Capítulo 6

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Eu fiquei pensando no garotinho Coca-Cola que me ajudou com a máquina velha do campus, enquanto voltava aos meus aposentos de estudo. Subi as escadas e escutei risos do pátio, algumas meninas jogavam frescobol, já que estava calor.

Abri a porta vendo Hilary sozinha, tinha fones de ouvido na orelha e o celular posicionado perto do rosto. Creio que estava vendo um filme.

— Ah, oi! — Sorriu quando me viu, tirou os fones. — Pensei que chegaria cedo hoje.

— Eu também. — Me sentei como um saco de batata na ponta da cama, cansada pelo dia de hoje. — Eu tive aulas de reforço.

— Aulas de reforço? — Hilary fez uma careta. — Por que você teve aulas de reforço?

— Porque o meu querido professor gostosão odiou o meu resumo, me deu um zero, do tamanho de um ovo com duas gemas. — Escutei Hilary gargalhar. — Ficamos presos dentro da biblioteca.

— E você conseguiu se concentrar?

— Eu puxei assunto, perguntei à ele se... — Fiz uma pausa, lembrando da pergunta ridícula que eu fiz.

— Não me diga que perguntou se ele é gay. — Hilary levantou os ombros em defesa, fazendo uma careta.

— Sim, eu perguntei.

— Puts. — Jogou a cabeça para trás. — É por isso que ele odeia você!

— Acho que odiar é uma palavra muito forte. — Me levantei, andando pelo quarto até chegar ao banheiro.

Vi minha face derrotada pelo cansaço em frente ao espelho. Eu necessitava da minha cama de Nova Iorque, da minha TV de Nova Iorque e dos meus pais. Eu queria voltar para a casa mas a estadia na Califórnia estava interessante.

— Podíamos sair. — Optei, encarando Hilary que voltava a dar atenção no filme.

— O que você disse? — Tirou um lado do fone.

— Eu disse que poderíamos sair. — Me escorei no batente da porta do banheiro.

— Nós não podemos sair.

— E por que não?

— Porque temos toque de recolher. — Disse óbvia, rindo em seguida.

— Isso de toque de recolher é ridículo. — Bufei. — Somos jovens e estamos em Malibu. Não podemos ir à praia de vez em quando?

— Eles liberam no final de semana. — Hilary disse. — Somente quatro horas, depois, temos que retornar aos quartos.

Aquilo era um pesadelo diante dos meus olhos. Toque de recolher? Se Lua e Mel estivessem aqui, esse toque de recolher ganharia outro nome. Obviamente eu seria expulsa.


Estava disposta para mais um dia de aula quando entrei no refeitório, agora, sem Hilary, que acordou atrasada para a sua aula. Comi maçã e mamão em cubinhos, seguido de um pão Australiano super artificial, com gergelim e canela.

Fiquei fazendo hora para andar, já que havia chegado cedo demais no campus. Os outros ainda tomavam café da manhã enquanto eu seguia para a sala de aula.

— Sophia?

Parei automaticamente ao escutar meu nome vindo do corredor. A sola do tênis fez um barulho terrível, já que a pessoa que me chamava estava correndo para me alcançar. Philipe sorriu quando me viu, um pouco ofegante de correr dez passos grandes.

— Oi. Bom dia! — Sorri de volta.

— Pensei que não iria te encontrar. — Trocamos sorrisos. Ele era um gatinho!

— É... Eu acordei cedo, quer dizer. — Me embolei toda como uma tola sem graça. — O que você está fazendo aqui?

— Eu vim te ver. — Senti que Philipe estava corado. Pois ele estava! — Você tem alguma coisa para fazer hoje à noite?

— Hoje à noite? — Pisquei três vezes em segundos, certa de que ele estava me chamando para sair.

— Sim.

— É...Eu... Eu... — Balbuciei. — Eu não tenho...

Parei de falar quando vi o brutamontes alto com aquele cheiro másculo que me deixava acesa de todos os jeitos. Estava atrás de Philipe, como se fosse um policial irritado.

— Posso saber o que está acontecendo aqui?

Nos interrogou como um policial irritado, esbravecido aquela hora da manhã. Philipe tomou um susto, se virando para ver quem era.

— Estávamos conversando. — Rebati, sem medo de Micael.

— E desde quando o corredor virou sala de bate papo? — Arqueou uma sobrancelha.

Fuzilei meu olhar e vi Philipe coçar o maxilar, envergonhado.

— Você deveria procurar o seu rumo, garoto! — Encarou Philipe com ódio. — Faltam dois minutos para o sinal bater.

— Eu já... Estou indo. Perdão! — Pigarreou baixo, com vergonha de se despedir de mim. — A gente se fala depois, tudo bem?

— Sim.

Fiquei como uma pata-choca quando Philipe saiu de perto, caminhando para longe e saindo de nossas vistas. Eu queria chutar as bolas de Micael por aquela cena ridícula. Estava começando a achar que realmente ele me odiava mais do que tudo.

— Você enlouqueceu? — Gesticulei brava, como uma doida daquelas.

— Primeiramente: bom dia. — Sorriu sarcástico.

— Péssimo dia!

— Não pode namorar no campus. Normas do curso!

— Ninguém estava namorando. — Cruzei meus braços. — Philipe é meu amigo! Estávamos marcando de fazer algo à noite.

— Aaaaah, marcando de fazer algo à noite? É mesmo? — Foi irônico. — Alguém já te disse sobre o toque de recolher? Você sabe que sair depois do toque de recolher vale uma advertência de expulsão?

— Eu sou jovem!

— Você veio para cá estudar e não passar por uma colônia de Férias. — Trincou o maxilar. — Não quero ver esse garoto aqui de novo, entendeu?

— E por que não, professor Borges?

Fiquei frente à frente com Micael, colocando ele em um cubículo sem fim. Sua boca remexeu para dizer algo, atordoado, mas ficou em silêncio assim que o sinal tocou.

— Está de castigo! — Ordenou como um louco possessivo.

— O QUE? — Fiquei surpresa.

Saiu andando, me largando para trás enquanto tentava seguir seus passos rápidos. Todos já entravam na sala de aula.

— Por que eu estou de castigo? Isso não faz sentido, professor Borges. — Gesticulei novamente. — Sou ótima aula, tenho notas exemplares...

— Se você não calar a boca agora eu te reprovo nesse curso em menos de dois minutos. Quer apostar?

Cerrou seus dentes brancos e perfeitos para mim, me deixando com medo. Abaixei minha rédia e caminhei até o meu lugar, que nada mais era do que na segunda mesa, em frente à mesa de Micael. Um misto de pensamentos passava pela minha cabeça.
O que esse cara queria comigo?
Por que ele me odiava tanto?

— Bom dia, turma! — Foi até o quadro branco, passando uma pauta rápida. — Estudaram bastante?

Remedei ele enquanto ficava de costas para mim, quando se virava, eu parava de revirar os olhos bem rápido.

— Vamos abrir na página cento e quinze, tudo bem? Mais tarde, voltamos no capítulo setenta e dois para começarmos com as atividades. — Explicou.

Voltou para a sua mesa, buscando o livro e abrindo junto com a sala. Seus olhos se levantaram para me observar, como sempre fazia. Mas dessa vez, eu também observei, séria e atenta em todos os detalhes que seu corpo provocava quando me via em sua frente.

Meu Professor - Coast Onde histórias criam vida. Descubra agora