14 - A Carona

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Dentro do carro de Samir, Pedro, um pouco incomodado com a situação, começa a conversa.

- O senhor disse que tinha um assunto importante que gostaria de falar comigo?

- Não sei exatamente como você vai encarar o que eu preciso lhe falar. Mas é necessário. Você deve estar passando por dificuldades muito grandes ultimamente. E não falo de dificuldades financeiras, isso todos passamos, infelizmente. Falo das visões, das vozes, dos sussurros durante a noite que não lhe deixam dormir.

- Eu não faço ideia do que o senhor está falando. - Tenta esconder Pedro.

- Não tenha medo de se abrir comigo, filho. Todos precisamos de ajuda nessa hora. Quem me dera que na minha época eu tivesse tido alguém com quem eu pudesse conversar. Você deve estar assustado, preocupado... É normal. Ninguém é preparado para o que está acontecendo com você agora.

- E o quê, exatamente, está acontecendo comigo?

- A sua mediunidade está aflorando.

- Como assim?

- Todos somos médiuns, filhos. Todos temos o dom da mediunidade. Uns mais que os outros. E você é um desses que a mediunidade é mais sensível.

- Quem lhe falou isso?

- Um médium reconhece outro médium. Isso nos permite ajudar um pouco uns aos outros, principalmente nas horas em que mais precisamos, como é o caso nesse momento

- E se eu disser que isso não é verdade?

- Você só vai estar aumentando um sofrimento que você não precisa passar. Todos os pesadelos, as vozes, as visões... Tudo por ser reduzido e até suprimido das horas indevidas. Você poderá controlar como, quando e de que maneira usar sua mediunidade. Mas não pense que será algo fácil, algo simples. Será doloroso, não uma dor física, mas você irá sentir o que alguns irmãos que já desencarnaram sentem, as dores da hora do desencarne, o sofrimento espiritual, o tormento psicológico. Tudo de ruim que os irmãos estiverem passando.

- Mas se é só sofrimento, por que eu iria querer aprender como usar essa mediunidade? Para sofrer mais ainda?

- Claro que não. Não é somente sofrimento. Existe muito prazer, muita alegria. Você pode sentir o amor que um irmão sente ao reencontrar seus irmãos espirituais, a encontrar o perdão, a paz depois de tanto sofrimento. É algo indescritível, Pedro. É algo que só vivendo você poderá sentir. Não tem como lhe explicar. E quando Deus lhe passa um trabalho para ser realizado, ele deve ser cumprido até o fim. Se não, você que irá sofrer filho.

Por um momento Pedro pensa em tudo o que vem acontecendo em sua vida nos últimos meses. As perdas, os pesadelos, as sensações de dor, tristeza, sofrimento, sem a menor explicação. As mudanças de humor, as brigas sem motivos.

- O senhor falou em sentir o que esses fantasmas sentem...

- Não são fantasmas, filho – Interrompe Samir – São irmãos e irmãs que já desencarnaram e que estão sofrendo. Alguns perdidos, tomando decisões erradas, colocando em suas costas uma carga mais pesada do que deveriam.

- Como assim?

- Quando você faz o bem, esse bem, essa bondade, volta pra você. Assim como quando você faz o mal, a maldade também volta de encontro a você. Nada do que passamos nessa vida, nesse planeta é por acaso. Estamos todos aqui para aprender, para crescer, para evoluir. Essa é a nossa missão na Terra, nosso grande objetivo. E se estamos todos juntos aqui, é porque somos todos iguais. Nenhum de nós é mais evoluído espiritualmente que o outro. Podemos estar em caminhos opostos, um seguindo o caminho da paz, do amor e outro o caminho do ódio, da desesperança, mas todos estamos no mesmo nível. E todos prontos para acertar e errar e aprender com os nossos erros.

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