52 - No amanhecer

216 33 1
                                    

Andreia sai do banheiro terminando de colocar o brinco na orelha esquerda. Seu cabelo está solto e ela passa apressada pela frente de Antonio que está sentado na beira da cama olhando para o relógio de pulso que está em suas mãos.

- Você não disse que tinha uma reunião cedo, hoje, no escritório? – Pergunta Andreia enquanto veste o blazer que estava sobre a cadeira da penteadeira. – É melhor se apressar e terminar de se arrumar para não chegar atrasado.

- Você lembra quando ganhei esse relógio? – Fala Antonio mostrando o relógio de pulso em aço preto fosco para Andreia.

- Lembro. Foi o relógio que o Davi escolheu para te dar no último Dia dos Pais antes do... incidente. – Fala Andreia tentando buscar uma palavra que descreva a situação do filho.

- É. Antes do Incidente. – Antonio respira fundo, se levanta da cama e caminha para perto de Andreia que está sentada em frente ao espelho da penteadeira. – Você já percebeu que ninguém chama doença de incidente? E sabe por quê? Porque não é. São coisas distintas. E você já percebeu, também, que nós jamais conseguimos chamar o que Davi tem de doença? E sabe por quê? Porque nosso filho não está doente.

- Porque você está falando isso, Antonio?

- Porque hoje eu posso que ver que sempre soube o que estava acontecendo, mas nunca quis aceitar a verdade. O nosso filho não é doente. Hoje eu posso ver que ele está sendo atacado. Não sei o motivo do ataque, o que ele fez ou deixou de fazer, mas sei que ele está sofrendo e não posso deixar que a minha descrença em algo possa impedir a possibilidade de cura do nosso filho, mesmo que seja mínima. – Antônio olha para o relógio em suas mãos e continua. – Quando o Davi me deu esse relógio, me disse que ele havia escolhido esse modelo para que eu visse que mesmo no escuro o tempo continuaria correndo e que eu não poderia deixar o tempo passar sem aproveitar tudo o que eu tinha para viver. E, infelizmente, é exatamente isso que eu estou fazendo com nosso filho. Estou fazendo com que ele perca tudo o que ele tem para viver. E eu não quero mais ser o culpado pelo sofrimento dele, Andreia. Eu não quero que o nosso filho seja punido pela minha ignorância. Eu quero que nosso filho fique bom. E se para isso eu tiver que passar por cima desse meu orgulho ridículo, pode ter certeza de que vou passar. – Antonio começa a lagrimar e Andreia se levanta da cadeira e passa as mãos nos ombros do marido. – Fala com teu pai. Hoje nós vamos levar o Davi para o Centro Espírita e que Deus ajude nosso filho. – Antonio termina de falar, baixa a cabeça chorando e coloca a mão sobre os olhos como se tentasse esconder as lágrimas de Andreia, que o abraça e, também chorando, apoia a cabeça no peito do marido o abraçando.


Médiuns (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora