15 - A Manifestação

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- Eu não tenho certeza se eu realmente deveria estar aqui. - Reclama Margot já na porta do Centro.

- Para com isso Margot. A gente veio até aqui e agora tu ficas em dúvida? E se aquele senhor do elevador aparecer? Vai achar o quê? Que nós somos duas loucas. A gente fala para ele vir, dá o endereço e depois nem aparece? Duas loucas! Qualquer pessoa pensaria exatamente isso de nós duas.

- Não é essa a questão, aqui, Vitória. A questão é saber se o que estamos fazendo é realmente certo.

- Agora é tarde demais para esse tipo de dúvida. Deveria ter duvidado disso antes de falar para ele vir. Agora vamos entrando e lá dentro a gente discute isso.

Vitória puxa Margot, e ambas entram no Centro e caminham pelo corredor em direção aos bancos. Passam por algumas pessoas que conversam na porta da pequena livraria que fica na entrada do Centro. Antes de chegar ao salão principal passam por uns bancos que estão encostados na parede, em um deles uma senhora conversa com o Eusébio, ele a consola e logo depois fala com Margot e Vitória.

- Que bom que voltaram? Fiquei preocupado achando que você tinha se assustado com o que viu aqui, filha. – Fala Eusébio se dirigindo à Margot.

- Não senhor. Imagine. Na verdade, fiquei meio...

- Com medo, tio. - Responde Vitória cortando a amiga que tentava justificar a ausência de Vitória nas duas últimas semanas.

- Não foi por medo. Talvez receio, mas não diria medo. - Responde Margot.

- Não se preocupe minha filha. - Fala Eusébio. - O medo, nos médiuns iniciantes é absolutamente normal. Afinal de contas é todo um mundo novo que se abre diante dos nossos olhos e não fomos preparados para o que passamos a vivenciar. Todo dia é uma nova surpresa, um novo desafio para nós.

- E meu problema é exatamente esse seu Eusébio. Essa quantidade de coisas novas que estão acontecendo na minha vida... Eu vejo coisas, escuto vozes e até recebo ordens dessas vozes.

- Que tipo de ordens?

- Não se preocupe, tio. Não estão mandando ela se matar ou matar ninguém. – Responde Vitória

- Credo Vitória. Imagina se é isso que acontece. – Fala Margot surpresa com o que acabara de ouvir.

- Algumas vezes chega a ser pior que isso, filha. – Esclarece Eusébio, com um leve sorriso em seu rosto.

- Como assim? – Pergunta Margot, assustada.

- Os nossos irmãos que já desencarnaram não possuem mais a matéria, o corpo físico. Então a influência que eles têm sobre o nosso mundo é puramente energética... como se fosse uma espécie de intenção. Eles podem nos sugestionar a fazer algumas coisas, nos influenciar a seguir determinados caminhos, mas a decisão final sempre será nossa.

- Quer dizer que eles têm influência sobre nossos destinos? – Pergunta Margot intrigada com o que ouviu do Eusébio.

- Não filha. O nosso destino pertence somente à nós mesmos. O que eles podem fazer é agir como aquele amigo que todos tivemos na infância que gostava de ver "o circo pegar fogo" como falávamos, e ficava incentivando a discórdia, a cizânia entre amigos? Quem nunca teve um amiguinho que ficava buzinando no nosso ouvido coisas como: "Fulano está falando mal de ti, vais deixar isso desse jeito? Não vais tomar nenhuma atitude? Não vais fazer nada?"

- Eu tinha uma amiga assim. – Responde Vitória.

- Todos tivemos, filha. - Responde Eusébio para Vitória - Mas não é por isso que devemos ter raiva deles. Devemos rezar, pois espíritos assim precisam de paz, de conforto. Devem estar sofrendo muito com tudo que está acontecendo com eles. E sempre se lembrando de que a decisão sobre os atos que cometemos, tanto os bons quanto os maus, pertencem somente à nós mesmos. Mas você ainda não me disse que tipo de ordens está recebendo. - Fala Eusébio se dirigindo à Margot.

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