31 - No Ônibus

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- Quando a mediunidade começa a aflorar, ela precisa ser direcionada para que o trabalho que Deus destinou ao médium, possa ser executado exatamente como Deus assim o quis.

Margot olha para o seu lado e vê Joana sentada no mesmo banco. Próximo à janela do ônibus que ela havia pegado a alguns quarteirões.

- Considere como sendo uma cachoeira que precisa ser represada para que a força das águas que fluem por ela, tenha a correta utilidade. – Continuou Joana.

- Devo considerar, então, que eu sou essa cachoeira?

- E por que não poderia ser? Sua sensibilidade é tão forte, minha filha. Permita-se ser o instrumento que Deus confiou que você pode ser.

- O grande problema é que eu não sei qual o objetivo dessa mediunidade em mim?

- E é necessário que saibas para poder seguir a caminhada? Acordas pela manhã tendo certeza de como encerrará o teu dia?

- Não. Mas ao menos sei qual caminho devo seguir.

- E não sabes que no caminho da espiritualidade, o amor é o único caminho que Deus quer que sigamos? Em momento algum dissemos que seria fácil ou que seria tranquilo. O que sempre fizemos questão de te dizer é que sempre estaríamos ao teu lado te ajudando, te mostrando, te auxiliando.

- Preciso de alguém que possa me mostrar o que fazer, qual caminho seguir, o que eu devo aprender.

- Tens o teu coração e tens a mim. Mas não poderei estar sempre ao teu lado para redimir tuas dúvidas e elucidar teus questionamentos. Muito vezes, mesmo que não acredites, tens mais força do que imaginas para poder superar todos os obstáculos que aparecerão em teu caminho. E, quando sentirmos que poderás fraquejar, virei até a ti para te ajudar, para te esclarecer, para te renovar as forças.

- É isso que viestes fazer? Acreditavas que eu iria fraquejar?

- Sabia que não. Como te disse, tens força e uma sensibilidade que te provariam que poderias seguir adiante. Mas não poderia te deixar duvidando das possibilidades que tua mediunidade colocou diante de ti. Se tivestes a possibilidade e a permissão de ter visão de vidas passadas, foi para que aprendesses algo com isso.

- O que eu poderia aprender vendo que Vitória e Alfredo foram amantes em outra vida?

- No mínimo aprendestes que pudestes ver. Se isso foi somente uma preparação para o que será realmente necessário que vejas?

- Não diga isso, por favor. Não quero ficar apreensiva sem saber quando poderá acontecer novamente.

- Acontecerá quando Deus assim o quiser. Não tens por que temer por isso, filha. Segue o caminho que Deus destinou a ti e fica com os anjos de luz que te acompanham.

A porta do pequeno apartamento se abre e Margot entra. Ela liga a luz da pequena sala, onde estão arrumados um pequeno conjunto de sofá de curvim vermelho escuro, já bem gasto herdado da casa de sua mãe, uma pequena mesinha de centro com alguns enfeites sobre ela, feitos de pedras e arames retorcidos, imitando pequenas árvores e um prato de prata, com um desenho de renda nas beiradas, já bastante sujo do tempo que não é limpo. Encostada na parede, uma estante de madeira, de um desenho bem simples, serve de suporte para um velho aparelho de televisão, alguns livros de direito, outros romances e alguns porta-retratos com fotos de uma família que há muito tempo Margot perdeu. O piso de tacos de madeira, já mostra algumas peças soltas e outras levemente levantadas.

Margot fecha a porta sem olhar para trás, deixa a bolsa sobre o pequeno sofá e caminha até a cozinha. Pega um copo no escorredor de louças, abre a geladeira branca de duas portas, coloca um pouco de água no copo e caminha pensativa de volta à sala. Liga a televisão e arruma um pouco a antena para tentar melhorar a recepção da imagem que insiste em não ficar completamente nítida. Caminha até o sofá e se senta ao lado de sua bolsa, tentando assistir à televisão enquanto toma mais um gole da água que está no copo.

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