chão. Eu a conheci há alguns meses no elevador do prédio em que ela trabalha.

- A Margot?

- Isso. Na verdade, eu conheci o Centro por causa dela. Foi ela quem me disse que o problema com o meu neto poderia ter um fundo espiritual. E escutei quando ela disse seu nome, depois foi mais fácil conseguir saber como encontrar você.

- O senhor disse "Espiritual"?

- Sim. Ela me disse que pediram para ela me dizer que Davi estaria com o espírito de um irmão próximo a ele, causando os problemas que ele desenvolveu. – Responde Paulo, meio envergonhado. - Eu... quer dizer... nós, eu e os pais dele, já tentamos de tudo. E, a princípio, meu genro até colocou uma série de empecilhos para que Davi pudesse ir ao Centro, para que tentássemos uma ajuda. Depois, quando ele e minha filha concordaram, eu fiz questão de acompanhá-los.

- Ontem foi a primeira vez que ele foi ao trabalho?

- Sim, foi. E acho que o que aconteceu ontem com você tem muito a ver com o estado de saúde do meu neto. As coisas que você falou. A forma como olhava para Davi. O sofrimento que transpareceu para quem mim que assistia. Não tive como não achar que estava relacionado ao meu neto.

- Eu não lembro de tudo o que houve.

- Eu não sei se eu tenho condições de lhe pedir isso, mas é uma atitude desesperada de um avô que pede para que ajude seu neto.

- Eu não estou entendendo. O que o senhor que eu faça?

- Eu não sei. Mas, ontem, durante o que aconteceu no Centro, eu vi o meu neto de volta. Ele pediu ajuda para a minha filha. Eu vi. Eu estava lá. – Responde Paulo chorando. – Ele está sofrendo. E eu não sei quanto tempo eu ainda vou aguentar ver meu neto nessa situação. Desculpe a emoção de um velho que não vê mais nenhuma outra saída... e por favor, não veja isso como uma falta de respeito. Mas eu gostaria de lhe pedir para me deixar conversar com o espírito daquele homem que falou através de você, ontem. Eu preciso saber quem é que deseja tanto o mal do meu neto e o que eu preciso fazer para que ele pare com isso.

- Como assim? O senhor quer que eu deixe acontecer mais uma vez a mesma manifestação de ontem para o senhor falar com ele?

- Eu posso lhe pagar algum dinheiro para isso, se for o caso...

- Por favor, não faça isso. Eu nunca aceitaria isso.

- Desculpe. Me desculpe. É que estou desesperado. – Fala Paulo chorando em frente a Pedro.

- Imagine o que eu teria feito se fosse com você essa situação que o neto desse homem está passando. – Fala Jorge que surge ao lado de Pedro colocando a mão em seu ombro.

Pedro olha para o pai sem entender o que ele estava fazendo ali.

- Não se assuste, filho. Não estava seguindo vocês, foi somente coincidência encontrar vocês aqui.

- Me perdoe pelo meu descontrole. – Fala Paulo tentando enxugar as lágrimas do rosto. - Mas é que eu não sei quanto tempo mais eu aguento essa situação.

- Não precisa se desculpar, senhor. – Responde Jorge.

- Eu que lhe peço desculpas por não ter percebido antes como estava difícil para o senhor e sua família. – Responde Pedro tentando se recompor. – Mas eu trabalho há pouco tempo no centro espírita. Não sei como posso lhe responder com certeza as perguntas que o senhor fazendo.

- Claro que sabe, filho. – Responde Jorge.

- Pai... – Reclama Pedro, temendo que o pai dê falsas esperanças a Paulo.

- Meu filho... Seu avô confiava em você. Aquele homem que foi em casa conversar com você no carro com motorista confiava em você, este senhor que veio lhe procurar confia em você... Será que você não está percebendo os sinais de que devo confiar um pouco mais em você mesmo, também?

- Eu não quero causar nenhum tipo de transtorno ou confusão em família. – Fala Paulo.

- Não é transtorno. É ensinamento. Já está na hora do meu filho acreditar nele mesmo e na missão tem que cumprir nesta vida.

- Pai, eu nunca lhe vi falando assim antes.

- E nem vai mais ouvir, filho. Principalmente na frente da sua mãe. – Fala Jorge rindo um pouco. – Meu filho... – Continua Jorge fazendo carinho no rosto de Pedro com sua mão esquerda. – Sempre lhe deixei seguir o caminho que acreditava e você sempre se mostrou confiante e seguro com o que deveria fazer. Eu sempre lhe disse que nada como viver as próprias experiências para aprender a seguir o caminho que devemos seguir. E em todos esses anos, você nunca foi covarde para fazer o que deveria ser feito. Você sabe o que tem que fazer. Não sou eu e nem ninguém mais que irá lhe dizer. Esse homem... – Segue Jorge levantando a mão na direção de Paulo. - ...está lhe pedindo para interceder em fazer do neto. Você me conhece e sabe tudo o que eu faria para lhe ajudar em uma situação como a que ele está vivendo. Não tenha medo de ser o que você tem que ser. Ajude-o!

- Obrigado. – Fala Paulo.

- Eu, sinceramente, não sei exatamente o que posso fazer. – Responde Pedro pensativo para Paulo. - Mas se o senhor quiser, podemos buscar a ajuda de um dos responsáveis pelo trabalho no Centro. Tenho certeza de que ele vai tem melhores condições de ajudá-lo.

- Obrigado. Muito obrigado! – Responde Paulo abraçando Pedro.

- Muito bem, filho! – Fala Jorge passando a mão nas costas de Pedro.


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