Capítulo 88: A briga

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Uma semana depois...

Os dias que se seguiram foram de completo silêncio naquela casa. Rodolffo até tentava quebrar o gelo que havia entre ele e Juliette, mas ela só conversava com George e com Ruth, apesar que até com ela as palavras também eram mínimas.

Rodolffo e ela ainda dividiam o mesmo quarto e a mesma cama por causa da criança, mas não tinham mais conversas e por mais que ele quisesse lhe dizer a verdade e a motivação de sua ida a Londres nunca conseguia encontrar as palavras que ele julgava serem as certas. Em todas as suas suposições ela ficaria furiosa com ele.

Juliette, por outro lado, se sentia muito mal e só suspeitava o pior do marido, isso por que ele nunca conseguiu se explicar de fato sobre essa viagem, que acabou nem acontecendo mais.

...

Era início de uma manhã amena de domingo, enquanto Rodolffo dava um passeio matinal com George, ele entregou o bebê a Ruth.

- ele está alimentado e limpo Ruth. Preciso de um momento a sós com minha esposa, pode cuidar dele sozinha?

- claro... Ele é um anjo, não me dá trabalho.

...

Rodolffo subiu ao seu quarto e encontrou Juliette recolhendo as coisas do bebê para mandar lavar.

- precisamos conversar. - ele foi direto. - essa situação está insustentável e não pode pensar em coisas que não existem.

- então me explique por que iria a Londres e quando foi confrontado se acorvadou e acabou não indo mais? Ia fazer algo errado lá e acabou desistindo.

- Juliette precisamos conversar. Essa birra não nos leva a nada. Sente-se que vou te explicar exatamente o quê iria fazer em Londres.

Juliette sentou-se na cama e Rodolffo sentou-se numa poltrona.

- comece... eu estou pronta para te ouvir.

- há cinco anos atrás, nas minhas andanças, eu fiquei sabendo de um tratamento medicinal de origem natural que era capaz de tornar homens saudáveis em homens estéreis. Depois eu fiquei sabendo que meu pai fez esse tratamento.

Juliette olhava para o marido, mas não tinha coragem de falar nada, embora seu íntimo gritasse.

- nunca quis ter filhos Juliette e te falei isso, então nessa época eu cogitei seriamente em tomar essa infusão e não correr mais riscos. Só que ela não é oferecida a homens sem filhos, então por isso nunca me deixariam tomar isso.

- teria coragem de fazer isso? - ela perguntou ansiosa pela resposta.

- sim... Eu tinha certeza que era isso que eu queria.

- era tão averso a ideia da paternidade assim?

- sim! Mas quando eu te conheci tudo mudou.

- não é verdade. Não mudou. Não queria novamente. Por isso usava aqueles métodos, e por isso o acordo de seis meses.

- só queria poder ser feliz contigo. Viajar e te mostrar o mundo.

- mas ficou doente e resolveu que eu estaria segura se tivesse um herdeiro... É isso, não é?

- também... Mas você me fez sentir amor por alguém que eu não conhecia e hoje eu sou encantado pelo George.

- e o quê isso tem a ver com sua viagem a Londres?

- Juliette eu tomei uma decisão. Essa é definitiva e eu desejo que me entenda.

- diga, pode dizer.

- vi o seu sofrimento no parto do George e não quero que passe por isso de novo. Eu não quero mais filhos. George será filho único.

- ia a Londres tomar esse tratamento? - ela disse com os olhos cheios de lágrimas.

- sim. Era isso que eu ia fazer. Para o seu bem.

- sem me consultar e era para o meu bem? Tem uma visão distorcida do que seja o bem de alguém. Sabe que isso seria uma traição, não sabe?

- sei e por isso não tive coragem de ir. Eu precisava que me compreendesse.

- te compreendo. E te digo: faça o quê tem vontade de fazer, o corpo é teu. Não vou te impedir, mas também tenho uma decisão definitiva para te falar.

- sobre o quê?

- não teremos mais filhos, não se preocupe... E eu vou embora. Vou voltar a fazenda de meu pai.

- tudo bem, iremos.

- agora tu que não me compreendeu. Eu vou... George vai... Meu pai e Ruth também... Mas você não.

- como? - ele perguntou assustado.

- vou embora de sua vida. Poderá viver livre Rodolffo. - ela disse de pé e com lágrimas nos olhos. - não é verdadeiro comigo e nem com teu próprio filho.

- não diga isso Juliette. Eu amo vocês.

- não ama... Se amasse de verdade nem cogitaria fazer algo desse tipo por minhas costas. Se amasse, não cogitaria fazer isso contigo antes de ter ao menos um filho. E não adianta vir dizer que isso foi antes de me conhecer, no fundo não deseja a paternidade, eu te obriguei a aceitar e me sinto culpada por isso.

- não é verdade isso. Eu amo o George.

- ele viverá bem sem ti. Eu cuidarei dele.

- Juliette não vai levar meu filho... Ele não vai ser criado longe de mim. - ele disse alterado.

- eu vou sim... E nada nesse mundo vai me impedir de ir. George é um bebê recém nascido e precisa de mim, terá coragem de fazer isso com ele?

- eu não sou um monstro. Não me trate assim.

- é só mesquinho, egoísta e mentiroso. Como me enganei contigo. Tive tantas oportunidades de ver a verdade, mas eu queria ser amada. Eu queria ter uma família. E vi em você o homem que me daria amor e uma família.

- mas eu te amo e temos uma família, não tome atitudes precipitadas.

- Rodolffo, se eu fizesse algo dessa natureza tu nunca me perdoaria. Mas eu tenho que te perdoar... Porém não é possível caminhar ao lado de quem não compartilha dos mesmos ideais que os meus. Me contento em ter um filho. Darei a George o melhor de mim e serei tudo que ele precisar. Quero que ele seja um homem de valor. - e secando as lágrimas do rosto-. Meu filho é o homem de minha vida, para sempre.

- e o quê farei com o amor que sinto? - ele disse chorando.

- siga sua vida. Faça o quê tem vontade. Tome suas infusões. Divirta-se em bailes e navios, talvez em mesas de jogos. E continue a vida que tinha antes, será livre e feliz. Poderá viver tudo que não é possível viver comigo e com o George do lado.

- não vou deixar que partam sem mim... Não vou viver sem vocês. Não vou. - ele disse com a voz alta e grave. - é minha... Só minha.

Num ato louco, ele pegou Juliette com certa força e a prensou contra a parede.

- não aceito essa separação... Não aceito.

- vai me bater? - ela falou com raiva.

- não... Nunca faria isso. Eu só não vou resistir sem você. Me perdoe, por Deus... pelo George. - sua boca ficou perto demais da boca de Juliette. - eu te amo tan...

Ela colocou a mão na boca dele e impediu a conclusão da frase e o beijo.

- não! - ela disse seca e altiva.

Rodolffo se afastou e deixou que ela saísse de perto dele.

Ele esmurrou a parede e se lamentou por tudo que fez para estar nessa situação.

Juliette saiu correndo do quarto e foi para o exterior da casa, indo em direção a margem do rio. Ela se sentia desesperada e sem norte, o choro molhava seu rosto e embassava sua visão. Era o pior dia que ela julgou viver.

...



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