73 - A Noite do Trabalho

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- Espero, sinceramente, que você tenha uma boa notícia para nós, meu irmão. – Fala Luís chegando perto de Hernan.

Hernan que estava terminando de abrir as janelas que ficam por trás da mesa principal do Centro Espírita, se vira, olha para Luís e fala:

- Gostaria de falar com o senhor antes de lhe responder essa pergunta.

- Pode falar, então.

- Por favor, não me entenda mal. Mas como um homem que trabalha há tanto tempo com a espiritualidade pode confiar cegamente em uma pessoa que está há tão pouco tempo no trabalho espírita?

- Do mesmo jeito que confiei em você quando entrou por aquele mesmo portão, meu filho.

- É diferente!

- Por quê?

- Eu já tinha algum ensinamento espírita. Minha família já havia frequentado alguns centros antes. O senhor sabe disso.

- Mas sei também que alguns se afastaram, inclusive você. E não nos recusamos a ajudá-lo quando quis voltar. A doutrina espírita é conhecida como o Consolador Prometido. E não cabe a nós, julgar quem deverá ser consolado por ela ou não. Mas devemos estar de portas e corações abertos para auxiliar todos aqueles que procuram o conhecimento do Pai. Principalmente quando estão em sofrimento.

- Mas o rapaz que vai fazer o trabalho não está em sofrimento.

- Ele pode não estar em sofrimento. Mas o garoto a quem a espiritualidade quer ajudar, está.

Hernan desvia o olhar e respira fundo tentando buscar argumentos.

- Entendo sua preocupação com a responsabilidade da casa perante o trabalho que precisamos fazer aqui. – Continua Luís. - Façamos o seguinte. Fique ao nosso lado. Participe conosco dessa ajuda ao menino. Se algo sair diferente do que a espiritualidade nos ensinou ser o correto, eu serei o primeiro a interromper o trabalho e você vai estar junto para confirmar.

- Com licença. – Fala uma moça carregando algumas folhas de uma oração em suas mãos. – Desculpe interromper, mas essas cópias da oração deverão ficar na mesa próximo à entrada ou serão entregues para cada irmão que entrar no trabalho? – Pergunta ela para Hernan.

- Elas deverão ser oferecidas aos irmãos que estiverem entrando no Centro. Quem quiser aceitar você pode entregar tranquilamente. – Responde Hernan.

- Farei isso. – Responde a moça que se vira para voltar à entrada do centro, quando é chamada por Luís.

- Posso pegar um?

- Claro! – Reponde a moça, entregando uma cópia da prece para Luís e depois vai em direção ao portão.

Luís pega o papel em suas mãos e o lê em voz alta.

- "Dai luz aos nossos olhos,

Dai força às nossas virtudes,

Engrandece nossos espíritos

Para que saibamos sempre trilhar os teus caminhos."

Essa oração nos foi repassada pela caravana espiritual há mais de 50 anos.

- Eu conheço a história. Foi psicografada pelo Walter, poucos meses depois que vocês começaram as reuniões que deram origem ao Centro. – Fala Hernan.

- Exatamente! E todas as respostas para nossas dúvidas de como agir para atender aos irmãos sofredores está nela.

- Como assim?

- Nunca prestou atenção?
Luz, para que possamos ver quem precisa de nossa ajuda.

Força, para que não nos desviemos de nosso trabalho.

Engrandecimento, para que possamos ser a cada dia melhores que o dia anterior e assim seguir no caminho que Deus nos destinou.

- Nunca a havia interpretado desse jeito.

- Talvez ainda tivesses tido uma justificativa para que entendesses a oração dessa forma.

- Talvez.

- Mas agora tens! – Fala Luís enquanto Hernan olha para a oração que está nas mãos de Luís que continua falando - Esse menino precisa de nossa ajuda, Hernan. E está em tuas mãos podermos fazer o trabalho que estamos destinados a realizar para ajudá-lo. – Luís estende a mão com a oração para Hernan, que a pega, sem desviar seus olhos do rosto de Luís que após entregar a oração, se vira e caminha em direção ao corredor de entrada do Centro.

Eusébio que estava sentado em um dos bancos na última fileira, se levanta quando Luís passa por ele e o acompanha em direção ao portão da entrada.

- E então? Como ficaremos? – Pergunta Eusébio enquanto fecha o livro que estava lendo.

- Eu confio na espiritualidade, meu irmão. – Responde Luís.

- Eu também confio. Mas sempre é bom fazermos a nossa parte no plano material.

- Semdúvida, amigo. – Responde Luís sorrindo e colocando a mão no ombro de Eusébio.– Sem dúvida. Mas vamos dar o tempo que ele precisa para entender o quequeremos fazer.

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