37 - A Decisão

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Carmem entra na sala de estar da velha casa e Francisca está sentada em frente à tv que está ligada em um canal de vendas de produtos farmacêuticos.

- Por que você está vendo isso? – Pergunta para a irmã enquanto se senta no sofá e pega uma bolacha de água e sal que estava no prato de vidro marrom, disposto sobre a mesa de centro. Ao lado do prato um copo já suado com um guaraná já quente, depois de ter ficado um tempo sobre a mesa sem que ninguém tivesse tocado no mesmo. – Francisca? – Insiste Carmem em chamar a atenção da irmã que, visivelmente não estava atenta nem à programação da velha televisão de tubo comprada no final da década de 1980 e nem à presença da irmã que acabara de entrar.

- Francisca, você já está me assustando, minha irmã.

- Desculpa... O quê? – Responde Francisca sem ter percebido exatamente o que a irmã havia falado há poucos instantes.

- Meu Deus. Onde é que você estava?

- Desculpa, Carmem. Eu estava pensando na mamãe.

- Ai meu Deus! Agora sou eu que quero sumir.

- Não fale assim minha irmã.

- Eu tenho que falar. Até porque eu acho que sei exatamente o que você estava pensando sobre a mamãe.

- Carmem, eu não aguento mais. É muito difícil pra mim saber o que vai acontecer com o Pedro e não poder falar nada pra ele. Não poder alertar meu filho. – Francisca leva as mãos ao rosto, tentando enxugar as lágrimas.

- Francisca... Calma minha irmã. Você sabe tão bem quanto eu que não é certo que vai acontecer.

- Mas pode.

- Mas não acho prudente você falar pra ele.

- E deixar que aconteça como aconteceu com a nossa mãe? Como já está acontecendo com ele?

- O que está acontecendo com ele é uma coisa muito boa, muito bonita. Ele está encontrando seu próprio caminho...

- Ele está caminhando ao encontro do destino que nossa mãe falava que iria acontecer com ele.

- Mas pode ser a missão dele.

- Mas não é justo! – Grita Francisca.

- Não grita, por favor. O Jorge pode acabar acordando e vai querer saber o que está acontecendo.

- E daí? Eu não estou aguentando mais mentir para o meu marido, para o meu filho, para a minha família.

- Francisca. Você sabe tão bem quanto eu que nossa mãe não estava bem, já perto da sua morte. Aquelas coisas que ela disse podem muito bem ter sido delírios dela.

- Delírios? Se eram delírios porque eu não posso falar pro meu filho?

- Eu nunca disse que você não pode. Só acho que não deve.

- Ah Carmem, eu não sei mais o que fazer, minha irmã.

Chorando, Francisca deita sua cabeça no colo de Carmem, que passa a mão pelos cabelos da irmã mais velha, lhe fazendo carinho.

- Fica tranquila. Você está abalada por causa da morte do papai. Você sabe que está nervosa. Todos estamos. Mas não estraga o futuro do teu filho, minha irmã. Não deixa que ele sofre por algo que nós nem sabemos se vai realmente acontecer ou não.

A velha porta da sala se abre e Pedro entra e olhando a mãe limpar as lágrimas que ainda estavam em seu rosto para poder esconder o choro.

- O que foi, mãe? O que está acontecendo?

- Nada demais, Pedro. – Continua Carmem. Sua mãe ficou mais abalada com a morte do papai do que parecia. Só isso.

- Não é verdade. – Fala Francisca.

- Francisca! – Responde Carmem, surpresa com a fala da irmã.

- Ele precisa saber, Carmem.

- O que eu preciso saber? – Pergunta Pedro, sem entender o que estava acontecendo.

- Senta aqui ao meu lado, filho. – Fala Francisca se arrendando um pouco, abrindo espaço para Pedro no sofá.

- Ai meu Deus! – Exclama Carmem, ainda mais assustada.

Pedro fecha a porta e caminha lentamente em direção à mãe e a tia.

- Eu acho que vou subir para tomar um banho. – Fala Carmem se levantando.

Francisca segura na mão da irmã e pede:

- Fica aqui, por favor. Você sabe que vou precisar da tua ajuda agora.

- Mas eu não acho que você deva falar sobre isso, agora.

- Ele tem o direito de saber. E você sabe disso.

- Vocês podem parar de falar como se eu não estivesse aqui e me dizer o que está acontecendo? – Fala Pedro se sentando no sofá ao lado da mãe.


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