70 - O Telefonema

95 20 0
                                    

- Eu entendo. E lhe agradeço muito. Confio muito no trabalho de vocês e sei que é um trabalho sério. – Fala ao telefone, Paulo, sentado no sofá ao lado da mesa da sala onde está a base do telefone sem fio, um pequeno vaso com uma planta que se derruba sobre a mesa e um porta-retratos com uma foto de Davi, aos risos, entre Andreia e Antonio, em uma praia.

Andreia, abre a porta da sala carregando algumas sacolas de supermercados com alguns produtos.

- Rosilda? Corre aqui e me dá uma ajuda com as compras. – Pede Andreia se atrapalhando com as sacolas, enquanto tenta fechar a porta da sala.

- Meu Deus dona Andreia, mas nem precisava comprar nada, não. – Fala Rosilda vindo da cozinha enxugando as mãos com um pano de prato que coloca sobre os seus ombros para ajudar Andreia a carregar as sacolas.

- São só algumas coisas para preparar um caruru para o Davi. Você sabe que ele sempre gostou muito de comer caruru.

- Pode deixar comigo que eu vou já começar a fazer pro nosso menino. – Responde Rosilda se virando com as sacolas em direção a cozinha.

- Com certeza estaremos lá. Não se preocupe. Sabemos da importância de chegarmos no horário certo. – Fala Paulo ao telefone.

- Rosilda, com quem o papai está falando?

- Não sei dona Andreia. Mas ele estava nervoso a manhã inteira, andando de um lado para o outro. Só sossegou quando recebeu essa ligação. Já está falando há quase meia-hora. – Responde Rosilda baixinho. – Bem... deixa eu ir pra cozinha que tenho muito o que fazer agora.

- Sim, sim. Por volta das 19h30 estaremos lá. Muito obrigado, mais uma vez. – Fala Paulo antes de desligar o telefone.

- Esse "estaremos lá" me inclui, também? – Pergunta Andreia enquanto se senta ao lado de Paulo no sofá da sala.

- Não só você, mas também o Antonio e o Davi. – Responde Paulo segurando a mão que Andreia havia colocado sobre seu ombro.

- Não acredito, pai! – Responde Andreia tirando sua mão do ombro do pai. – Não faz nem uma semana do que aconteceu naquele Centro.

- Faz exatamente uma semana, filha. Foi na terça passada.

- E o senhor viu o que aconteceu.

- E você viu o que aconteceu com o Davi nos dias seguintes. Você mesma me contou a reação que ele teve quando cantou a música pra ele.

- Mas quem nos garante que foi pelo que houve lá no Centro?

- Minha filha, há anos que o Davi está nessa situação. Nos já tentamos vários tratamentos e nenhum deles fez com que ele tivesse nenhuma melhora, por menor que fosse. Você sabe disso? Não tire do seu filho a chance que Deus está colocando em nossas mãos para que ele possa ser ajudado.

- E se não for nada, pai Se ficarmos mais uma vez, na esperança de uma melhora que não chega nunca? Se o Davi estiver destinado a ficar assim para o resto da vida dele? O senhor acha justo fazermos com que ele passe por mais esse sofrimento? Achando que poderá ficar bom e no final nada acontecer?

- O que eu mais quero é que ele tenha, pelo menos, a oportunidade de perceber e poder escolher o que ele quer para ele. E no momento, nem isso ele tem, filha.

Antonio entra na sala escutando o final da conversa de Paulo com Andreia.

- Quem não tem o quê? – Pergunta Antonio enquanto caminha até a cadeira da sala onde ele havia deixado a pasta para pegar uns documentos que estão dentro dela.

Andreia olha para seu pai e antes de começar a falar ele fala:

- Falei com os responsáveis pelo Centro Espírita que fomos na semana passada com o Davi sobre um tratamento para tentar ajudá-lo e eles acabaram de me ligar informando que, se quisermos, eles poderão começar a fazer hoje mesmo. Só pediram que cheguemos lá às 19h30. Ele e nós três. Eles acham que esse tipo de ajuda tem que envolver a todos da família que moram com a pessoa que está sendo mais afetada por esse tipo irmão.

Antonio para de mexer na pasta e fica imóvel por alguns instantes, depois levanta a cabeça, respira fundo, se vira em direção a Paulo e Andreia e fala:

- Estaremos lá.

- Antonio, você acha uma boa ideia, amor? – Pergunta Andreia.

- Não sei mais o que eu acho, Andreia. Mas sei que precisamos tentar acreditar que nosso filho tem alguma chance de melhora. E, sinceramente, não posso mais deixar meu orgulho em achar que sei mais do qualquer outra possa tirar isso dele. Vamos sim!

Médiuns (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora