57 - A Chegada de Luiz

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- Hernan?

Hernan, um dos organizadores do Centro que estava arrumando próximo à mesa lateral no fundo do auditório, arrumando os livros espíritas para o estudo de mais tarde, levanta a cabeça e fica parado sem querer se virar para ter certeza de que reconhecera a voz.

- Não vai nem se virar para falar comigo?

- Boa tarde, seu Luís. – Responde Hernan, deixando os livros sobre a mesa e se virando para cumprimentar o velho senhor, amigo de Samir que voltara ao Centro onde há tempos, era um dos trabalhadores mais assíduos da casa. – Pensei que nunca mais veria o senhor por aqui.

- Na verdade não era a minha intenção voltar aqui, depois de tudo o que aconteceu nesta casa. Mas foi um pedido de Samir e eu nunca poderia deixar de atender ao chamado do meu irmão.

- O seu Samir desencarnou.

- Eu sei. Ele me fez o pedido momentos antes de seguir para o plano espiritual.

- E qual foi o pedido dele?

- Nada que vá lhe dar qualquer tipo de trabalho. Pode ficar tranquilo.

- Há muito que o senhor não frequenta mais esse Centro. Muita coisa mudou por aqui.

- Eu sei. Mas pode ficar tranquilo. Será mais uma conversa do que um trabalho ou algo assim.

- Que bom. Fique à vontade, então. – Fala Hernan, oferecendo o Centro para seu Luís, com um misto de desconfiança e receio.

- Eu estou. Pode ter certeza disso. – Responde caminhando para se sentar nos bancos do fundo do Centro, enquanto outros frequentadores do trabalho de sexta-feira começam a chegar à casa, sentando-se pelos vários bancos espalhados pelo salão.

Há alguns anos, Luís estava no papel de organizador dos trabalhos no Centro Espírita. Ele havia começado a trabalhar logo após a mudança do Centro para aquele novo local, cedido pelo Samir. Hernan era um dos frequentadores da Casa. Começou cedo, levado pela mãe, para quem relacionava todos os problemas de comportamento que o filho tinha a influências espirituais. Hernan, começou a estudar os livros espíritas, entender como a espiritualidade poderia, realmente, interferir de alguma forma nas decisões que tomamos no nosso dia a dia. Mas, após a saída de um dos fundadores da casa espírita, por problemas de saúde, Hernan, que sempre trabalhou auxiliando os irmãos que fundaram e administravam a casa, começou a buscar uma visibilidade maior na administração da casa. E após consegui-la, começou a alterar os preceitos que guiaram os primeiros cinquenta anos de existência daquele Centro Espírita. Segundo ele, sua ideia sempre foi de fazer com que acontecesse uma evolução daquela casa espírita. Mas nem todos concordaram com as mudanças impostas por ele. E isso, acabou afastando da casa aqueles irmãos que participaram da fundação do Centro e que sempre seguiram os ensinamentos da caravana espiritual que sempre acompanhou os trabalhos, inclusive no direcionamento que a casa deveria ter. Luís e Samir, eram dois desses irmãos e, mesmo com Samir não concordando com o afastamento, Luís acho melhor seguir por outros caminhos para evitar embates desnecessários além dos que já estavam ocorrendo durante os trabalhos.

- Mas que bons ventos o trazem à esta casa, meu amigo. – Saúda Eusébio o bom amigo que não via há alguns meses.

- Que bom ainda encontrar rostos amigos por aqui. – Responde Luís se levantando do banco para cumprimentar o velho amigo.

- Não comece, Luís. – Fala Eusébio, brincando.

- Eu sei que não devo. Mas em alguns momentos é mais forte do que eu. E, afinal de contas, não é para aprendermos que estamos nesta vida? Então, somos todos aprendizes.

- Pelo menos, nisso, você tem razão. – Fala Eusébio se sentando ao lado de Luís no banco. – Mas você ainda não me disse o que veio fazer aqui? Decidiu voltar à velha casa?

- É um pedido de Samir, meu amigo.

- De Samir?

- Ele me ligou um pouco antes de desencarnar e fez um pedido para que eu ajudasse à um rapaz que estaria frequentando nosso Centro.

- Um rapaz?

- Sim. E como sei que você continua presente em todos os trabalhos desta casa, achei que você seria a pessoa mais certa para me ajudar a atender o pedido do nosso amigo.

- Você tem certeza de que ele disse ser um rapaz?

- Tenho. Por quê?

- Porque tenho conversado muito com uma moça, amiga de minha sobrinha, que tem vindo ao Centro. E acho que ela dará uma excelente trabalhadora.

- Que bom. Mas é um rapaz, sim. Chama-se Pedro.

- Só se for aquele que vi conversando com essa moça que lhe falei. – Responde Eusébio tentando se lembrar de mais alguém que tenha começado a frequentar a casa há pouco tempo.

- Quem sabe seja este. Você sabe se ele já chegou para o trabalho?

- Eu não o vi. Nem a ele e nem a moça que lhe falei. Mas aguarde um pouco. Ainda falta um pouco para o trabalho e devem chegar. Pelo menos a moça eu sei que vem, que minha sobrinha me mandou uma mensagem falando que elas viriam hoje para conversar comigo. Quanto ao rapaz, esperemos que venha. Assim poderemos começar a atender ao pedido de Samir.


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