43 - A Discussão Final

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- O senhor não está sugerindo que levemos o Davi àquele Centro Espírita esta noite. – Perguntou Antonio indignado com a proposta que acabara de ouvir de Paulo.

- Eu não estou sugerindo, Antonio. Eu estou lhe pedindo, meu filho.

- Eu sabia que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. – Ri sarcasticamente, Antonio.

- Antonio, por favor! – Pede Andreia, ao marido.

- Por favor o quê, Andreia? Eu falei para você que isso iria acontecer. Eu te disse que essa estória do seu pai procurar ajuda com mandingas e benzedeiras ia acabar dando nisso.

- Não são "mandingas" e nem "benzedeiras", Antonio. São pessoas sérias que estão se dispondo a ajudar seu filho.

- Eu não aceito esse tipo de ajuda! Eu não acredito.

- Meus Deus, qual a dificuldade que você tem em aceitar que existe um lado espiritual na vida de todos nós.

- Não é isso. Eu acredito sim em um lado espiritual. Só não posso aceitar expor meu filho à um bando de charlatões que irão usá-lo para querer se mostrar para uma plateia de crédulos.

- Não é nada disso, Antonio.

- Antonio, por favor meu marido. Já tentamos todo tipo de ajuda da medicina. Eu não aguento mais ver meu filho nessa situação.

- E por isso você vai expô-lo ao ridículo. Mais tarde vai querer o quê? Levar o Davi a esses programas que passam na tv para receber bênçãos?

- Para com isso, Antonio. – Grita Andreia, chorando. – Eu amo meu filho. Nosso filho. Se eu estou lhe pedindo isso é porque eu não aguento mais vê-lo sofrer com essa situação toda. Já são meses nisso e não tenho mais nenhuma esperança de que ele um dia fique bom.

- E por isso você vai aceitar qualquer um que se diga curandeiro, Andreia? É o nosso filho que está sofrendo. E eu não vou aceitar que alguém use o problema dele para tirar nenhum tipo de vantagem. Eu nunca iria me perdoar de expô-lo a isso.

- Antonio... – Interrompe Paulo. - Todos que estão ali isso só querem ajudá-lo.

- Com meu filho, não! – Fala Antonio se levantando do sofá e caminhando em direção ao quarto.

Paulo e Andreia ficam na sala. Paulo caminha em direção à Davi que está deitado na poltrona reclinável em frente à televisão que está ligada no canal de desenhos infantis.

- Oh, meu neto. Eu juro que estou fazendo tudo que eu posso para tentar lhe ajudar como lhe prometi. – Paulo começa a chorar passando a mão na cabeça do neto que está parado com o olhar vago. – Não fique triste com o posicionamento do seu pai. Nós, adultos, nem sempre tomamos as melhores decisões, você vai ser assim também. Nos deixamos levar pelo orgulho, pelo medo, pela mágoa e pela insegurança que temos em nem sempre termos certeza absoluta que o que estamos querendo para nós e para aqueles que amamos é o melhor. Eu não vou desistir. Nem de você e nem da nossa família. Muitas vezes podemos não concordar, mas estamos juntos para que possamos aprender a lidar uns com os outros. E saiba que seu pai quer o melhor para você. Do jeito dele, mas é o que ele acredita ser o melhor para você. Para todos vocês.

Andreia olhando o pai falar com o filho, enxuga os olhos, se levanta do sofá e vai em direção ao quarto falar com Antonio.

- Pelo amor de Deus, eu te imploro. Dá uma chance para o nosso filho. Ele não precisa continuar sofrendo desse jeito.

- Eu não acredito que você veio da sala pra continuar a discussão aqui no quarto. – Fala Antonio que está sentado na cama começando a tirar os sapatos.

- Você não me deu opção, Antonio. Você não está escutando ninguém, meu marido. Só quer saber da sua opinião.

- Não é verdade. Você não pode me acusar disso. Eu fui com você e seu pai naquele Centro Espírita.

- E escutou o que lhe falaram.

- Palavras vagas que poderia servir para mim como para qualquer outro.

- Antonio, falaram da sua mão.

- E quem me garante que já não sabiam que minha mão havia morrido. Não é muito difícil que a mãe de um homem da minha idade esteja morta.

- Por favor... Era só o que faltava, agora, você achar que existe uma grande conspiração para que você acredite no espiritismo.

- Eu acredito no que eu vejo, Andreia. E o que eu já vi, até agora, são pessoas que usam da credulidade e da inocência de outras pessoas para as enganar. Para mentir. Para manipulá-las e ganhar dinheiro com isso.

- Ninguém pediu nada, Antonio. Nada!

- Não pediram nada até agora. Quem te garante que não irão pedir?

- Quem me garante que amanhã nós estejamos vivos?

- Exatamente! Ninguém pode garantir nada, nem que estejamos vivos.

- Também não poderão garantir que Davi esteja vivo, amanhã. E eu não iria me perdoar de tentar tudo que fosse possível para salvar nosso filho. – Fala Andreia caminhando até a porta do quarto.

- Nem de expor seu filho ao ridículo?

- Para salvá-lo eu passo por cima de qualquer resto de orgulho que eu possa ter. Pode ter certeza disso. – Andreia sai do quarto fechando a porta por trás de si.

Antonio, fica parado olhando para a porta fechada, respira fundo e olha para o porta-retratos com uma foto onde Davi, Andreia e ele aparecem em frente ao globo do parque da Universal, em uma viagem que fizeram à Orlando há três anos, que está na mesa de cabeceira.

Antonio pega o porta-retratos e passa os dados sobre o rosto sorridente de Davi.

- Tão pouco tempo e tanta mudança em nossas vidas. - Antonio para, respira fundo e coloca o porta-retratos contra o peito. – Me perdoa se eu não souber que estou fazendo, meu filho. Me perdoa!


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