67 - O Convite

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          Hernan está sozinho no Centro Espírita, sentado no banco da frente, próximo à mesa principal, colocando alguns livros em uma velha caixa de papelão.

- Lembro bem quando era eu o responsável pela arrumação da biblioteca da casa. – Fala Luís, enquanto caminha pelo corredor principal do Centro espírita em direção à mesa onde Hernan, que se vira para olhar quem está falando com ele.

- Ninguém pediu para que o senhor saísse. – Fala Hernan, voltando a arrumar os livros que estão sobre a mesa na caixa.

- Nem foi preciso que pedisse, não é verdade? – Responde Luís sentando-se na primeira fila dos bancos.

- O que o senhor está querendo dizer com isso? – Fala Hernan sem parar de arrumar os livros.

- Exatamente o que eu disse. Sempre muito direto, filho. Não uso de metáforas e meias-verdades para dizer o que quero.

Hernan larga o livro na caixa, para e fala rispidamente para Luís. - O senhor está querendo de dizer que eu uso de meias verdades para dizer o que penso?

- Será que eu não posso me atrasar 10 minutos que vocês já começam a discutir? – Fala Eusébio entrando no centro.

- Nunca foi minha intenção discutir com ninguém, amigo. – Responde Luís para Eusébio, enquanto se levanta para cumprimentá-lo. - Até porque quando cheguei aqui, pensei que já fosse lhe encontrar.

- Peguei um pequeno engarrafamento a poucos quarteirões daqui. – Responde Eusébio.

- Os dois aqui, juntos. Agora as coisas estão ficando mais claras. – Fala Hernan

- Calma Hernan. Vim um pouco antes para conversar com você. E pedi que Luís estivesse aqui porque preciso falar com ele, depois.

- E qual o assunto? – Pergunta Hernan enquanto fecha a caixa.

- Antes que vocês comecem, vou deixá-los à vontade. Vou aguardar o final da conversa ali no jardim.

- Obrigado, amigo. – Fala Eusébio.

- Bem, Hernan. – Começa Eusébio enquanto Luís caminha em direção ao jardim. – O assunto que preciso falar com você é sobre um trabalho que precisamos realizar aqui no Centro.

- Um trabalho?

- Exatamente. Um trabalho para ajudar uma criança.

- O senhor sabe que não estamos mais realizando trabalhos espirituais nesta casa.

- Eu sei. E o trabalho não será realizado pela casa. Será realizado na casa.

- Como assim?

- Não será a equipe de trabalhadores do Centro, Hernan. E o trabalho não será coordenado por você.

- Então eu não estou entendendo?

- Está sim. O trabalho será realizado neste Centro. Exatamente como acontecia antigamente. Seguindo as recomendações do tipo de trabalho que o Samir sempre realizou nesta casa.

- O senhor sabe que muita coisa mudou desde o desencarne dele.

- E você sabe que muitas mudanças ele não aceitaria, como muitos irmãos não aceitaram.

- E o que o senhor pretende? Fazer um trabalho de qualquer maneira? Sem o apoio da espiritualidade?

- Por favor, meu filho. Você me conhece muito bem e sabe que eu não faria uma irresponsabilidade dessas. O trabalho seguirá todas as recomendações e terá todo o suporte espiritual que sempre tivemos.

- Eu não vou permitir isso.

- Calma, filho. Lembre-se que o Centro não é seu.

- Mas sou eu que estou administrando este Centro e nenhum trabalho será realizado por esta casa sem a minha autorização.

- Como lhe disse antes, não será um trabalho desta Casa Espírita. Será um trabalho neste espaço físico. E como eu já imaginava que você agiria dessa forma, me antecipei e falei com o Nabih, filho do Samir, que já nos deu a autorização para que o trabalho fosse realizado. Por uma questão de respeito, preferi lhe comunicar pessoalmente antes que começássemos as nossas reuniões para que evitemos situações desagradáveis.

- Eu não acredito que o senhor passou por cima da minha autoridade.

- Hernan, meu filho. Não existe autoridade em um trabalho espiritual. Todos somos servos do senhor. Todos nós, sem exceção, estamos aqui para realizar os trabalhos que nos foram incubados de realizar para ajudar aos irmãos encarnados e desencarnados. Nenhum de nós quer medir forças com ninguém.

- Bem... – Fala Hernan voltando a mexer nos livros que ainda restavam sobre a mesa. - Se era o assunto da sua visita nesta casa, acho que já terminamos e o senhor e seu Luís já podem ir embora.

- Na verdade não era só isso que gostaríamos de conversar com você. – Responde Eusébio se levantando do banco e virando-se para Luís que estava no jardim do Centro. – Luís! Venha cá amigo.

Enquanto Luís caminha em direção a mesa, Hernan pergunta:

- Qual a sua intenção, agora? Querer mostrar para seu Luís que conseguiram o que queriam.

- Ô meu filho, por que tanto rancor nesse coração? Ninguém quer ser superior a ninguém.

Luís se aproxima de Hernan e fica em pé, ao seu lado.

- Já expliquei ao Hernan sobre o trabalho que realizaremos nesta casa, Luís. Agora você pode falar. – Fala Eusébio.


Luís se senta no banco ao lado de Hernan, respira fundo e fala:

- Nós gostaríamos de lhe convidar para participar desse trabalho conosco.

- Como? – Responde Hernan sem conseguir entender exatamente o que tinha acabado de ouvir.

- Hernan, você sabe que eu sempre o respeitei como sendo um dos melhores doutrinadores. E acredito que as diferenças que temos sobre a forma como você está administrando esta casa, não interfere em absolutamente o trabalho espiritual que você realiza.

- Só pode ser brincadeira. – Rebate Hernan.

- Em absoluto! – Responde Luís. – Você sabe que eu nunca brincaria com algo assim.

- Não foi isso que eu quis dizer. – Responde Hernan mais rispidamente.

- Calma. Só estou fazendo questão de deixar tudo o mais claro possível para evitar mel entendidos. – Responde Luís.

- Todos nós já sofremos muito com as desavenças que aconteceram nesta casa, filho. – Fala Eusébio. – Esse trabalho pode ser a oportunidade que a espiritualidade está nos dando para resolvermos nossos problemas.

- Ou colocando mais um problema entre todos nós. – Fala Hernan.

- Depende da maneira como enfrentaremos essa questão, juntos. – Responde Luís.

Hernan se levanta do banco em que estava sentado e dando a volta na mesa se vira para Eusébio e pergunta:

- Por que vocês querem que eu participe desse trabalho com vocês? E que trabalho é esse?

Eusébio caminha até Hernane responde a ele, passando o braço em volta do ombro de Hernan enquanto começaa caminhar com ele em direção ao jardim. - Vamos lhe explicar direitinho.

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