Capítulo 2: De forma repentina

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No dia seguinte na propriedade do Barão Cox.

Lourival, Juliette e o Visconde tomavam um café que mais parecia um almoço de tantas comida postas a mesa. O sol já brilhava forte a algumas horas naquela manhã e todos estavam prontos para após a refeição partirem em viagem para a propriedade do prometido de Juliette.

A conversa que se seguia a mesa era sobre a juventude e feitos de Lourival e de Juarez, que já se conheciam a anos e que os pais também foram amigos.

Juliette estava imersa nos seus pensamentos e no seu pessimismo. Ela nunca imaginou que teria que se sujeitar a tal coisa na vida. Ela já odiava seu noivo com todas as forças, ele era um depravado pelo o quê ela havia ouvido da boca de seu pai e um homem como ele não tocaria nela. Ela estava convicta que faria de tudo para despertar no homem os piores sentimentos, assim cada dia ele ficaria longe, muito longe dela.

A refeição foi interrompida e Juliette deu um salto da cadeira quando o mordomo fez um anúncio:

- Vossa senhoria o visconde Stuart.

Juarez ficou perplexo ao ver ali seu filho. Lourival conheceu o homem a quem confiaria a vida de sua única filha e Juliette permaneceu de cabeça baixa, ela evitou olhar para o prometido, coisa que não foi evitada pelo recém chegado.

- por Deus Rodolffo, chegou aqui essa hora. Como conseguiu chegar?

- pai, eu tenho um dos melhores cavalos de toda a Inglaterra e sou um cavalheiro que sabe cavalgar muito bem. Depois que o senhor saiu, eu saí com algumas horas de diferença.

Juliette ouvia aquelas palavras e constatou: esse se tratava de um patife de quinta categoria com título de nobreza, sem jeito vanglorista a deixou enojada.

- quer dizer que andou a cavalo a noite?

- por toda ela.

- e como conseguiu chegar aqui?

- eu já havia vindo por esses arredores a um tempo atrás.

- pois bem. Quero lhe apresentar o senhor Lourival Cox e sua digníssima filha, a senhorita Juliette Cox.

A família ficou de pé e Lourival foi o primeiro a cumprimentá-lo.

- seja bem-vindo. É um prazer conhecer um cavalheiro tão distinto como o senhor.

- não precisa me chamar de senhor. Será que estou tão velho assim? - ele disse com um sorriso no rosto e voltou os olhos para Juliette.

Pela primeira vez, a jovem havia se permitido olhar para seu futuro marido. E parece que aquilo a deixou mais revoltada, ele era um tipo que ela desprezava nos homens, um jeito e um olhar que exalava uma soberba absurda. Ela tinha vontade de correr para longe daquele homem.

- senhorita. - ele tentou fazer um cumprimento de quase beijar sua mão que era costume da época, mas recebeu um aceno de cabeça mudo da mulher a sua frente.

Ele ficou desapontado. Em toda Inglaterra nenhuma mulher havia recusado seus cumprimentos, pelo menos não em sã consciência. De mulheres jovens a maduras todas estavam babando por ele, onde quer que chegasse. Rodolffo era um solteiro cobiçado.

- ela é tímida. Tenha paciência com ela. - tentou disfarçar Lourival.

- eu entendo.

Como a sala já estava muito cheia e Juliette se sentiu sufocada.

- com licença meu pai. Estou indo para os meus aposentos.

- Juliette, mas você nem comeu direito.

- perdi o apetite. - com um cumprimento ela saiu e começou a subir os lances de escada.

Rodolffo ficou a observar a sua saída e  Juarez foi imediatamente pedir explicações a Lourival sobre o comportamento da filha.

- outra rebelde? Pelos céus.

- eu não posso negar, esse não é um casamento que minha filha queira. Estou a obrigando a fazer, então meu jovem tenha paciência com ela por que no início será assim. Não haverá modos de ser diferente.

Rodolffo ficou contente ouvindo aquele depoimento. Ela era como ele, então o acordo que ele tinha em mente iria funcionar. Só precisava chegar perto dela para dizer que os dois juntos teriam um casamento de aparências, que não pretendia ir além disso com ela e que ambos terão suas vidas independentes, quem sabe ele poderia deixá-la ter um amante para que a pobrezinha não tivesse que amargar solidão para o resto dos tempos. É talvez um amante seja demais, mas ele não iria se opor se acaso ela quisesse.

...

No seu quarto Juliette chorava de raiva, inconformismo e pela enorme vontade de sumir.

Sua criada de quarto entrou ali e flagrou a jovem naquela situação.

- por que choras minha senhora?

- por que eu quero sumir. Eu deveria ter morrido junto com minha mãe. Meu pai sempre me disse que ela me esperou com tanto amor. Ela sonhou comigo por dois anos e quando finalmente eu cheguei, ela me gestou com amor e devoção, mas ela não ficou comigo, por quê?

- não fale assim senhorita. Eu conheci vossa mãe, ela era uma mulher boa e de um coração muito generoso, sentimos muito a sua perda, foi tanto que teu pai nunca mais casou-se.

- acha que meu pai amava minha mãe?

- com certeza amava e ainda ama até hoje. A senhorita é tão parecida com ela.

- me ajude a fugir daqui, por favor. - ela pediu em súplica.

- não posso fazer isso.

- não vou me casar com esse homem. Não sinto nada por ele... Nada. Por favor me ajude.

- senhorita, esse homem a quem deseja fugir é um dos solteiros mais cobiçados de toda Inglaterra. Não vê o quanto ele é bonito em relação aos jovens do seu tempo.

- não o acho bonito. Não sei o quê vêem nele. Ele se acha. Ridículo.

- eu aconselho a senhorita a ter paciência, por que isso é só o início. Implante em sua cabeça a ideia de aceitá-lo e recebê-lo.

- aceitá-lo nunca será possível. Mas recebê-lo, como assim? Eu já não o cumprimentei?

- não é dessas coisas que estou falando. - ela disse num tom baixo e se aproximou de Juliette.

- sente-se aqui Ruth. Me explique isso.

- a senhorita vai se casar e quando casamos muitas coisas mudam. - a criada se sentou próximo a Juliette. - eu te considero como uma filha, te dei de mamar e cuidei de ti como cuidei dos meus filhos, te vi crescer e se tornar moça e agora estás a porta de dá outro importante passo em sua vida, te tornará esposa.

- Ruth, não quero. - Juliette disse se abraçando a ela. - não desejo ser esposa, eu prefiro a morte.

- não digas essas coisas. Tu é muito ingênua e ainda jovem, mas no futuro se acostumará e seu marido com certeza conseguirá te fazer feliz.

- ele pode me tocar se eu não quiser? Me obrigar?

- de poder, pode. Mas ele é um cavalheiro, não creio que fará dessas coisas.

- cavalheiro? Ah Ruth és muito iludida. Esse homem não tem nada de cavalheiro, mas ele não vai tocar em mim, não vai. Te juro.

- não me jures nada. Não poderá cumprir. Agora eu tenho que ir. Quando estiver mais próximo ao casamento lhe explicarei mais coisas.

Ruth saiu e o pavor que Juliette sentia era ainda maior. Ela não aceitaria e nem receberia esse noivo. Ele teria que ao menos ter honra para não obrigá-la a fazer o quê ela não queria. Mas daí ela refletiu: meu próprio pai não tem honra por que um desconhecido teria?

...








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