A luz do sol ainda iluminava fortemente cada compartimento de casa. Aquela cor rubra, me vislumbrava, exaltava-me, se ardia em meu peito uma enorme saudade de tempos não muito remotos, onde tudo era magia, onde eu imaginava que sempre seria daquele jeito: eterno. Porém tudo foi emancipado pelo desfecho que a vida nos impõe. No silencio daquele instante, ouvi ecos vir daquelas paredes. Sim, pareciam conversar comigo. Traziam-me todas aquelas lembranças, do tempo em que as crianças corriam pela a casa e eu os raiava e os colocava de castigo, sentados em um banco da sala. Então eu ouvia as risadinhas dos peraltas e, em meu interior, sorria também. Mas aquele som, para a minha tristeza, era apenas o som da saudade; da saudade deles, de todos eles.
Morávamos, atualmente, apenas eu e meu esposo, mas este sempre estava distante por trabalhar em outro estado. Este era o ano de sua aposentadoria, e estava muito contente para que lhe chegasse logo.
Mas aconteceu que naquela tarde, eu o vi chegar. De fato me surpreendeu, pois ele só voltaria para a casa na semana que vinha. Além do mais, nem ouvi o som da porta, que emitia um som horrendo por falta de lubrificação em seus ferrolhos. Abraçou-me fervorosamente e sentou-se no nosso sofá e, então, começamos a conversar como há anos não conversávamos. Pediu-me uma xícara de café e alguns biscoitos; ele simplesmente adorava. Disse-me as novidades do seu trabalho. Sobre as viagens que realizou, sobre a distância que sempre nos afastava e se lamentou muito chorando em meu colo. Disse-me que pensava em mim todos os dias, que jamais, nem por um efêmero momento, me esquecia. Disse também que se algum dia, algo de grave o acontecesse, para que eu não me desesperasse, pois ele estaria sempre do meu lado, fosse o que fosse, me confortando nos seus braços. Abracei-o amorosamente e lhe pedi para que nunca mais falasse sobre aquilo, pois ainda viveríamos muito, que sorriríamos muito e que ainda passaríamos muitos dias felizes, como aquele em que estávamos vivendo. Ele, de certa forma, concordou comigo e nos abraçamos mais forte ainda.
"Não sei se você sabe, amor...", disse eu a ele, "amanhã faremos quarenta anos de casados". Ele sorriu com os olhos, e disse: "e como eu poderia esquecer disso, meu amor? Foi por este e outro motivo que justamente eu cheguei cedo de viagem". "Ora", Disse franzindo o cenho, "e que outro motivo é este, posso saber?". "Saberás no final do dia", disse-me ele com um sorriso entremeado com uma breve tristeza.
Continua...
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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
TerrorSe você gosta de explorar o desconhecido; fantasmas, demônios, lendas urbanas, vampiros, aqui é o lugar certo. Seja bem vindo às mais assustadoras histórias de horror. Atenção! Plágio é crime. Todos os contos estão autenticados.