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Núbia

Em retribuição, Paulo quis nos receber na casa dele, a mesma daquele dia em que me pediu em namoro. Ele já tá todo chegado pra minha família, mas eu ainda não conheço a dele.

Naquele dia não deu pra ver com detalhes, mas sei que é bem sofisticado. Arrumei as meninas de acordo, quem olha o Guilherme acha que ele é um desses filhinhos de papai.

Trabalhar fez muito bem pra ele, principalmente naquele tempo em que a separação tava recente, acredito que se meu filho não deu um mal passo foi por conta do emprego e do estudo.

Isso tornou o Guilherme uma pessoa mais madura, mais adepta ao mundo em que vive, aprendeu que as amizades podem sim vir de qualquer ciclo que não seja só o da religião.

Paulo tá me acostumando tão mal, quando não vem me buscar paga uber, nunca fui tão mimada na vida sabia ? Mereço muito!

A casa dele é aqui no Joá, muito mais linda do que a noite, simplesmente amei e as crianças também.

Encontramos com o Paulo, ele me beijou, falou com as crianças e nós entramos.

Paulo - Meu amor, esses são João Paulo e Rebecca!

Eles só deram um aceno de cabeça e eu fiz o mesmo, a cara de nojo era evidente tanto pra mim quanto pras crianças, relevei por conta do Paulo.

Logo a mesa foi posta e uma das funcionárias da casa nos chamou pra almoçar, fomos os sete para mesa e lá nos sentamos.

Os pratos foram servidos individualmente, os empregados a todo tempo tinham que lidar com os caprichos dos filhos do meu namorado e aquilo me irritou um pouco.

João Paulo e Rebecca são o contrário do pai, a diferença chega a ser gritante.

Rebecca - Faz o que da vida Nathalia ? _ errou o meu nome de propósito.

Núbia - É NÚBIA meu bem, eu trabalho com confeitaria! _ enfatizei o meu nome e Guilherme segurou o riso.

Rebecca - O que exatamente?

Núbia - Eu vendo docinho por encomenda, bolos caseiros...

Rebecca - Agora eu descobri o motivo do meu pai ter conseguido uma namorada tão rápido, doceira papai ? Você não precisa disso! _ me olhou de cima a baixo com desdém _ Tá na cara que ela é uma esfomeada a procura de algum babaca pra bancar os esfomeadinhos dela!

Paulo - Menos Rebecca, não admito que você fale assim com a Núbia e com os filhos dela! _ falou firme e ela não se abateu.

Núbia - Quem não admite alguma coisa aqui sou eu! _ me impus _ Sou doceira sim, favelada com muito orgulho tá ? Graças a Deus eu tive tudo o que quis trabalhando, não tive papai e nem mamãe pra me dar de mão beijada, sou órfã das duas partes e desde novinha batalhei pra sobreviver e pra manter a minha irmã e falar pra vocês ? Vergonha zero disso! Vocês acham que têm vivência ? Que são superiores ? Indico ao pai de vocês a soltar os dois no mundo sem empregados, sem dinheiro e regalias, advinha ? Vocês não sobrevivem nem cinco minutos! Não passam de riquinhos metidos, no final todo mundo vira alimento de minhoca, mas isso a vida trata de ensinar. Muito obrigada por tudo Paulo, vamos crianças!

Acho que se os funcionários da casa pudessem me aplaudir eles fariam, tá na cara que ninguém nunca enfrentou e nem pôs aqueles filhinhos de papai no lugar deles.

Não tenho medo de ninguém, principalmente de uma pirralhinha que se acha adulta, eu hein !? Não sou bagunça e nem tapete.

Voltei pra favela revoltada, tava tão irritada que Guilherme assumiu o controle da situação. Paulo me ligou diversas vezes, mandou muitas mensagens e eu desliguei o telefone, ele não tem culpa, mas não tenho cabeça pra conversar agora.

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08/01/2022

Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora