55 - A Escolha final

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- Eu morria. Infartava na hora. – Fala Vitória mexendo o pequeno copo de café no corredor da firma.

- Quase que eu morro, mesmo! Não de medo do menino. Mas do susto de vê-lo repentinamente, diante de mim.

- Eu não estou falando só do menino. Estou falando de tudo. Do menino, do sonho, do homem sem rosto... Como pode tudo isso? Eu chego a ficar aflita só de me imaginar em uma situação dessas.

- O pior de tudo é que eu sei o que tenho que fazer, mas não sei se tenho coragem de fazer isso.

- Ai amiga. Eu acho que não sou a melhor pessoa para lhe dar conselhos uma hora dessas.

- Não é isso, Vitória. Na verdade, eu não estou sabendo como posso chegar para a família do menino e falar algo assim, para eles.

- Você está querendo falar o que para família do menino? Que ele anda te visitando à noite? Amiga, na boa, você sabe que o pai do menino não acredita muito em espiritismo. Isso pode acabar te metendo em confusão.

- Eu sei. Eu lembro do que o avô dele me contou. Mas o que você quer que eu faça?

- Não sei. Eu te disse que eu não era a melhor pessoa para pedires conselhos. Só acho que vai ser estranho você chegar com a família do menino e dizer para eles: Olha, eu sonhei que estava em uma cidade deserta com um homem sem rosto no meio dela e quando acordei, seu filho apareceu para mim pedindo socorro!

- Por um acaso vocês estão falando daquele garoto que o avô queria processar os médicos? – Pergunta Alfredo, que chega interrompendo a conversa das duas.

- Ai Alfredo, vai assustar a tua avó! – Grita Vitória.

- Poxa Vi, ela já está até morta! – Responde Alfredo fazendo careta de triste, para brincar com Vitória.

- Espera um pouco. Depois vocês namoram. Por que estás perguntando isso? – Questiona Margot.

- Porque o avô está lá na recepção querendo falar contigo.

- Como assim, na recepção?

- Bem ali, na recepção da empresa. – Diz Alfredo apontando para o final do corredor, onde fica a recepção.

- É a chance que você precisa para falar o que aconteceu. – Diz Vitória.

- É claro que eu não vou falar nada. – Responde Margot.

- O que foi que aconteceu que você precisa falar? – Pergunta Alfredo.

- Nada! –Respondem as duas ao mesmo tempo.

- Calma. Foi só curiosidade, mesmo. – Fala Alfredo levantando as duas mãos como se estivesse se defendendo. - Agora já posso voltar para o meu trabalho. – Alfredo começa a dar meia volta para voltar para o escritório, mas para e se volta para Vitória.

- Falando em trabalho... O que você vai fazer mais tarde, quando sair do escritório? – Pergunta Alfredo meio sem jeito.

Margot baixa a cabeça e olha para Vitória segurando um sorriso na boca.

- Eu? – Pergunta Vitória, um tanto surpresa, com a pergunta feita por Alfredo.

- É. Você!

- Não sei... Casa, eu... Ããã... Quer dizer... Nada. Não... Não sei. – Responde Vitória um tanto atrapalhada sem saber exatamente o que deveria falar.

- Legal. A gente vai pegar uma pizza, então. Te pego na hora da saída. Tchau! – Responde Alfredo, rapidamente, para não perder a coragem e se vira novamente, voltando para o escritório.

Vitória fica parada, olhando para Alfredo que vai em direção à sala onde trabalha e, sem virar o rosto para Margot, que está tentando segurar o riso, ela fala, levantando o dedo indicador.

- Se você abrir a boca para dizer qualquer coisa sobre o que acabou de acontecer, eu juro que nunca mais falo contigo.

Margot faz um sinal de que está fechando a boca com chave e sai caminhando em direção à recepção enquanto fala:

- Imagina se eu vou falar alguma coisa. Tem um senhor na recepção me aguardando que quer conversar comigo. E depois vou ver o que vou fazer de noite, já que minha amiga tem um encontro para ir, né?

- Margot! – Adverte Vitória, enquanto escuta Margot rindo enquanto caminha em direção à recepção.

Margot entra na recepção da empresa e vê Paulo sentado no sofá preto de couro vegano e vai em direção dele, que ao olhar Margot se aproximando se levanta para falar com ela.

- Boa tarde seu Paulo. Me disseram que o senhor quer falar comigo.

- Quero sim. Primeiro, eu queria lhe agradecer e lhe dizer que finalmente meu genro aceitou que levemos o Davi para tentar o tratamento espiritual no Centro Espírita.

- Nossa! Que boa notícia, seu Paulo.

- Eu também acho. Mas eu não sei como devo proceder, agora. E não me veio outra pessoa à cabeça para conversar sobre isso, além de você.

- Eu?

- Sim. Você foi a primeira pessoa a me falar sobre a possibilidade de meu neto receber ajudar através do tratamento espiritual.

- Lembro.

- Então. Por isso eu vim lhe procurar.

- Mas, seu Paulo, não sei se eu cheguei a falar para o senhor naquele dia, mas eu só fiz lhe dizer a mensagem que pediram para lhe dizer.

- Você disse que foi pedido para que você me dissesse, só não me disse quem falou.

- Desculpe. Quando lhe falei, foi quando as coisas relacionadas com a espiritualidade começaram a acontecer na minha vida e eu não sabia exatamente como lidar com tudo o que está acontecendo.

- E agora, você está se sentido mais segura. – Fala Joana.

- Estou, sim. – Responde Margot, concordando com o Joana que surge por trás de Paulo.

- Está o quê? – Pergunta Paulo.

- Diga que leve o menino esta noite ao Centro. – Continua Joana. - Mas, primeiro, que fale com os responsáveis pelo trabalho espiritual para que possam se preparar. A espiritualidade estará pronta para auxiliar em tudo que for preciso. Mas não depende somente de nós, muito dependerá da família e do próprio menino. Da sua vontade de seguir vivendo a encarnação que lhe foi destinada.

- Margot? – Chama Paulo sem entender o silêncio de Margot na recepção da empresa.

- Desculpe. – Se recompõe Margot. – O senhor deve levar seu neto para a casa espírita, sim. O senhor já falou com alguém que trabalha no Centro?

- Ainda não falei com ninguém, além de você.

- Entendo, seu Paulo, mas eu não sou uma trabalhadora da casa. Não tenho como responder por eles. Ainda estou aprendendo, juntamente com o senhor e outros que frequentam o Centro.

- Mas já tem mais conhecimento do que eu ou qualquer um de nossa família.

- Eu vou estar lá, esta noite. Mas é importante que o senhor, fale com os trabalhadores da casa. Sozinha, eu não poderei fazer muito pelo seu neto.

- Eu tenho o telefone daquele senhor que conversei quando estive na casa.

- O seu Eusébio? Ele é o tio de uma amiga minha aqui do escritório. Era ele mesmo que eu iria pedir para o senhor falar.

- Muito bem, filha. – Fala Joana. Nós estaremos lá para lhes auxiliar em tudo o que for preciso. Fiquem em paz e que a luz de Deus vos acompanhe.

Margot faz um movimento com a cabeça, agradecendo Joana.

- Já que ela trabalha aqui com você. Poderia confirmar com ela o número do telefone? Eu não sei se anotei corretamente.

- Claro que confirmo. – Responde Margot pegando o telefone das mãos de Paulo, enquanto vê Joana se afastando e desaparecendo.

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