Capítulo 78

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Consegui chegar um pouco mais cedo no Ahoy, vendo Harry subir as portas de ferro, sereno. Levantou as sobrancelhas quando me viu, já de uniforme.

— Pensei que ficaria na casa do velho de sessenta anos.

— Ele não tem sessenta anos, Harry. — Rolei meus olhos e entrei, acendendo as luzes. — Harrison precisava da minha ajuda. A babá estava desmaiada!

— Uau. — Não ficou muito surpreso. — Não me diga que você salvou ela. — Foi atrás do balcão, abrindo o caixa.

— O que foi, hein? — Me escorei em sua frente. — Eu te fiz alguma coisa por acaso?

— An... Deixa eu ver. — Tinha dez dólares nas mãos. — Micael ligou para você e num piscar de olhos, boom, você estava na casa dele, de novo. — Me encarou.

— Foi Harrison que me ligou.

— Foda-se! Eu mal recebi um obrigado por você estar ficando em casa. — Umedeceu os lábios. — A gente transou, você me questionou mas o Micael é sempre o primeiro a ficar à cima de você.

— Qual foi, Harry? — Ri, incrédula. — Eu já disse que Harrison estava precisando de ajuda! Eu não fui lá porque eu quis.

— Beleza, Sophia. — Voltou a contar o caixa, tentando se concentrar. — Só saiba que esse cara vai te magoar de novo.

— Eu sei, eu não tenho mais nada com ele. — Era sério que Harry estava pensando em histórias contrárias? — E obrigada por me alojar, por enquanto.

— Por enquanto? — Subiu um olhar estranho para mim, se levantando da cadeira onde estava sentado.

— Sim! Eu não vou morar na sua casa. — Eu deveria estar muito drogada para morar naquele ninho do Harry. — Preciso receber e ajeitar a minha vida. Vou atrás de algum aluguel, qualquer coisa.

— Nada a ver. Você não vai conseguir se estabilizar sozinha, ainda mais agora. — Se preocupou. — O salário do Ahoy não é grande coisa.

— Você quer mesmo que eu more com você? Sem condições, Harry. — Blefei.

— Eu estou tentando te ajudar mas parece que não vai acontecer grande coisa. — Andou até à cozinha, buscando o seu avental.

— Eu agradeço que você esteja me ajudando, mas não posso morar com você. Isso já aconteceu uma vez comigo e olha no que deu. — Me referi minha história com Micael. — Agradeço mesmo, de coração.

— Ok Sophia, você tem três potes de sorvete para descongelar. — Soou grosso. — Depois podemos conversar sobre sua vida caótica de Britney Spears. — Gesticulou, indo aos seus afazeres na sorveteria.

Eu trabalhei com ódio naquela tarde, já que Harry estava me ignorando, parte do tempo. No fim do dia, quando as portas estavam se fechando, ele ousou em puxar assunto comigo, até irmos para sua casa, andando tranquilamente.

Minha vida foi praticamente assim durante duas semanas. Colégio, trabalho, colégio e trabalho.

E eu ainda não havia achado nenhum lugar para me alojar. Era difícil sobreviver com um salário mínimo, ainda mais um salário no Ahoy.

Como Harry conseguia?

— Eu não acredito nisso. — Harry abriu o freezer. — Sorvete de caramelo com brócolis?

— Como? — Achei graça, indo atrás do freezer, verificando o vidro abaixo de mim. — Por que você comprou um sorvete de caramelo com brócolis?

— Sua patroa pediu! Parece que um cliente dela ama esse sorvete. — Revirou os olhos. — Quero vomitar!

— Eu também. — Torci o nariz.

Estava rindo das caretas de Harry mas parei automaticamente quando Micael adentrou o espaço, junto com Harrison. O garoto correu até à frente do freezer, pulando feito um doido. Sai de onde estava, abraçando Harrison fortemente e ganhando um beijo demorado na bochecha.

— Senti saudade, Soph. — Sorrimos.

— Eu também, meu amor. — O abracei de novo. — Como você está? Faz tempo que não nos vemos. — Passei minha mãos em seus cabelos, com um pouco de gel.

— Eu estou bem. E você?

— Estou bem também. — Fiquei feliz de ver Harrison.

E péssima de ter visto Micael.

— Boa tarde, senhorita Abrahão. Quer dizer, Sophia. — Micael fez graça.

— Não tão ótima, já que você falou comigo. — Fiquei de pé, o enfrentando. — Posso ajudar o senhor em alguma coisa? — Fui irônica.

— E aí. — Harry ficou atrás de mim. — Precisam de algo?

— Você é o garoto estranho que acolheu Sophia? — Micael apontou para Harry.

— Tanto acolhi quanto transei com ela também. Se você está interessado em saber!

Meu queixo quase foi ao chão com a fala grotesca de Harry. Vi Micael ficar abatido, impressionado, puto e com ódio no olhar. Harrison assistia a discussão em silêncio, sem entender muita coisa.

— Babaca! — Empurrei Harry, que tomou um solavanco.

— Uau! Como você foi rápida, senhorita Abrahão. — Micael realmente ficou abalado. — Mas isso não faz mais parte da minha vida, não é mesmo? Que bom que você está aproveitando a sua solteirice. — Encarou Harrison. — Vamos! Podemos tomar sorvete em outro lugar.

— Pera aí, Micael. — O tentei parar.

— Pera aí? É sério? — Harry interviu de novo. — Você leva um pé desse velho, pede para morar na minha casa e depois fica de graça com ele dentro do seu serviço? Que a propósito, eu arrumei! — Deu ênfase.

— CALA A BOCA, HARRY! — Gritei, me estressando. — Micael, eu posso explicar. Tá bem? — Tentei deixá-lo ciente de tudo, mesmo ele não tendo mais nada a ver com a minha história. Realmente.

— Você não precisa se explicar, Sophia. — Deu de ombros. — Não somos mais um casal! Você pode dormir com quem você quiser, assim como eu posso dormir com quem eu quero.

— Será que a gente pode conversar em um lugar mais calmo? — Pedi, mas não sabia o por quê de estar fazendo isso.

— Acho que você precisa trabalhar. — Micael assentiu, desconversando. — Na verdade eu queria mesmo falar com você, não sobre esse assunto e sim outro.

— Aconteceu alguma coisa? — Fiquei tensa.

— Pai, você vai falar para ela? — Harrison se intrometeu, um pouco ansioso.

— Que tal você escolher o seu sorvete? — Micael deu um sorriso falso, fazendo com que Harrison se empoleirasse em cima do freezer, escolhendo.

Harry o atendeu, sem nenhuma vontade de ser espontâneo e simpático. Entregou um cascão completo à Harrison, que sentou em uma mesa, devorando o sorvete.

— Pode me dizer o que você queria falar comigo? — Cruzei meus braços.

— Eu achei legal a sua atitude com a babá. Ela está bem, falando nisso. — Colocou as mãos no bolso da bermuda. — Harrison está me enchendo o saco desde o dia do ocorrido.

— Sobre?

— Ele quer que você seja a babá dele. E não aceita um não como resposta.

Ai meu Deus!

Meu Professor - Coast Onde histórias criam vida. Descubra agora