Capítulo 34: Tudo é teu.

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Juliette imprimiu menos velocidade a tornado e começou a chorar todas as lágrimas reprimidas. Suas esperanças haviam morrido, seus sonhos haviam sido arrancados com brutalidade. Por que Deus era tão impiedoso com ela? Por que tudo que ela amava sempre não ficava com ela? Seu pai estava certo, ela era amaldiçoada, só isso explicava a má sorte de sua vida.

Faziam seis meses que havia se casado e aqueles meses foram felizes, ela assim julgava, mas agora nada daquilo era real mais para ela. Tudo parecia um teatro. Seu marido era um ator e ela era uma boba por acreditar nele e nas lindas palavras que ele lhe dizia.

Ela resolveu parar o cavalo e descer. Sentou-se na sombra de uma árvore e contemplou a natureza.

- sabe tornado, nem todas as pessoas do mundo nasceram para ter paz. Eu sempre vivi uma vida de tormento com meu pai e o seu comportamento comigo. Nunca teve amor por mim, nenhum um pouco se quer. E agora quando finalmente achei que seria feliz, me sinto muito mais infeliz do que jamais estive. Estou quebrada para sempre.

O cavalo soltou um relincho.

- eu e o vosso dono íamos começar as tentativas de uma gravidez nesse ciclo. - o choro de Juliette ficou mais forte e mais sentido. - os meus filhos não existirão tornado, nunca terei nada meu nessa vida, nada.

Rodolffo nesse momento chegou atrás dela e ouvindo aquelas palavras voltou a chorar.

- meus sonhos  foram destruídos pela maldade, luxúria e mentira. Confiei em quem não merecia um pingo sequer de minha confiança. Agora estou aqui contigo, que também não é meu, e vou sair daquela casa não sei para onde. Voltar a morar com meu pai nem pensar. Não quero me tornar uma prostituta tornado, mas qual alternativa terei na vida agora? Mulheres que deixam seus maridos não são perdoadas e eu também não serei. Estou perdida meu amigo, perdida.

Ela viu o revólver ao seu lado e pegou a arma.

- se eu não existir mais, todos os meus problemas terão fim. Não haverá mais dor e nem penar. Eu serei finalmente livre e meu marido também o será, se tornando um viúvo. - ela disse já levando a arma a cabeça.

- estou pronto Juliette... Me mate. - Rodolffo disse surgindo aos pés dela com a camisa totalmente aberta. - atire aqui. - ele apontou para o meio do peito. - Será fatal, só gastará uma única bala.

- não posso fazer isso. - ela disse um pouco trêmula. - não consigo.

- consegues. Pense, vai se livrar de mim para sempre e se for uma viúva honesta ainda conseguirá um casamento bom com algum nobre, é uma mulher linda, carinhosa e não tem filhos. E ainda é rica e tem recursos. Essa casa que moramos é sua e tem documentos que provam isso, não só a casa, mas toda essa propriedade. Também é sua aquela casa que ficamos sempre que vamos  a Londres, fiz questão de te manter assegurada para que em uma falta minha não fique na amargura.

- nunca me falou sobre isso. - ela disse se levantando.

- não ia querer... Mas eu queria que tudo ficasse bem esclarecido para que nunca houvesse enganos. É muito mais jovem do que eu e pela ordem natural das coisas os mais velhos vão primeiro e eu talvez não viveria muito como disse meu pai. Sou um rebelde incurável Juliette. Estou a porta dos 35 anos de vida, já vivi muito e já desfrutei de tudo. Mas tu é jovem ainda, merece uma segunda oportunidade, uma vida melhor... Um cavalheiro ao lado, não um patife como eu. Mate-me. Prefiro isso do que me apartar de você.

- não consigo matá-lo. - ela disse jogando a arma no chão.

- então... Volte para casa comigo e vivamos como senhor e senhora somente. Juro que não te tocarei em nenhum dia, ao menos que queira.

- não vou querer...

- entendo. Será um casamento de conveniência somente. Tens liberdade de ir e vir... E se acaso tiver vontade de ter alguém não irei impedir, apenas peço que seja discreta. - ele falou isso morrendo por dentro.

- me respeite. Não quero ter ninguém. Não vou me dá a um amante, jamais.

- então vamos...

- e aquela mulher?

- já partiu. Ela só estava na miséria Juliette e num ato louco fez aquilo.

- não me explique nada. Não me deve satisfação. - e fez subida em tornado.

Juntos retornaram a casa e Ruth respirou aliviada ao ver sua senhora bem.

Juliette subiu ao seu quarto e Rodolffo foi guardar o revólver no cofre.

- como ela está? - perguntou Ruth.

- um pouco mais calma.

- graças a Deus. Não perca a esperança, ela vai te perdoar por trazer uma amante a casa.

- eu não trouxe amante alguma a minha casa. Está louca? Aquela metida que apareceu aqui. E de verdade, dessa vez não acho que ela vá me perdoar Ruth.

- enquanto a vida há esperança.

- sim... Ao menos ela não me matou.

- ela nunca faria isso.

...

O restante do dia foi de silêncio.

Mas Rodolffo resolveu fazer algumas mudanças na casa. E para isso convocou três fortes criados.

- quero transferir meu quarto para a biblioteca e a biblioteca ficará junto ao quarto da minha senhora.

- mas o senhor acha que aqui embaixo é melhor?

- para mim é.

Rodolffo não queria ficar perto da mulher que amava sem poder tocá-la, beijá-la e sentir seu cheiro de flores campestres. Isso era tortura e não tinha motivos para ele sofrer mais do que sofreria por todos os dias que lhe restavam da sua miserável vida.

Estar longe seria bom, aplacaria o desejo e a vontade de ser feliz com ela. 

...

Juliette viu as fortes batidas no quarto do marido e resolveu ver o quê estava acontecendo.

- o quê estão fazendo?

- nosso senhor quer ir para baixo senhora. Estamos fazendo a mudança.

- e o quê as coisas da biblioteca fazem aqui?

- ele ficará na biblioteca e a biblioteca ficará aqui.

- ah sim.

Ela voltou para o seu quarto e viu que Rodolffo estava mesmo empenhado em se manter longe dela. Era assim que seria até que um dos dois partisse. Agora o casamento deles era uma farsa completa. Juliette se jogou novamente sobre sua cama e chorou até adormecer.

...

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