50 - O terceiro encontro

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- E vamos logo que a fome é muita. – Fala Pedro descendo as escadas correndo.

- Menino! Te comporta! Tá querendo cair dessa escada? – Reclama Francisca enquanto coloca a travessa com a carne assada de panela que fez para o jantar da família.

- Larga o menino de mão. Até parece que ele ainda é uma criancinha, mulher. – Fala Jorge rindo, sentado à mesa.

- Diz que não é uma criancinha, mas chama de "menino". – Reclama Francisca. – E além do mais, já te disse que pra mim, sempre vai ser meu bebezinho. – Fala Francisca passando a mão na cabeça de Pedro que se senta na cadeira próxima ao Jorge.

- Hum, hum... Tão difícil ver toda essa felicidade nessa casa na hora da refeição que já tô até estranhando. – Fala Carmem.

- Não tem o que estranhar não, tia. A gente tem mais é que ser feliz enquanto pode mesmo.

- Que os anjos digam amém. – Responde Carmem

- Anjos não existem! – Fala Pedro com uma voz tremula e rouca e o olhar fixo.

- O quê? – Pergunta Francisca.

- Minha cabeça! – Grita Pedro levando as mãos até a cabeça como se quisesse impedir que ela se abrisse em duas partes, antes de cair ao chão se debatendo.

- Meu filho! - Grita Francisca.

- Pedro! – Jorge se levanta da mesa e corre em direção ao filho para acudi-lo. – Pega uma almofada, rápido! – Grita Jorge enquanto tenta segurar a cabeça do filho para que não bata contra o chão da sala de jantar.

- Eu pego. – Fala Carmem correndo em direção ao sofá para pegar a almofada.

- Pai nosso que estás no céu... – Reza Francisca enquanto chora desesperada.

- Tua oração não vai te ajudar em nada! – Grita a voz através da boca de Pedro.

- Me ajuda aqui, Francisca. Segura as pernas do nosso filho.

- Aqui a almofada. – Carmem entrega a almofada para Jorge.

- Coloca embaixo da cabeça dele. – Grita Jorge para Carmem.

- Talvez você acredite que as orações dela não iriam ajudar nosso menino. Mas foram elas que permitiram que eu viesse até aqui. – Fala Martins que surge vestido em uma túnica branca por trás de Carmem, que tenta segurar os ombros de Pedro, enquanto ele se debate no chão.

- Quem lhe chamou aqui, velho bastardo! – Grita a voz através de Pedro.

- Seu sofrimento me chamou, filho.

- Não sou eu que estou sofrendo. É este por quem falo que está se metendo onde não deveria que deve sofrer.

- O que é isso que ele está falando? – Pergunta Carmem, sem entender o que está acontecendo.

- Meu neto não está aqui para prejudicá-lo. Ele só quer lhe ajudar.

- Não preciso da ajuda de ninguém. Muito menos da dele.

- Venha a nós o vosso reino, seja feita a sua vontade...

- Já falei que é para parares de rezar velha maldita.

- Respeita tua mãe! – Grita Jorge para Pedro.

- Há muito que não tenho mãe!

- Não é Pedro, Jorge.

- Filho... Todos precisamos de ajuda. Principalmente da ajuda de Deus.

- Deus não existe! Nunca existiu!

- Rezem comigo. Me ajudem, por favor. – Pede Francisca.

- Não quero ouvir orações... – Grita a voz enquanto tenta libertar o corpo de Pedro das mãos de Jorge e Carmem.

- ...assim na Terra como no céu, o pão nosso de cada dia nos dai hoje... – Acompanham Carmem e Jorge a oração de Francisca.

- Você sabe que Deus existe. Foi ele quem me mandou aqui para lhe ajudar. – Fala Martins colocando a mão direita sobre a fronte de Pedro.

- ... perdoai as nossas ofensas...

- Vocês não podem me vencer. Esse moleque tem que sofrer! – Grita a voz rouca que fala através da boca de Pedro.

- ... assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...

- Pai, ajudai este teu filho que precisa tanto de tua ajuda, senhor. – Pede Martins. Enquanto fecha os olhos, com a mão ainda sobre a fronte de Pedro.

- Não nos deixei cair em tentação...

- Ainda não é hora de eu partir. Ele precisa sofrer. – A voz grita enquanto Pedro se debate no chão como se estivesse em uma crise convulsiva.

- Eu te peço senhor... – Continua Martins.

- ..., mas livrai-nos do mal...

- Não! – Pedro abre a boca, desesperado, puxando ar se fosse sua última respiração.

- Obrigado, Pai. – Agradece Martins.

- ... Amém! – Martins, Jorge e Carmem Concluem a oração.

O corpo de Pedro para de se movimentar. Está imóvel. Não mexe um músculo. Não abre os olhos e nem sequer respira.

- Pedro? – Fala baixo Francisca, quase sussurrando, chamando pelo filho.

- Filho? Responde por favor. – Pede Jorge.

- Meu Deus! Ele está...? – Fala Carmem sem conseguir terminar a pergunta.

- Retorne para seu corpo, meu filho. Sua família o aguarda. – Pede Martins.

Em um movimento brusco, Pedro solta todo o ar que havia inspirado e se posta sentado no chão da sala no meio dos pais e da tia.

- O que aconteceu? – Pergunta ele, assustado.

- Graças a Deus. – Fala Jorge aliviado.

- Meu filho. – Francisca chora abraçando Pedro que ainda estava sentado no chão.

- O que foi que houve? – Pergunta Pedro mais uma vez sem entender o que havia acontecido.

Carmem só consegue se benzer e chora, sem conseguir falar nada mais.

- Obrigado, Deus! – Agradece mais uma vez Martins estendendo as mãos sobre o neto que ainda está chão, sendo abraçado por Francisca, enquanto desaparece lentamente.        

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