Capítulo 61

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Engoli meu choro e angústia no mesmo segundo em que amassei a embalagem do preservativo em minhas mãos. Levei até meu peito, fechando os olhos e respirando fundo. Mamãe sempre me dizia que uma mulher nunca pode ficar por baixo! Então, eu deveria tirar satisfações de um jeito diferente.

— Eu cozinhei batatas inglesas.

Micael sorriu ao colocar a última travessa na mesa de jantar. Já estávamos de banho tomado e Harrison não estava com a gente. Paola o levaria só no final de semana.

— Bom. — Mantive minha postura. Encarei o prato com o meu jantar, sem a mínima vontade de comer.

— Está com dor? — Micael sentou em seu lugar.

— E por que eu estaria? — Fui fria.

— Porque você está agindo completamente diferente da Sophia que eu conheço. — Soltou um risinho. — Se quiser, posso comprar um analgésico para você.

— A única coisa que eu quero que você faça é isso!

Retirei a embalagem do preservativo do bolso, colocando em cima da mesa, furiosamente. Micael franziu o cenho sem entender.

— Pode me dizer o que é isso? — Cruzei meus braços.

— Uma camisinha? — Levantou os ombros.

— Eu achei isso, socado no fundo do gabinete. — Nos encaramos. — Acho que você me deve uma explicação, não acha?

— Você quer deduzir que eu possa estar transando com a Paola enquanto você está no colégio? — Levantou uma sobrancelha, parecendo o cúmulo do ridículo.

Lógico que era isso! Mas não sabia que ele iria direto ao ponto. Estava tão escancarado assim?

— Por que estava no fundo da gaveta?

— Sophia, essa camisinha deve ser de milênios atrás. Só foi parar lá, não me diga como! Você pode olhar a validade. — Soltou, tranquilo. — Eu sou honesto e fiel! Jamais trairia você, ainda mais com a Paola.

— E quem garante? Essa história do Harrison ficar aqui e ela vindo lhe trazer não me pegou. — Cruzei os braços. — Paola quer alguma coisa de você, Micael!

— Te atazanar, é isso que ela quer! E você está caindo igual um patinho.

— Não gostei de saber disso. — Amassei novamente a embalagem.

— Você precisa ter mais confiança, Sophia. Não sou um moleque!

— Eu sei.

— É. Mas não parece! — Micael ficou bravo. — Você não precisa desconfiar de mim.

— Me desculpa, eu... — Coloquei as mãos no rosto. — Essa história toda da Paola, do Harrison, enfim... — Não iria tocar no assunto. — É novo! Minha vida mudou completamente de cabeça para baixo.

— Você diz o fato de morar comigo ou o fato do Harrison morar com a gente?

— De novo esse assunto? — Rolei meus olhos, cansada.

— Sim, de novo. Porque você toca nesse assunto umas trezentas vezes! — Micael estava cansado de discutir. — Eu acho que você odiou a ideia do Harrison morar com a gente, mas acontece que ele é o meu filho. Uma prioridade!

— E quando eu falei que odiei a ideia do Harrison morar aqui? Você quer colocar palavras na minha boca, Micael. Eu amo o Harrison como se fosse meu filho! Ele é uma criança encantadora.

— Então por quê quando começamos a discutir sobre a vida, você sempre enfia o assunto do Harrison em primeiro lugar?

— Quer saber? — Empurrei minha cadeira, me levantando. — Cansei de ficar aqui discutindo baboseira com você. Essa história do Harrison já deu!

— E como deu! — Micael ficou em silêncio, remoendo as palavras que queria soltar, por dentro.

Fui direto para a cama, sem falar com Micael ou ao menos desejar uma boa noite. Agarrei no travesseiro, chorando em silêncio e dormindo, minutos depois. Minha cabeça precisava de descanso, era muito assunto ao mesmo tempo.

Acordei um pouco melhor no dia seguinte, porém, com cólicas ainda fracas. Tomei um banho e me aprontei para ir ao colégio, optando ir de ônibus antes que Micael acordasse e quisesse conversar.

A mesma rotina repetiu: sala de aula, intervalo, mais estudos e...

— Por que você está com essa cara de burro arrependido?

O tatuado parou em minha frente, enquanto eu lia um romance absurdo de triste. Retirei meu fone de ouvido, o encarando.

— Estamos na hora do descanso, não? — Fiz uma careta.

— Você lê livros na hora do descanso. Isso é deplorável! — Negou com a cabeça. — Você é nerd, não é?

— Vem cá, desde quando você teve liberdade para abordar uma pessoa desse jeito? — Me irritei.

— Desde quando você está no meu território! Esse lugar também é meu.

— Todo lugar agora é seu, garoto? — Gesticulei. — Na sala de aula é seu, no jardim é seu. Me diz um lugar que eu possa ficar que não é seu. — Dei ênfase.

Ele piscou duas vezes antes de se sentar ao meu lado, no canto do gramado. Retirou um maço de cigarro do bolso, tirando um e colocando entre os dentes.

— Quer um? — Teve um isqueiro, acendendo o cigarro.

— Não pode fumar aqui.

— Eu sei. — Tragou a fumaça, um jeito sexy. Eu achava pessoas fumantes bem sexy, era estranho.

— Você é rebelde? — Segurei meu riso.

— Eu não gosto de regras. Mas não sou rebelde! — Tragou novamente. — Só quero saber porquê você está triste hoje.

— E como você sabe que eu estou triste?

— Você se isolou de um jeito que eu não consegui encontrar palavras para te tirar daí. — Os olhos me encararam, penetrante. — Eu acho que você deveria me contar o que aconteceu.

— Não. — Fechei meu livro. — Eu mal sei o seu nome. Como é o seu nome? — Foi importante entrar nesse assunto.

— Prazer. — Levantou uma mão. — Harry.

— Aaah. Harry? — Me impressionei. — Você não tem cara de Harry.

— E você não tem cara de Sophia. — Soltou um risinho antes de se levantar.

— EI! Como você sabe que meu nome é Sophia?

Harry deixou o cigarro cair, pisando em cima. Soltou outro risinho antes de me encarar.

— Se você bobear, eu descubro até a cor da sua calcinha. — Piscou, saindo dali como uma fumaça.

Fiquei boquiaberta com a audácia, saindo dali no mesmo instante que ele. Coloquei meu livro debaixo do braço, procurando minha sala para guardar o restante do meu material.

Mesmo brigada com Micael, ele jamais poderia saber desse fenômeno tatuado que se chamava Harry.
E que se eu bobeasse, descobriria a cor da minha calcinha.

MARATONA DE CAPÍTULOS AMANHÃ.

Meu Professor - Coast Onde histórias criam vida. Descubra agora