3 - No Hospital

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- Tinha um homem dentro do carro comigo. Um homem que não estava lá antes. Surgiu do nada. – Fala Pedro ainda assustado com o que havia acontecido.

- Não tinha ninguém dentro do carro com o senhor não. – Respondeu um homem grisalho que estava segurando Pedro pelo braço ajudando-o a se sentar. – Acho que o senhor está muito nervoso. Mas daqui a pouco chega o socorro e o senhor já vai ser atendido.

- O senhor quer ligar para alguém? – Perguntou uma senhora gorda que carrega uma sacola florida e com um celular nas mãos.

- Não precisa não. Só vai assustar meus pais. Deixa que depois eu falo com eles. – Respondeu Pedro para a mulher.

Pedro olha para o carro tentando entender o que havia acontecido. Fica pensando, tentando imaginar se em algum momento do dia ele teria recebido um sinal, um aviso, qualquer coisa que o fizesse acreditar que aquilo aconteceria com ele, além da estranha sensação de cansaço que teve ao acordar, da torneira, da pia suja com água e ferrugem e se lembra de que teve um sonho.

O sonho. Ele começou a lembrar de pequenos momentos, pequenos pedaços, como um grande quebra-cabeça. João. Que João? Quem era João? De repente tudo fica branco, um estranho brilho toma conta de tudo e Pedro vê ao longe uma cruz que já há muitas horas estava fincada sobre o monte.

Aproximou-se lentamente, sentia um estranho orgulho, mesmo sem saber por quê. Pedro estava sentindo o orgulho que outro tinha pelo trabalho. Pedro estava sentindo o que outro homem sentia. Ele recebia os sentimentos de outro homem.

- Como vai filho? – Perguntou o homem que surge ao lado de Pedro, em frente ao monte com a cruz. Não estavam mais no local do acidente e Pedro não sabia como havia saído de lá.

- Quem é você?

- Você sabe quem eu sou. – Responde ele com uma calma e segurança como Pedro nunca havia sentido antes.

Os olhos de Pedro correm o espaço e ele percebe paredes e uma cama que não estavam ali há pouco. Sua cabeça começa a girar e um incômodo enjoo surge. Pedro tenta caminhar até uma porta que imagina ser o banheiro do quarto.

Ele, definitivamente está em quarto de hospital. Cai ao chão levando consigo um pouco da dignidade que tentava manter para não assustar quem estivesse próximo a ele.

- O senhor está pensando o quê? Que só porque acordou já pode sair andando por aí. Pode tratar de ficar deitadinho. - Falou a enfermeira do plantão daquela manhã.

- Mas eu só quero ir ao banheiro. Não estou me sentindo muito bem.

- Peça que a gente lhe ajuda. O que não pode é o senhor ficar se levantando sozinho.

- O que aconteceu comigo? - Pergunta Pedro, ainda apoiado pela enfermeira que o acompanha de volta à cama.

- O senhor sofreu um acidente. O doutor pediu que o senhor ficasse aqui em observação e que nós o chamássemos quando o senhor acordasse.

- Que ótimo! Então pode chamar que eu já estou acordado.

- Pode até estar acordado, mas ainda não está bom. Então trate de ter paciência.

- Olha só quem acordou. Nosso paciente das 9h35. - Falou Márcio, um simpático enfermeiro que entrou no quarto da observação trazendo uma bandeja com alguns aparelhos sobre ela.

- Ele é sempre assim - Disse para Pedro um senhor que estava parado na porta do quarto olhando para Pedro.

Márcio vem em direção a Pedro para ajudar a enfermeira que não consegue apoiar Pedro, sozinha.

O senhor já não estava mais na porta. Havia entrado no quarto e estava caminhando tranquilamente.

- Só ainda não descobri por que ele é tão alegre o tempo todo. Mas isso não me incomoda. Até me deixa mais tranquilo. Melhor do que ela, que de vez em quando está com um humor péssimo.

Pedro tenta acompanhar a conversa do senhor enquanto os dois enfermeiros lhe colocam deitado na cama.

- Pronto agora sim. - Disse Márcio.

- E o senhor faça o favor de parar com essas coisas. Aprenda com o seu Samir.

- Sou eu. - Disse o senhor.

- O que o senhor está fazendo aqui seu Samir? O senhor não sabe que o senhor não pode ficar andando por aí? E outra coisa: eu não tenho um humor péssimo. Só quando meus pacientes fazem o que não devem.

- Maria, Maria.... Venho aqui tantas vezes que já sou da casa. Prazer, Samir Salmem. - Disse Samir estendendo a mão para Pedro.

- Que bom. Como vai? Me chamo Pedro.

- Que bom? Não entendi.

- Pensei que fosse mais uma visão. – Fala Pedro.

- Muito bem. Agora os dois queiram se comportar. Tem outras pessoas no quarto que precisam descansar. Seu Samir, já para o seu apartamento. – Ordena Maria se dirigindo ao velho Samir que insistia em usar chinelos com um par de meias com as pontas cortadas para que seus dedos pudessem respirar.

- Vamos meninos obedeçam a tia Maria. Senão ela ralha. - Brinca Márcio.

- Tá vendo como eu tenho motivo de sobra pra me aborrecer. – Reclama Maria.

- Visões.... Interessante.

- Amanhã vai ser "interessante". Agora o senhor vai para o seu quarto, de onde o senhor não deveria ter saído. – Fala Maria novamente a Samir.

- É melhor eu ir. Mais tarde conversamos, meu rapaz! Descanse.

- Vamos seu Samir. Eu lhe acompanho - Márcio pega a bandeja com os aparelhos que havia deixado sobre a cama e segue com Samir.

Maria fica arrumando Pedro e o lençol da cama.

- Está confortável agora? Melhorou o enjoo? Pergunta Maria enquanto termina de fazer anotações na prancheta com a ficha de Pedro.

- Sim. Obrigado.

- Que bom. Provavelmente foi só uma tontura por ter ficado tanto tempo deitado, mas quem vai lhe dizer é o doutor que vem lhe examinar já, já.


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