Capítulo 79

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— Uau. — Me impressionei.

Eu estava em uma cilada completa! Ao mesmo tempo que não queria contato com Micael, eu também queria contato com Micael. Era incrível!
E também, precisava de um dinheiro extra para sair da casa de Harry, que deveria estar me xingando ao sete ventos pela cena assistida dentro do Ahoy.

Queria ter minha liberdade mas precisava de Micael para me ajudar, não tinha jeito.

— E então? — Micael me encurralou na parede, mentalmente.

— Será que a gente pode conversar em outro lugar? — Mexi em meus dedos, um pouco nervosa. — Aqui não é local.

— Por conta do seu namoradinho?

— Micael, ele não é meu namorado! — As implicâncias iriam começar.

— Certo. — Micael encarou de canto Harrison, que devorava o sorvete em silêncio. — Se quiser ir em casa hoje à noite para conversarmos. Nós três!

— Nós três? — Franzi o cenho.

— Eu, você e o Harrison. — Apontou para o garoto, que se ligou que estávamos falando do mesmo.

Eu fiquei um pouco envergonhada, sorrindo leve e deixando de lado a história antes do meu aniversário.
Eu precisava de dinheiro!
Precisava me reerguer!

E vamos combinar, dois empregos seriam ótimos até o colégio acabar e eu me estabilizar financeiramente.

— Eu vou indo. — Micael ajeitou sua postura. — Te vejo mais tarde?

— Claro. — Acenei à Harrison, que ficou de pé, acenando de volta.

Micael o induziu até a saída do Ahoy, sumindo das minhas vistas. Harry voltou, batendo palmas como um idiota.

— Fico feliz que você voltou com o velho de sessenta anos.

— Harry, qual é? — Eu estava me cansando. — Não voltamos! Eu ganhei um oportunidade e preciso conversar primeiro.

— Não me diga que você vai olhar o moleque? — Levantou uma sobrancelha.

— Harrison gosta de mim!

— Tá. E a gente? — Harry cruzou os braços.

— Não tem a gente. — Soltei um riso estranho, um pouco óbvia. — O que aconteceu naquele dia foi...

— Você estava bêbada e quis extravasar. Certo! Eu sei, também fui errado em ter transado com você.

— Errado você foi em contar ao Micael como se eu fosse uma mulher da vida. — Me irritei.

— Uma hora ele ia saber, Sophia. E de verdade? Eu fiquei puto da vida em ver você chorar por ele. O cara te deu um pé! Disse que você não pode mais fazer parte da vida dele. Você não fala com os seus pais POR CAUSA DELE!

— HARRY, CHEGA! JÁ DEU! — Me estressei, aumentando o tom de voz. — Já deu por hoje! — Sai de perto, esfriando meu sangue.

Tive vontade de chorar mas fui forte. Eu não sabia como fazer aquilo e não tinha uma conta bancária suficiente para tomar aquela decisão.

— Eu agradeço muito por você ter me acolhido na sua casa, todo esse tempo. — Rolei meus olhos. — Mas eu irei sair de lá, hoje mesmo! — Tomei coragem.

— E vai morar na sarjeta?

— Vou alugar um quarto de hotel até eu conseguir me resolver.

— Vai porra nenhuma! Você vai chorar na casa do Micael hoje, vai chupar o pau dele para conseguir a confiança e depois... O trouxa aqui fica com cara de palhaço. — Harry abriu os braços.

— Você está me ofendendo, Harry. — Comecei a chorar. — É assim que você me vê?

— Sinceramente? Sim, é assim que eu te vejo! — Ele se transformou em outra pessoa. — Eu gosto da Sophia de antigamente. Aquela que sabia resolver uma situação.

— E agora eu não sei? — Sequei minhas lágrimas.

— Você tem muito que apanhar da vida ainda, Sophia.

Harry saiu andando, me deixando plantada no meio do Ahoy, chorando. Senti vergonha quando uma família adentrou o local, ambos sorrindo.
Sequei minhas lágrimas rapidamente e fui para dentro, me escondendo na cozinha.

— Bem vindos ao Ahoy, em que posso ajudar?

Me agachei na parede da cozinha, como nos filmes de drama em uma cena totalmente drástica de personagem principal. Aquilo não era brincadeira!
Eu não tinha onde morar, e não podia pedir à Micael para ficar na casa dele, mesmo Harrison adorando a ideia.

Também não podia ficar na casa de Harry, já que o sexo viraria rotina entre nós. E eu não tinha nada com Harry, além da amizade.

Fiquei remoendo as palavras que ele me disse e as palavras que ele soltou, na frente de Micael. Chorei tanto até sentir náuseas. Eu não queria mais ficar ali.

Ajuntei minhas coisas e sai pela porta dos fundos, não dando satisfações à Harry, que ficou na sorveteria, atendendo os clientes que chegavam.

Fui de ônibus até a casa de Harry, recolhendo algumas coisas que ainda estavam por lá.
Agradeci por não dividir mais aquela imundice de apartamento, mesmo ficando por ali, até achar um lugar fixo somente para mim.

Esperei que anoitecesse para ir até à casa de Micael, como o combinado. Aquela minha fantasia de adolescente sem teto estava me matando por dentro. Ainda tinha um dinheiro reservado, conseguiria me manter até o meu pagamento do Ahoy.

O difícil seria achar um lugar para me manter com o dinheiro do Ahoy.

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