Capítulo 10: A dor

378 51 30
                                    

Juliette retornou para casa depois de muito ter chorado e foi direto para o seu quarto. Ela ainda se sentia triste e abalada e Ruth viu seu semblante abatido. Resolveu subir até seu quarto e ir falar com sua querida senhora.

Ruth a encontrou sentada em sua cama abrindo a caixa que havia chegado ontem da modista.

- quero que doe isso Ruth.

- suas camisolas novas? Nem pensar. - Ruth caminhou até ela e retirou a caixa de perto dela.

- então, vou rasgá-las, todas elas.

- não vai Juliette. O quê aconteceu? Ontem as achou lindas, por que hoje quer rasgar essas bonitas peças.

- estive com meu noivo agora a pouco.

- como? Onde?

- as margens do ribeirão. Ele veio me ver. Precisava conversar comigo.

- ele está mesmo gostando de ti. Para fazer uma viagem longa dessas.

- Ruth, se ele gostasse de mim não diria que me tratará como trata as suas irmãs. Me pediu para sermos amigos e que me dará uma vida boa e confortável, dentro de um casamento de aparências.

- ele te disse isso?

- disse. Ele tem piedade de mim. Acha que eu não sou feliz com meu pai. Não preciso de camisolas Ruth ele disse que não vai me tocar nunca. - e cai novamente no choro, dessa vez nos braços de Ruth.

- ele lhe disse tudo isso mesmo? Tem certeza que não ouviu errado?

- tenho certeza. E ainda vou virar chacota na sociedade... Ele com certeza continuará com suas amantes.

- mas ter amantes é normal dos nobres, isso serve para preservação de duas esposas.

- não quero que ele tenha amantes. Não aceito isso Ruth.

- então não é a mim que deves dizer isso, diga a ele.

- eu pedi novamente para ele desmanchar o casamento, mas ele se recusa. Diz que faz isso por mim.

- e por ele de veras.

- Ruth, pare com essas coisas. Ele não sente nada por mim, vamos acordar? - disse irritada.

- és muito inocente. Na verdade o julgo também inocente e tolo. Nunca cumprirá as promessas. Um homem disposto a isso não faria uma viagem de 6 horas até aqui só para lhe dizer essas coisas. Isso é uma desculpa para te ver.

- não é nada. Sabe Ruth quando eu nasci minha mãe se foi... Nunca consegui ter o amor dela, também nunca tive o amor de meu pai, eu sou consciente que ele me culpa pela morte da esposa tão amada, me culpa por eu ser mulher, me culpa por existir e nunca fez questão de esconder. O único amor que conheci na vida foi o teu. Quando eu era mais jovem e lia romances sonhava em ter um casamento por amor. Um homem que cuidasse de mim, me desse afeto e carinho.

- foi por isso que sofreu pelo Antony.

- sim. Gostei dele, mas ele era pobre. Nunca tivemos mais que olhares, meu pai me trancou em casa e nunca mais o vi. Eu sentia no meu coração que ele poderia me fazer feliz. Ele era bom e gostava de música e de literatura como eu. Sabe Ruth eu não queria um noivo rico e influente, só queria um homem que gostasse de mim e que não me deixasse sozinha, ou se deixasse que fosse pela vontade de como foi com teu marido. Mas eu não queria ser só, eu vejo que tu não é, tens filhos que nunca deixarão a solidão chegar.

- por que não fala dessas coisas com seu marido. Diga que deseja ter uma família. Ele poderá ao menos te dá um filho, nobres precisam de herdeiros.

- Ruth, não vai acontecer. Não quero me iludir mais. Por favor não insista.

- mas vai levar as camisolas. Elas são lindas. Use para si. Hoje eu uso minhas coisas para mim mesma. Isso também é importante.

- é... Ao menos ele me prometeu me deixar escrever, coisa que papai não quer que eu faça. Também me deixará cantar e tocar.

- então aceite. Assim não precisará ter mais medo dele.

- pensando por esse lado, até me sinto mais tranquila. Mas não posso permitir que ele tenha amantes. Eu me sentirei péssima se isso acontecer.

- confie no que falo, ele não terá amantes.

Ruth falava isso com a convicção de quem tem experiência de vida. Ela sabia que nada faria Juliette enxergar a verdade. Mas para Ruth era claro, nenhum homem viria de uma distância tão longa para dizer coisas desse tipo que poderiam ser ditas após o casamento, mas toda essa atitude dele foi péssima, deixando Juliette mais desiludida que nunca.

...

Na estrada de volta a propriedade dos Stuarts. Rodolffo interceptou a carruagem no meio do caminho.

- pai... Não vamos mais. Não é necessário.

- como assim? Estou a quase três horas nessa estrada terrível e agora vem me dizer que não vamos mais.

- eu já vi ela.

- como isso é possível? É um cavalo ou  o quê?

- sabe que corro muito e meu cavalo é bom para isso. Então, consigo fazer o percurso em duas horas a menos.

- por Deus, vai matar teu cavalo dessa forma.

- nem foi preciso ir até a casa do Barão. Encontrei ela no ribeirão.

- e aí... Matou as saudades?

- eu não estava com saudades. - ele disse encarando o pai.

- claro que estava. Bateu no meu quarto assim que o sol nasceu. Veio num velocidade incrível vê-la, não tente me enganar.

- foi horrível. Eu não sei mais o quê fazer. Estou me sentindo pior que antes, se é que é possível.

- ela te tratou mal?

- ela ao me ver começou a correr. E ela corre muito rápido apesar de ser pequena e quando finalmente impedi que ela sofresse uma queda a coisa foi de mal a pior. Estou arrependido de ter ido lá.

- deveria ter me esperado. Não gosto nenhum pouco desses encontros escondidos. Se o pai dela descobrir, pode penaliza-la duramente.

- ele não se atreva.

- ele é o pai. Tem direito.

- no dia que ela se casar comigo, afastarei ela dele. Acho que esse jeito agressivo dela se dá pelo jeito que é tratada. Eu não gostei da forma que ele a tratou no jantar. Como ele pode dizer que o pior dia da vida dele foi o dia que a esposa morreu? Eu entendo que ele sente muita dor pela perda, mas a filha nasceu naquele dia. Eu vi os olhos dela ficaram tão tristes ao ouvir aquilo. Ele não gosta nenhum pouco dela.

- é... Isso é um fato. Mas ele disse que se sente preocupado em entregar ela a você.

- é mesmo? E por que foi lhe oferecer a moça em troca de um perdão por uma dívida? Ele a vendeu e o senhor comprou.

- eu não comprei. E se comprei foi para ti. Deveria ser grato a mim. Vejo que gosta muito dela.

- se ela souber disso, aí sim que a ruína será tremenda. Ela vai colocar seu castelo no chão.

- calma homem. Até lá conseguirá domar a fera.

- isso é o quê o senhor pensa. Tudo que eu digo de melhor ela converte no  pior. É difícil pai.

- é... Pelo visto será um desafio e tanto. Deus te abençoe.

Seguiram na estrada rumo as terras altas.

...

Fica comigo Onde histórias criam vida. Descubra agora