61 - O Amanhecer na Casa de Pedro

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Pedro está deitado de bruços na cama. Ele abre os olhos lentamente e olha para a luz do sol que entra através das cortinas da janela do quarto. Sem mexer a cabeça ele olha para o relógio no criado-mudo e ele marca 6h12.

- Não acredito que acordei antes do despertador tocar, de novo. – Resmunga Pedro enquanto tenta se mexer na cama, para encontrar uma posição para voltar a dormir. Ele se vira e pega o travesseiro que estava jogado ao lado se seu corpo e o coloca sobre o rosto para tentar impedir que luz do sol o mantenha acordado.

- Desde criancinha você faz isso. – Fala Francisca.

Pedro vira a cabeça para a direção de onde vem a voz de sua mãe e a e vê encostada na porta do quarto.

- Oi mãe! O que houve? Por que acordou tão cedo?

- Não é tão cedo assim, filho. Principalmente pra quem não conseguiu pregar os olhos a noite toda.

Pedro tenta se sentar na cama para conversar com a mãe, enquanto Francisca entra no quarto e caminha até a janela para arrumar a cortina e impedir que a luz do sol continue atrapalhando o sono do filho.

- Não precisa arrumar a cortina, mãe. Vou ter que me levantar para ir pro banco.

- Que banco o quê, menino. Hoje é sábado. Você não tem que trabalhar, hoje.

- Hoje é sábado? Nossa! Ué, se hoje é sábado, por que a senhora já está acordada?

- Na verdade eu não consegui pregar os olhos. – Responde Francisca arrumando o vestido enquanto caminha pelo quarto de Pedro.

Pedro fica olhando para a mãe sem entender por que ela estava no quarto dele tão cedo e, intrigado, pergunta:

- Aconteceu alguma coisa, mãe?

Francisca olha para Pedro, baixa a cabeça e se senta na beira da cama.

- Deveria ter acontecido algo?

- Não. É só porque a senhora, normalmente, não vem ao meu quarto tão cedo, assim.

- E uma mãe tem que ter algum motivo especial para se preocupar com seu filho.

- Não é isso, mãe... Quer dizer que a senhora está preocupada comigo?

- Claro que estou, menino. Ontem tu chegaste em casa acabado. Todo cansado. A camisa estava toda suja e não quisestes me falar o que aconteceu. Nem jantar, tu quiseste. Viestes logo pro quarto e quando eu subi atrás, tu já estavas dormindo. Tinhas tirado as roupas e jogaste no chão do quarto, mesmo.

- Eu só estava muito cansado, mãe.

- Mas cansado com o quê? O que houve para que chegasses em casa daquele jeito? Quando saístes tu disseste que ias para uma reunião no Centro Espírita.

- E foi para onde eu fui, mãe.

- Mas eu nunca te vi voltar daquele jeito que chegaste, ontem.

- Porque nunca tinha acontecido o que aconteceu, ontem, mãezinha.

- E o que aconteceu, ontem?

- Nada que a senhora precise se preocupar mãe. – Responde Pedro, se sentando na cama.

- Como assim? Quer dizer que agora eu não devo me preocupar contigo?

- Eu não disse isso, mãe. Eu falei que a senhora não precisa se preocupar. É bem diferente.

- Não tem como você dizer para uma mãe que ela não deve se preocupar com o filho. Ainda mais com um filho que insiste em não me dizer as coisas para que eu fique mais tranquila. – Responde Francisca resmungando.

- Hahahahahaha! Não precisa isso, mãe. Eu não estou escondendo nada da senhora. Só estou seguindo umas das recomendações que nos ensina que os assuntos relacionados à espíritos devem ser tratados em um ambiente propício, para evitar que espíritos errados se aproveitem disse. Ou a senhora iria gostar que espíritos brincalhões resolvessem vir para cá e ficar aqui em casa acompanhando a senhora? – Fala Pedro, brincando de fantasma com o lençol.

- Para de graça, menino! – Responde Francisca se benzendo e se levantando da cama e caminhando até a porta, quando ela se vira e conclui. – E te Levanta logo dessa cama que, já que estás acordado, preciso que vás na feira comprar umas coisas para que eu prepare o almoço de hoje.

- Sim senhora, Dona Francisca! Já foi me levantar! – Responde Pedro dando uma gostosa gargalhada.

Na cozinha, Jorge está terminando de passar um café, quando Francisca entra pela porta da cozinha.

- Nem te ouvi descendo, Jorge – Fala Francisca se sentando na mesa da cozinha.

- Passei pela porta do quarto do Pedro e te ouvi conversando com ele. Achei melhor não interromper. Ele falou alguma coisa sobre o que houve ontem para ele chegar cansado daquele jeito? – Pergunta Jorge se sentando na mesa com uma xícara de café preto nas mãos.

- Nada. Nem uma palavra.

- Deixa, Francisca. Ele não é mais criança. Sabe o que está fazendo. Ele pode saber, mas eu não sei e isso me deixa insegura.

- Francisca. – Fala Jorge segurando as mãos da esposa. – Você não pode controlar o mundo, meu amor. Você já falou pra ele tudo o que você sabia. Agora cabe a ele decidir o próprio futuro, o próprio destino. Nós o criamos bem. Tudo vai dar certo. Fique tranquila e confie em Deus!

- Eu confio. É o que eu posso fazer!

- Fazer o quê? – Pergunta Pedro entrando na cozinha e pegando uma xícara limpa sobre a mesa para se servir de café.

- A lista de compras das coisas que eu vou precisar da feira. – Responde Francisca pensando rapidamente.

- Dormiu bem, filhão? – Pergunta Jorge.

- Melhor do que normalmente durmo. Até queria dormir mais um pouco. Mas, Dona Francisca já tem missão pra mim e missão dada é missão cumprida, certo comandante? – Pergunta Pedro, batendo continência para Francisca.

- Para com a graça é que é, moleque. Vou pegar o papel e a caneta para fazer a lista. – Francisca se levanta e caminha até o aparador de madeira que fica na sala de jantar ao lado da mesa e abre a gaveta para pegar o papel e a caneta quando toca a campainha da porta.

- Mas a essa hora? – Pergunta Jorge.

- Nunca é cedo pra quem quer trabalhar meu filho. Responde Francisca. Deve ser o rapaz do jornal. – Responde Francisca caminhando até a porta de casa.

- Bom dia, aqui é a casa de Pedro? – Pergunta Paulo olhando para Francisca que acabara de abrir a porta com o bloco de papel e a caneta nas mãos.

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