19 - O Pai de Davi

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- Eu não quero. Eu não aceito esse tipo de curandeirismo. – Reclama Antonio entrando na sala, onde Andreia está sentada no sofá com a cabeça de Davi no seu colo.

- Não é curandeirismo, Antonio. É um trabalho sério. – Fala Paulo, implorando pelo bom-senso do genro, enquanto segue atrás dele e se senta ao lado de Andreia no sofá. – O Davi não vai ser o primeiro e também não vai ser a última criança com problemas que eles poderão ajudar.

- Ótimo. Pode até não ser a última, mas não será a próxima.

- Pelo amor de Deus, por que vocês estão discutindo desse jeito? – Questiona Andreia.

- Eu estou tentando ajudar o Davi, mas seu marido não quer que eu o ajude, minha filha.

- Não diga isso que não é verdade. A sua ajuda será muito bem-vinda. Só não posso aceitar que o senhor exponha meu filho à um grupo de charlatões que usam a crendice popular para extorquir dinheiro de pessoas crédulas.

- Ninguém falou em dinheiro. Não me pediram nada.

- Até agora seu Paulo. Até agora.

- Você não pode acusar aquelas pessoas sem conhecer o trabalho que é realizado na casa.

- Eu não preciso conhecer o trabalho. Mas posso adivinhar. Teve gente gritando, chorando, pedindo ajuda. Aí aparece um homem com uma voz tranquila e o que estava se debatendo e gritando vai se tranquilizando até passar tudo e aí ele acorda e pergunta o que aconteceu. Não foi assim?

- Mais ou menos. – Responde Paulo sem entender como Antonio poderia saber do que aconteceu no Centro.

- E o senhor sabe como eu sei? Porque são todos iguais, seu Paulo. Estão se aproveitando do seu desespero, do nosso desespero. E vão tentar tirar dinheiro da gente usando o problema de Davi e isso eu não posso permitir.

- É só uma chance que eu peço, Antonio. Estamos há meses nessa situação e o Davi não melhora. Só faz piorar a cada dia que passa. Nenhum médico, nenhum hospital, nenhum exame... Nada e nem ninguém consegue nos dizer o que ele tem, meu filho.

- Seu Paulo, eu lhe respeito como respeitava meu próprio pai. E é por esse respeito que eu lhe peço para não insistir mais nesta estória. O meu filho não vai servir de atração num circo de horrores. Por favor não insista. – Antonio caminha em direção ao quarto.

Paulo tenta se levantar do sofá para ir atrás do genro, mas Andreia coloca sua mão sobre a perna do pai, pedindo para que ele fique e aguarde. Quando ouve a porta do quarto se fechando Andreia fala para o pai. – Pai, o que o senhor está querendo fazer para o Davi?

- Estou tentando ajudá-lo, minha filha. Eu estive em um escritório de advocacia para ver o processo contra o médico...

- Pai. Eu lhe falei que não era para processar ninguém. – Interrompe Andreia colocando a mão sobre os olhos.

- Eu sei, filha. Mas a minha indignação era maior e eu acabei agindo por impulso. Mas não vou seguir adianta, o que importa é que lá acabei recebendo uma mensagem que pode ajudar o Davi.

- Que mensagem?

- Eu já estava saindo do escritório, quando uma moça me falou que o problema do Davi é espiritual e que ele pode receber a ajuda que precisa em um Centro Espírita.

- E o senhor estava tentando convencer o Antonio disso?

- Eu preciso mostrar a ele que o Davi pode ser ajudado neste lugar.

- Pai...

- Eu já estive lá, minha filha. É um lugar humilde, simples. Eles não falaram em dinheiro em momento algum. As pessoas que estão lá, estão por caridade, porque querem ajudar. É só isso. – Fala Paulo com a aflição de um avô que quer desesperadamente ajudar ao seu neto.

- Pai. Eu também quero muito ajudar o Davi, mas o senhor tem que entender que nós já levamos ele à vários médicos e nenhum deles soube dizer o que nosso filho tem. E eu não quero me encher de esperanças mais uma vez para depois ver tudo ruir diante dos meus olhos.

- Minha filha, longe de mim fazer você ou o Davi sofrerem mais do que já sofrem com toda essa estória. Mas dê uma esperança ao seu coração. Dê uma chance ao seu filho. Eu estive lá, estou lhe falando, eu vi o que aconteceu. Eu vi o que pode acontecer com o Davi se ele tiver a chance de ir lá. Eu só peço isso...

- Pai...

- Melhor ainda, vá você comigo.

- Eu, pai?

- Uma só noite. Uma só visita. Você vai poder ver com seus próprios olhos o que estou tentando mostrar para o seu marido.

- Vamos fazer o seguinte, eu vou conversar com Antonio.

- Isso. Converse com ele. Fale com seu marido. É pelo seu filho, não é por mim. Olhe para ele, você acha que eu gosto de ver meu neto deste jeito? – Pede, aflito, Paulo.

- E o senhor acha que o Antonio gosta de ver o nosso filho assim também, pai?

- Tenho certeza que não, filha. Por isso mesmo eu preciso tentar tudo que estiver ao meu alcance para ajudá-lo.


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