47 - No Café

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Pela janela do Café da esquina, dava para ver um pequeno pássaro com penas pretas e brancas pousado no galho da árvore que ficava no jardim ao lado do pequeno salão.

- Algumas vezes só o que precisamos é de alguns momentos olhando o leve balançar de folhas no galho de uma árvore ou mesmo um pequeno pássaro pousado em um galho, para nos darmos conta da imensidão da natureza e de como somos tão pequenos diante da grandiosidade de Deus. Olhe aquele pequeno pássaro, você sabia que ele passou até três dias voando da América do Norte para chegar até aqui? Agora me responda, se existem outras pequenas criaturas que realizam feitos tão maiores do que os nossos, por que achamos que tudo tem que seguir nossos preceitos?

Será que somente nós sabemos como o mundo deve seguir?

Triste daquele que deixa o orgulho lhe dominar. Triste daquele que não acredita em Deus. Ou que não acredita no poder que Ele nos deu em tomarmos as decisões por nós mesmos e assim traçarmos nosso próprio destino.

- Mas em momento algum eu disse que não acredito em Deus. – Responde Pedro a Samir.

- Eu não disse que você não acredita em Deus, filho. O que eu estou querendo lhe dizer é que você pode não estar acreditando no poder que ele lhe deu para decidir como agir. Suas dúvidas... Seus medos... Seus questionamentos... Tudo me diz que ainda existe muita dúvida dentro de você.

- Mas não tem como eu não ter dúvidas. Tudo aconteceu muito de repente.

- Nada aconteceu repentinamente, meu filho. – Responde Samir enquanto deposita a xícara com café e espuma de leite no pires sobre a mesa. – Há muito que você sabe que existe algo diferente em você.

- Em mim?

- Não tem por que você se espantar e muito menos ficar envaidecido com isso. Como você já deve saber, todo médium tem uma carga de comprometimento muito grande. Não é à toa que viemos com a mediunidade mais sensível, digamos assim.

- O senhor também é médium, então?

- Como lhe disse, todos somos.

- Mas porque eu?

- E por que não, você? Afinal de contas, só Deus sabe quantas encarnações você está fugindo de suas responsabilidades com o seu próprio crescimento.

- Então todo médium é um devedor?

- Todos somos devedores, Pedro. – Responde Samir com um sorriso no rosto. – Todos nós temos nossos resgates a pagar aqui na Terra. Nessa e em encarnações futuras. Além dos que já pagamos em encarnações passadas. Nossos comprometimentos são tão grandes e em muitos casos tão complexos que em muitos casos o resgate envolve várias outras pessoas que conhecemos em situações absurdas.

- Como o senhor? Nos conhecemos no hospital, lembra?

- Claro que lembro, filho. E você sabia que eu briguei com meu filho para que não fosse internado?

- Então poderíamos não ter nos encontrado.

- Nada é coincidência, Pedro. Lembra daquele ditado que diz que Deus escreve certo por linhas tortas? Torta é como vemos as linhas em que Deus escreve, mas para Ele as linhas estão perfeitamente alinhadas conforme seu desejo.

- Entendi. E o que devo fazer, então?

- Confie em você assim como aquele pequeno pássaro acreditou na capacidade dele em voar de um continente a outro. Acredite que Deus não lhe daria uma missão se não tivesse certeza absoluta de que você teria condições e capacidade de seguir adiante com ela e terminar com êxito o que ele lhe delegou.

- Mas como o senhor pode ter tanta certeza, assim?

- Eu confio em Deus, meu filho. E já está na hora de você confiar nele, assim como ele confia em você. – S. Samir toma o último gole do café que está em sua xícara enquanto Pedro fica pensando em tudo que acabara de ouvir. - Agora melhor você voltar para o banco. O seu horário de almoço já está perto do fim e não quero que você tenha problemas com o seu gerente por minha culpa.

- A conta. Ainda não pedimos.

- Não se preocupe. Eu o convidei para este almoço. É por minha conta.

- Muito obrigado.

- Me agradeça pensando em tudo que conversamos. Não quero que me prometa decisões agora. Só quero que pense. Agora vá e fique em paz!

Pedro se levanta um pouco sem saber o que falar e caminha em direção à porta do café. Antes de sair olha uma última vez para trás e vê Samir falando com o garçom que os atendeu. Um sentimento forte de saudade toma conta de Pedro e ele, sem saber exatamente o que estava acontecendo, lagrimeja olhando para o rosto de Samir sorrindo para o garçom que lhe dá a conta.


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