Capítulo 36

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Eu achei ridículo a ideia de Micael levar a minha mãe até um café no centro de Malibu, já que conversariam sobre questões do curso. Faziam mais ou menos trinta minutos que estávamos lá e minha mãe só sabia rir, jogar charminho e fazer perguntas sem nexo à Micael.
Meu ciúmes estava à flor da pele.

— Senhor Borges, foi um prazer estar aqui com o senhor, tomando esse delicioso café. — Soltou outro risinho. — Sophia está se dando bem nas aulas?

— Como eu mostrei à senhora, perfeitamente bem! — Tinha uma pasta em cima da mesa. — As notas, atividades, provas... Não vejo o por quê dela ir embora, não agora.

— É que essa história de estupro mexeu um pouco com a nossa cabeça. — Ficou séria. — O pai dela quase infartou quando pensou em alguma possibilidade... Enfim! — Minha mãe balançou a cabeça. — Não vamos ser racionais, esse curso precisava de um ótimo reforço de segurança máxima!

— O governo já está vendo isso como uma prova de que os alunos estarão seguros à partir de agora! Infelizmente isso nunca aconteceu, foi algo raro, triste, enfim, sem palavras para esse tipo de caso. — Micael nos encarou. — Eu sinto muito que esteja pensando em tirar a Sophia, mas acredito que, se eu fosse a senhora, repensaria no caso.

Minha mãe ficou em silêncio, encarando a xícara que estava em cima da mesa, como prova de estar pensando em todas as linguiças que Micael encheu, desde que chegaram no café. Ela vasculhou sua bolsa, mexendo em seu celular, fingindo que não estávamos ali. Escutei ela sorrir quando meu pai respondeu, do outro lado da linha.

— Com licença! Irei falar com o meu marido. — Saiu da mesa, nos deixando à sós.

Vimos ela sair para fora do estabelecimento, andando enquanto conversava ao telefone com o meu pai.

— Eu não acredito que você fez isso! — Neguei com a cabeça. — Estava dando em cima da minha mãe?

— Na verdade a sua mãe estava dando em cima de mim. — Soltou um riso. — Eu preciso fazer qualquer tipo de coisa para você ficar.

— Ela não vai ceder tão fácil assim, Micael! O meu pai está na linha com ela, com certeza ela vai voltar com outra opinião diferente.

— Eu faço uma dança sensual de cueca se ela mudar de ideia, de novo. — Achou graça enquanto ria, fechei a minha cara.

— Micael!

— Não fica assim. — Passou o dedão em meus lábios. — Você quer ir embora?

— Óbvio que não! Eu quero ficar com você mas... — Bufei. — Que coordenador idiota! Justo agora ele foi chamar ela?

— Ela é sua mãe, Sophia! Nada mais justo do que ela ficar sabendo do acontecido.

— E o alojamento? Ela vai fazer um inferno para me colocarem em outro lugar. — Coloquei minhas mãos na cabeça. — Eu não quero nem ver o que pode acontecer.

— Calma, está bem? É só você relaxar, não fique pensando no pior, ainda não aconteceu. — Soltou.

Minha mãe voltou, ajeitando os cabelos e dando outro risinho quando se sentou ao lado de Micael. Guardou o celular de volta na bolsa.

— Eu conversei com o seu pai, ele me disse que você pode ficar. — Um sorriso nasceu no meu rosto. — PORÉM, eu vou conversar com o coordenador para alguém de confiança ficar com você, dentro do quarto.

— Confiança quem? — Fiz uma careta.

— Alguma administradora, diretora, inspetora... Qualquer coisa. — Nos encaramos. — Eu não quero você dormindo sozinha nesse alojamento, entendeu?

— Senhora Abrahão, acho que não é necessário essa ponte firme em cima da Sophia. — Micael interviu. — O alojamento está cheio de seguranças, não vão fazer mais nada.

— E o senhor garante mesmo? — Minha mãe levantou uma sobrancelha. — Está dizendo isso porquê não tem filhos, senhor Borges! Uma vez que um maníaco estuprador entra no quarto de duas adolescentes para cometer um crime, eu como mãe tenho o direito de ficar preocupada!

— Eu entendo perfeitamente...

— Então por que está defendendo? — Rebateu com Micael.

— Só estou dizendo que a senhora pode ficar tranquila, Sophia está em boas mãos. — Micael ficou um pouco sem graça.

— É, mãe. — Foi minha vez de intervir. — Fora que tem um segurança gigante na porta dos alojamentos, isso nunca mais vai acontecer. — Revirei os meus olhos.

Micael encarou o seu celular, observou nós duas antes de se levantar.

— A conta, por favor! — Chamou uma garçonete. — Vamos indo? Sophia tem aula daqui à pouco, não podemos perder.

— Claro! Eu sinto muito pelo atraso. — Minha mãe ficou sem graça, levantando sem jeito e saindo com a gente. Micael pagou a conta e nos levou de volta ao campus.

— Senhor Borges, obrigada pelo café.

Minha mãe estava dentro de um táxi, pronta para ir embora. Graças a Deus! Micael sorriu como agradecimento, conversando mais um pouco até vê-la partir.
É claro que antes eu recebi um livro de precauções, me fazendo ter sono. Minha mãe era exagerada as vezes, isso me irritava.

Me despedi dela, entrando com Micael para o campus.

— Viu só? Foi mais fácil do que eu pensei. — Ele soltou.

— Graças ao meu pai que não foi tão rude. — Cruzei os meus braços. — Não via a hora dela ir embora.

— Seu pai é muito bravo?

— Meu pai é a pessoa mais incrível que eu conheço na minha vida. — Sorri de orelha à orelha. Estava com saudade do meu pai! — Se ele não batesse de frente com a minha mãe, eu nem estaria aqui.

— Ele te deu o maior apoio de estar aqui, não é mesmo?

— Deu! — Sorri. — Por isso eu não queria ir, eu preciso acabar o curso e mostrar que sou o exemplo de filha que ele sempre quis ter. — Paramos ao lado da sala de aula.

— Isso é lindo! E tenho certeza que ele ficará muito orgulhoso de você. — Sorrimos. — Vamos entrar? Já devem estar dando falta da gente.

— Vamos.

Entrei primeiro, seguida de Micael, que cumprimentou a sala antes de começar as aulas.

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