27 - A Despedida De Martins

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- "Segue o caminho predestinado para ti pelo Senhor, que te mostrou a direção correta para que encontrasses a paz necessária para que possas evoluir".

As palavras ecoam na mente de Martins, que deitado na cama, no quarto escuro, balbucia olhando para cima, como se visse alguma coisa entre a cama e o teto de seu quarto.

- Mas como posso seguir o caminho se acredito ainda não ter finalizado tudo o que deveria ter feito nesta vida?

- "Não te preocupes com o destino que acreditas ter que cumprir. Deus sabe o que é melhor para ti."

Ao ouvir aquelas palavras, uma pequena lágrima se forma no canto do olho de Martins e corre pelo rosto molhando o travesseiro.

- Tenho que aceitar e partir? Mesmo sem ter a certeza do destino?

- "A certeza de termos chegado ao final do nosso destino só cabe a Deus. Não é necessário que sofras por isso".

Pela porta entreaberta, Francisca olha para o pai na cama e baixa a cabeça chorando, junto com ele.

- O que está acontecendo? Por que você está parada na porta do quarto do papai? – Pergunta Carmem que se aproxima e fica atrás da irmã, parada no corredor da velha casa.

Tentando disfarçar as lágrimas no rosto, Francisca respira fundo e limpa rapidamente o rosto.

- Nada, minha irmã. Nada.

- Francisca, eu te conheço há quase cinquenta anos. Achas realmente que vais conseguir me enganar, limpando essas lágrimas e querendo que eu acredite que nada está acontecendo.

Francisca se vira para Carmem e, sem conseguir segurar as lágrimas, desabafa.

- Acho que nosso pai não passa desta noite, Carmem.

- Por que achas isto?

Tentando segurar o choro para que o pai não escute o que está acontecendo na porta do próprio quarto, Carmem responde sussurrando.

- Ele estava falando, acabei ouvindo a conversa e não sei o que eu posso fazer para ajudar.

- Como assim? Ele estava conversando com quem? Não tem ninguém no quarto com ele?

- Eu sei Carmem. Não tem ninguém com ele. Deixa. É melhor esquecer.

- Francisca... – Responde Carmem, sussurrando irritada. - Durante vários anos eu escutei de vocês essa estória que é para eu esquecer, para eu deixar, para eu não me importar, mas eu me importo. Me importo com vocês. Me importo com a minha família, me importo com aqueles que eu amo e eu preciso saber o que está acontecendo aqui. Ou você me fala, ou eu vou perguntar diretamente para o papai.

- Não precisa se preocupar, filha. – Fala Martins de dentro do quarto. – Não sei o que sua irmã tenta esconder de vocês, mas seja lá o que for, eu não tenho mais por que esconder de vocês duas o que eu sei. Venham aqui. Precisamos conversar.

Francisca e Carmem se olham assustadas e entram lentamente no quarto.

- Desculpa, pai. Não foi nossa intenção incomodar o senhor. – Fala Francisca sem levantar os olhos do chão.

- Não foi mesmo nossa intenção. – Completa Carmem enquanto arruma os lençóis sobre as pernas de Martins.

- Deixem disso, meninas. – Responde Martins em meio a um sorriso já cansado. – Vocês nunca me incomodaram e não é agora que irão começar.

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