Capítulo 54

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— Querida. — Micael me chamou, sereno. Teve suas mãos fortes passeando por minhas costas. — Você precisa tomar o seu remédio!

Acordei no susto, arregalando meus olhos e me levantando rapidamente. Estava pronta para descer da cama, quando observei Micael sentado ao meu lado, um copo d'água nas mãos e o minúsculo comprimido em outra, pronto para me entregar.

— Obrigada. — Peguei rapidamente, engolindo no primeiro gole. — Bom dia.

— Bom dia. — Sorriu leve. — Você se esqueceu do anticoncepcional! — Me lembrou.

— Eu lembro de ter colocado o celular para despertar. — Fiquei em transe. — Harrison já acordou? — Coloquei as mãos em meus cabelos, bagunçando um pouco.

— Ainda não, o que me impressiona. — Mexeu a cabeça de lado, fazendo uma careta.

— Gosto dele. — Toquei as mãos de Micael. — Ele é um menino doce, gentil, inteligente...

— Nossa, você quer ficar com o Harrison? — Levantou as sobrancelhas. — Estão bem amiguinhos.

— E você está com ciúmes? — Segurei meu riso.

— Não. — Ficou sério, me fazendo rir mais ainda.

Me enrolei no lençol e sai da cama, andando com um pouco de dificuldade. Micael me seguiu, se escorando no batente da porta.

— Eu pensei de irmos ao shopping hoje. — Coçou a nuca, meio sem jeito. — O que você acha?

— Shopping? — Tive minha escova de dentes em mãos.

— É. Você não gosta de shopping?

— Eu gosto... Mas, se alguém do curso nos ver? Você vai falar alguma coisa?

— Sophia, Malibu é imenso. Ninguém irá não ver! — Micael cruzou os braços. — Acho que Harrison precisa de um pouco de lazer.

— Tem razão. — Eu nem sabia o que estava falando. Só não queria que Paola voltasse para atazanar a nossa vida.

Ajudei Micael a arrumar a mesa do café naquela manhã. Harrison não teve aula, o que facilitou a nossa saída para o shopping, quarenta minutos depois.

Era estranho sair com Micael à luz do dia, ainda mais quando se tinha uma criança conosco, que não era meu filho. Obtive olhares estranhos, cochichos e uma infinidade de reações do público. Parecia que eu estava nua andando com os dois.
Será que era tão difícil aceitarem eu como namorada de Micael?

— Papai, será que podemos brincar no parque?

Harrison apontou para o imenso parque de diversões em meio ao shopping. Micael soltou um suspiro pesado.

— Não inventa, Harrison. — Respondeu.

— Por favor, por favor. — Deu pulinhos na frente de Micael. — Eu fiz a lição de casa ontem, comi espinafre e tomei todo o leite, sem deixar na caneca. — Achei graça da sua especulação para poder ir ao parque.

— E o que isso tem a ver? — Micael levantou uma sobrancelha.

— Micael, deixa ele. — Me intrometi.

Eu disse que não iria me entremeter mas adorava Harrison. O seu jeitinho encantador acabava comigo.

— Olha, eu não sei. — Micael nos observou.

— Sabe sim! Vamos Harrison, eu vou com você ao parque. — Soltei, vendo Harrison pular de alegria até a entrada do local.

Micael ficou em transe, com uma careta ao me ver puxar Harrison para a cabine da bilheteria. Enquanto estávamos na fila, li todas as precauções e a idade indicativa que as crianças poderiam usar os brinquedos. Conversei com a mulher, que me entregou dois tickets com liberação aos brinquedos. Micael acertou o pagamento, olhando de longe.

Não sei quanto tempo ficamos lá dentro, mas sei que Harrison se divertiu à beça. Carrinho de bate-bate, roda gigante, trampolim, máquinas de basquete e até uma montanha-russa. Voltamos acabamos! Harrison tinha os cabelos molhados de suor, não tanto como os meus.

Micael segurou o riso quando nos encontramos com ele.

— Se divertiram, crianças?

— Papai, foi muito legal! — Harrison estava elétrico. — A Soph quase caiu quando a montanha russa virou. Foi divertido! — Ri bastante do comentário de Harrison.

— Você achou divertido eu quase ter morrido, Harrison? — Tive um riso nos lábios.

— Eu não quis dizer isso. — Se entristeceu um pouco.

— Podíamos ver algum lugar para almoçar! Já passou do horário. — Micael avisou.

Andamos até a praça de alimentação. Harrison contava todos os detalhes da diversão à Micael, que escutava atencioso, como se não tivesse olhando tudo lá de baixo.

Paramos para buscar um hambúrguer à Harrison. Micael optou por almoçar de verdade, assim como eu.

— Soph. — Ele tinha o lanche em mãos. — Sabia que eu gosto muito de você?

— Eu também gosto muito de você, Harrison! — Sorrimos.

Ele deu uma mordida em seu lanche.

— Você podia ser a minha mãe. Sabia?

Ok, aquilo me quebrou em caquinhos! Eu não queria roubar o lugar de Paola, mas acreditava que Harrison não tinha metade dos momentos que estávamos tendo, como esse no shopping. Micael não estava por perto para escutar, já que havia ido buscar o seu almoço.

Fiquei extasiada pela frase, querendo chorar. Era triste mas ao mesmo tempo, uma sensação boa.

— Voltei. — Micael apareceu na mesa. Tinha sua bandeja em mãos. — O que estava rolando?

— Desde quando você fala gíria, papai? — Harrison fez uma careta.

— Eu não posso falar gírias? — Ele achou graça. — Não sou tão velho quanto parece!

— Você não pode falar gíria. Você é professor!

Fiquei em silêncio, relembrando a frase de Harrison.

— Aconteceu alguma coisa? — Micael me perguntou.

— Não. — Menti. — Está tudo bem. — Voltei a sorrir, encarando meu prato.

Micael sorriu de volta, dando atenção ao seu almoço. Assim como Harrison, que agora, molhava as batatas no ketchup.

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