Acordei assustada, pensando que eu ainda estava no sofá. Observei a cama arrumada e um lençol por cima do meu corpo. Micael chegou mais perto, os cabelos úmidos pelo banho recente.Me aninhei em seus braços, recebendo beijos no topo da minha cabeça.
— Pode descansar, eu estou aqui. — Alisou meus braços.
Me aninhei mais ainda, morrendo de sono e cansaço.
— Eu sei. Obrigada por isso. — Não sabia o que estava falando de fato. Quando vi, havia caído no sono de novo.
Pela manhã, Micael acordou primeiro. Eu estava extremamente atrasada, colocando a calça jeans de mal jeito, correndo atrás do meu tênis e procurando por minha mochila.
— Bom dia, querida. — Colocou a garrafa de café na mesa. Enfiei um pão na boca, com tudo. — Ei! Devagar! — Me reprimiu.
— Não posso. — Gesticulei, colocando minha mochila nas costas. Engoli o pão com um pouco de dificuldade. — Você vai ao hospital?
— Sim, acabando aqui e já vou. — Rolou os olhos. — Sente-se e tome café, Sophia. Eu levo você!
— Não, nada a ver. — Dei de ombros. — Eu posso ir no hospital mais tarde, mas agora preciso ir. O ônibus já vai passar! — Coloquei a mão na maçaneta.
— O ônibus? Sophia! — Micael ficou de pé. — Volte aqui agora e tome o seu café. AGORA!
Eu gelei em dois segundos. Micael jamais havia gritado comigo, e me senti uma criança fugindo das responsabilidades dos pais. Voltei, de cabeça baixa, me sentando e tomando o meu café. Porém, em silêncio.
— Eu não quero te cobrar nada mas acho que você precisa ter um pouco de sensibilidade por mim. — Micael soltou, em transe.
— Como? — Franzi meu cenho.
— Harrison está internado há dias! Paola está praticamente morta em uma cama de hospital, vivendo por aparelhos. — Fez aspas com os dedos. — E eu não vi você um dia inteiro se quer dentro daquele hospital, comigo.
— Mas amor, eu... — Estava sem palavras. — Eu não posso deixar o colégio e simplesmente ficar com você dentro do hospital. Eu sei que...
— E o que você faz a tarde? Você fica aqui e limpa a casa? Coisa que eu não te peço para fazer!
— Micael, eu não tenho muito o que fazer lá, você concorda comigo? — Me irritei. — Amo o Harrison como se fosse o meu filho, mas não tem o que fazer! O médico já te disse milhões de vezes que ele precisa descansar.
— DESCANSAR É O CACETE! — Micael gritou, batendo na mesa e me assustando.
Dei um pulo em segundos, arrepiando meu corpo por inteiro. Micael colocou as mãos no rosto, cansado de repetir aquilo por pelo menos três vezes ao dia, como uma bula de remédio.
— O médico diz isso porquê eu sou pai, eu estou cansado de ficar lá, sem respostas. — Nos encaramos. — Se você ama o Harrison como se fosse o seu filho, então por favor, vá visita-lo. Ainda mais agora que ele está de olhos abertos, vivo!
Micael respirou fundo, saindo da mesa e ajeitando sua roupa. Segurei meu choro e tomei meu café em silêncio, triste por ter escutado aquilo, em plena manhã.
Subi em seu carro e ele me deixou na porta do colégio. Meu coração gelou ao ver a imagem de Harry, escorado na parede da entrada, fumando.
— Ele ainda não sabe que é proibido fumar? Onde está o responsável dessa escola? — Micael lhe fuzilou com o olhar.
— Eu vou indo. — Toquei seu braço. — Vou ao hospital depois da aula. Tudo bem?
— Claro! Quer que eu venha te buscar? A mãe de Paola vai ficar no meu lugar, vamos revezar.
— Não precisa, eu me viro. — Dei um selinho rápido em seus lábios. — Eu te amo.
— Eu também te amo. Se cuida! — Micael sorriu leve, me vendo descer do carro e ir.
Atravessei a rua e acenei à Harry, que terminava de tragar o seu cigarro. Jogou a bituca no chão, pisando em cima.
— Bom dia! — Não estava muito animada.
— Era o seu namorado de sessenta anos? — Cruzou os braços.
— Trinta!
— A mesma coisa. — Rolou os olhos. — O que aconteceu? Você não parece bem hoje.
— Eu não sei como te dizer isso mas... Preciso faltar no trabalho hoje. — Cerrei meus dentes.
— Já? — Harry ficou indignado. — Você começou ontem, não pode faltar hoje.
— Mas eu preciso! — Juntei minhas mãos. — Eu não sei como te contar isso mas eu preciso ir, de verdade.
— Primeiro me conta o que aconteceu, depois posso dividir o lado que vou atacar para te ajudar.
Eu não tinha escapatória! Harry me prensou na parede para contar o ocorrido com Harrison e Paola.
— Quer cabular aula? Temos tempo! — Harry sorriu de orelha à orelha.
Eu tinha que contar e... Cabular aula seria uma ótima ideia.
Decidimos não passar do portão naquela manhã, cabulando aula e indo até o famoso píer de Malibu. Harry me comprou um pão recheado de baunilha enquanto caminhávamos pelas madeiras antigas do local, vendo a vista incrível.
Eu já tinha contado a metade da história durante o caminho.
— Pera aí, deixa eu ver se eu entendi. — Se escorou na madeira do mirante. — A mulher dele está em fase terminal no hospital junto com o filho. E você está morando com ele?
— Ex-mulher e não é fase terminal. — Revirei os olhos. — Ela teve morte cerebral. Micael está cuidando para desligar os aparelhos, mas primeiro precisamos falar com o Harrison.
— Que merda. — Harry ficou em transe. — Eu realmente não sei o que te dizer. Tá ai! Você tirou todas as palavras da minha boca.
— Viu só? Eu não sei o que fazer! Eu amo o Harrison mas não sei se vou conseguir segurar essa pressão.
— Você vai ter que segurar, afinal, vai ser mãe dele daqui em diante. Ou o seu namorado pode entregar ele para a avó. — Harry mexeu os ombros.
— Acho que isso não seria possível. — Fiquei pensativa. — Eu ainda preciso contar ao Micael que estou trabalhando.
— Ora, não me diga que você não contou. — Ele acendeu outro cigarro, me deixando irritada.
— Não, eu não contei. — Cruzei meus braços. — Por que você fuma tanto? Sabia que você pode morrer por conta dessas porcarias? — Gesticulei, fazendo uma cena daquelas para Harry.
Perdi o equilíbrio sem querer, caindo em cima do seu corpo. Harry jogou o cigarro longe, pegando meu corpo e firmando seus dedos em meus braços. Fizemos uma troca de olhares por, pelo menos, três segundos.
Uau... Ele era bonito sim! Lindo! Ninguém dava valor à ele, era como se Harry fosse invisível.
— Cuidado por onde pisa. — Engoliu seco, colocando uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
— D-desculpa. — Não consegui me soltar do seu corpo.
— Pode me largar agora.
Ainda estávamos trocando olhares. Me soltei devagar dele, ficando em meu lugar, com vergonha pelo ocorrido. Harry coçou o maxilar, quase corando.
— Vamos indo. Acho que eu já entendi tudo!
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Meu Professor - Coast
RomanceDurante as férias de verão, Sophia ganha um curso promocional na Califórnia. Mas ela não esperava se apaixonar pelo o seu professor, treze anos mais velho, moreno e de olhos castanhos.