45 - A Noite de Pedro

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Os olhos de Pedro se abrem com certa dificuldade. A luz, forte parece incomodar mais do que doer. Ele consegue olhar em volta de si e não vê muitas coisas. Tudo branco, limpo, alvo, quase puro. A luz, que parece emanar de todos os lados, ainda o incomoda, mas bem menos do que antes. Ao longe um grupo de pessoas parece caminhar para mais longe ainda. Ele não consegue ver para onde estão indo, não vê nada além de luz como destino daquelas pessoas.

- Que bom lhe ver aqui, meu filho. – Pedro se vira rapidamente, reconhecendo a voz do avô atrás de si. Ao olhá-lo, ele sorri e o abraça forte, deixando sair de seu peito toda a saudade do avô que se apresenta forte e rejuvenescido.

- Vô. Que bom lhe ver. – Fala Pedro, emocionado.

- Posso saber o que o senhor está fazendo aqui? Você sabe que não é hora de você estar aqui ainda. – Fala Ana sorrindo para o neto.

- Minha avó? – Fala Pedro, surpreso, por reconhecê-la das velhas fotos amareladas dos porta- empoeirados na sala de casa.

- Eu mesma, meu neto. Que bom lhe encontrar. Há muito esperava por isso. – Fala dona Ana dando um forte abraço e um beijo na testa do neto que não chegou a conhecer em vida.

- Meu Deus! Mas, o que está acontecendo? Por que eu estou aqui? – Pergunta Pedro.

- Fique calmo, meu neto. – Responde Martins.

- Tínhamos que falar com você, meu filho. E nos foi dada a permissão para que tivéssemos esse encontro. – Fala Ana. – É necessário que você entenda que tudo o que vai acontecer já estava programado.

- Do que vocês estão falando?

- Do que vai acontecer, filho. – Responde Martins. – É claro que o garoto e a família precisam muito de ajuda. Mas o irmão que está comandando, precisa de muito mais. Ele já sofre há muito tempo e a carga que carrega em seus ombros é muito pesada.

- Que garoto? Que família? Eu não estou entendendo.

- Na hora certa você vai saber. Não podemos saber tudo o que vai acontecer. Mas é importante que você confie em Deus e saiba que seu avô e eu, estaremos sempre ao seu lado.

- Vocês estão me assustando, desse jeito. Vocês estão brincando comigo, né vô?

- Antes fosse brincadeira, meu neto. Mas cada um de nós veio com uma missão. E uma das suas é ajudar esse irmão.

- Mas como vou poder ajudar alguém que nem sei quem é?

- Mas saberá! – Responde Ana segurando as mãos do neto contra seu peito. – E gostaria de lhe pedir um favor, antes de partir. Fale para sua tia e para sua mãe que eu às amo muito. Sempre amei. Mesmo quando elas o vaso com o bougainvillea que ficava na entrada da nossa casa.

- O quê? – Pergunta Pedro sem entender muito bem o pedido. – Seus olhos abrem, Pedro levanta assustado, o quarto ainda está escuro. Ele olha em volta e na mesa de cabeceira, o relógio mostra 5h42. Pedro tira o lençol de cima de suas pernas e se senta na cama. Esfrega o rosto com as mãos, coloca o cabelo para trás, olha em direção à janela e caminha até ela. Afasta a cortina e olha a luz do sol surgindo por trás dos prédios.

- Damião. Chame-o pelo nome. Damião.

Pelo reflexo do vidro da janela, Pedro vê Martins no meio do quarto. Se vira e olha mais uma vez para o avô que envolto em um leve brilho, desaparece na sua frente.

Na sala, sentados à mesa do café da manhã, Pedro conta o que aconteceu na noite anterior para os pais e a tia.

- Como assim? Isso não foi um sonho? – Pergunta Carmem pegando o pão e cortando-o para logo em seguida passar um pouco de manteiga.

-Não me parecia um sonho, tia. – Responde Pedro tomando um pouco de suco.

- E quem seria esse garoto? E qual a sua conexão com ele? – Questiona Francisca.

- Essa estória está muito estranha. Acho que você está assistindo muito filme de terror. – Complementa, Carmem.

- Não teve nada de terror, tia – Responde Pedro sorrindo. – Foi até bem tranquilo. Mesmo parecendo tudo muito estranho em um primeiro momento.

- Filho? – Pergunta Francisca – Por que você acha que não foi um sonho?

- Porque sonhos são diferentes, mãe. A sensação que me deu ao encontrar meus avós, a percepção da paz que tinha naquele lugar, até mesmo o incômodo inicial que sentia nos olhos... Tudo era muito real pra mim. Em sonhos não sinto desse jeito.

- Posso saber qual a dificuldade de vocês duas em aceitar que o rapaz teve um encontro com os pais de vocês? – Pergunta Jorge. - E, diga-se de passagem, a mãe de vocês ele nem chegou a conhecer.

- Nenhuma. – Fala Francisca. - A gente só quer ter certeza mesmo, até para que ele não fique preocupado achando que tem que fazer alguma coisa que nem ele mesmo sabe pra quem é.

- Eu não. Eu estou chateada, sim. – Fala Carmem. – Queria muito poder ter tido esse encontro com a mamãe e com o papai. Para falar a verdade, há anos que nem sonhar com ela eu sonho mais.

- Mas se for para lhe deixar um pouco mais calma. – Responde Pedro se levantando da mesa e pegando a chave do carro e o telefone celular, antes de dar um último gole no suco. – Ela mandou um recado para vocês duas. Disse que sempre as amou, mesmo quando vocês quebraram um vaso com uma planta dela.

- Meu Deus! O bougainvillea! – Exclama Francisca.

- Essa mesma. Beijos pra todos! – Fala Pedro enquanto pega uma última torrada no pote e sai apressado para o trabalho.

Carmem olha assustada para Francisca e pergunta.

- Alguma vez você contou essa estória para o Pedro?

- Eu nem lembrava mais disso, minha irmã. - Responde Francisca, assustada, se sentando à mesa.

- E como ele pode saber disso?

- Será que ele não sabe por que teve realmente um encontrocom os pais de vocês? Pensem um pouco, né? – Fala Jorge antes de tomar mais umgole do café com leite que está em sua xícara.

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