6 - Prazer, Eusébio.

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A noite começa a se fechar sobre a casa de Vitória. Ela e Margot saem pela porta da frente e passam do portão que separa a pequena casa da rua.

- Fica tranquila que o Centro em que o tio Eusébio trabalha não é muito longe daqui e logo ele vai te dizer o que deves fazer e como agir diante disso que está acontecendo contigo.

- E o que está acontecendo comigo, Vitória?

- Deixa de bobagem. Tu sabes o que eu quero dizer.

- Eu tô brincando contigo, boba.

As duas seguem rindo pela rua, já tomada pela escuridão da noite. Alguns poucos postes estão acesos e o caminho é escuro, mas os faróis dos carros que passam pela movimentada rua iluminam bem o caminho.

Ao chegar à porta do Centro Margot fica parada olhando para a porta.

- Vitória. Não sei se devo entrar. Não sei se é isso mesmo que está acontecendo comigo. Será que isso não é uma grande fantasia da minha cabeça?

- Para com isso Margot. Como que tu ias inventar aquela estória da Lúcia, mulher?

- Não sei... Intuição... Adivinhação... Vai ver comentaste comigo e não lembras...

- Margot! Para com isso. Fica tranquila. Se for ou não for mediunidade o tio Eusébio vai te dizer. Lembra que a gente veio aqui pra conversar e tentar achar uma resposta pra ti. É só isso! Nada mais.

- Tá bom. Vamos entrar.

O Centro Espírita era um lugar simples, quase rústico. Tinha uma pequena passarela que levava a um salão onde vários bancos cumpridos se arrumavam um atrás do outro, de um lado e do outro, como em uma igreja. Um corredor central, entre os bancos, era o acesso que levava ao fundo do salão onde tinha uma mesa de fórmica branca e umas dez cadeiras onde algumas pessoas já estavam sentadas.

Ao lado dessa mesa maior, existia uma menor, onde tinha uma cadeira na cabeceira e bancos compridos ao lado.

Ao lado da passarela que levava da porta do centro até o salão existia um jardim, como um quintal, com plantas e árvores frutíferas.

Simples, modesto, mas bem cuidado. E no meio da passarela uma pequena cabana que funcionava como livraria. Era lá que estava Eusébio. Ele aparentava ter uns 68 anos. Cabelos grisalhos, óculos de aro de metal e um sorriso constante no rosto.

As pessoas passavam por ele e o cumprimentavam como se fosse um velho e bom amigo. Ele cuidava da livraria, que só vendia livros espíritas.

Ele estava conversando com algumas senhoras quando olhou em direção às duas que estavam entrando no Centro.

- Com licença. – Eusébio se despediu das senhoras e caminhou até às duas.

- Vitória, Vitória, Vitória. Só assim para vires até aqui. – Eusébio a abraçou com um carinho que estava há muito tempo guardado.

- Oi tio! Há quanto tempo. Tava com saudades do senhor. Nunca mais foi lá em casa.

- Tempo, minha filha. Muita coisa pra resolver e pouco tempo pra viver. – Eusébio vira para Margot e a cumprimenta e se apresenta. – Essa deve ser sua amiga. Tudo bom minha filha? Eusébio.

- Boa noite seu Eusébio. – Disse Margot um pouco tímida.

- Prazer, Eusébio. "Seu" não. Por favor. Me chame só de Eusébio. Senhor, só no céu. – Eusébio fala isso com um sorriso gostoso enquanto abraça Vitória.

- Desculpe.

- Mas me diga o que posso fazer por vocês?

- Tio... – Responde Vitória– A Margot está passando por umas coisas meio estranhas, mas ela está com medo de falar com o senhor.

- Não é medo. – Retruca Margot.

- É medo sim. E na verdade não é só de falar com o senhor. É medo de falar com qualquer um.

- E o que está acontecendo exatamente? – Pergunta Eusébio.

- Nada demais. – Se apressa Margot em responder.

- Como "NADA DE MAIS"? – Se assusta Vitória– Falar com gente morta é uma coisa normal por um acaso.

Eusébio dá uma gargalhada diante da indignação da Vitória.

- Calma Vitória. Fique tranquila minha filha. Posso conversar com sua amiga? – Pede Eusébio.

- Claro tio. Desculpa. Foi pra isso que a gente veio aqui. Pra que ela possa conversar com o senhor. Vá lá. Obrigado!

- Venha filha. Vamos nos sentar ali para podermos conversar melhor.

Eusébio acompanha Margot até alguns bancos que estavam no final da passarela, antes do Salão, ao lado de uma mesa onde estavam dispostas garrafas de água.

- Fique tranquila. Pode falar o que está acontecendo?

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