Capítulo 65

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Fui para a casa, um pouco mais tarde. Iria parar no píer durante o caminho mas precisava descansar. Afinal de contas, teria aula na manhã seguinte.

Não vi que horas Micael chegou e se dormiu em casa naquela noite. Eu literalmente apaguei.

— Por que você usa essas roupas?

Harry me deu um susto daqueles quando passei pelo portão do colégio. Coloquei a mão no meu peito, tranquilizando meu coração.

— O que tem de errado nas minhas roupas? — Encarei as mesmas. Um jeans surrado, blusa de algodão e uma jaqueta jeans por cima. Nada de absurdo!

— Você não usa vestido e muito menos aquela calça que parece que você está cagado. — Andou ao meu lado. — Como foi sua noite?

— Certo. — Dei um riso. Harry falava assuntos rápido demais. — Minha noite foi fantasmagórica, eu diria. Dormi sozinha!

— E você não dorme sozinha? — Harry arqueou uma sobrancelha.

Eu pensei em dizer sobre Micael à ele, mas não queria lhe assustar de imediato.

— Durmo com a minha mãe. — Cerrei meus dentes.

— Quantos anos você tem? Dormir com a mãe é a mesma coisa que usar chupeta. — Blefou. — Aí, você gosta de trabalhar?

— Harry. Harry! — O parei com minhas mãos. — Por que você não conversa sobre assuntos que eu possa pensar em responder? Pelo menos. — Fiz uma careta.

— Sou elétrico! Você precisa me acompanhar. — Nos encaramos. — Enfim, você gosta de trabalhar?

— Eu nunca trabalhei.

— Jura? — Ele se impressionou. — Eu trabalho em uma sorveteria, perto do parque de diversões. Eles estavam precisando de alguém!

— Que legal! Faz quanto tempo que você trabalha por lá?

— Dois anos. — Coçou o maxilar. — E aí? Você se interessou?

— Eu super topo! — LOUCA! — Quando posso ir lá?

— Preciso que vá para conversar com a dona. Ela é tranquila! Só está precisando de imediato por conta do fim do verão. — Explicou. — Não consigo fazer nada sozinho.

— Posso ir hoje à tarde. Se não for incômodo. — Sorri leve. — Preciso levar alguma coisa?

— Somente você.

Escutamos o sinal bater. Harry correu em minha frente, como um doido. Aquele menino não era normal.

Harry sentou ao meu lado, como sempre fazia. Pés na mesa, corpo jogado e a mochila no chão. Revirei meus olhos com a postura do garoto, me incomodando um pouco.

O professor não demorou a aparecer. Um pouco mais velho, sério. Uma mochila de mão, notebook e quando me dei conta: slide sobre educação sexual.
É sério?

Bocejei duas vezes antes da aula ficar interessante.

— Professor? — Harry levantou a mão. Segurava uma caneta.

— Sim. — Teve a atenção à ele.

— Gostaria de fazer uma pergunta.

— Sou todo ouvidos.

A sala inteira olhava Harry. E ele não teve vergonha.

— Pode me explicar o que é aquele líquido que sai do pênis antes de gozarmos?

Corei ao perceber que Harry me encarava de canto, com seu jeito sexy. Umedeci meus lábios, tentando não transparecer que eu estava morrendo de vergonha por ele.

— Ótima pergunta! Esse líquido se chama pré-ejaculatório. — O professor explicou.

Mas Harry não obteve nenhuma conversa com ele, já que o mesmo ficou falando sozinho. Seu olhar estava fincado em mim, assim como eu, que fiquei com vergonha de encara-lo. O reflexo me dizia tudo:

Ele não parava de me olhar.
Era como se... Como se ele fosse me comer.

— Alguém gostaria de perguntar mais alguma coisa? — A voz do professor me tirou do transe.

Balancei a cabeça, focando em meu caderno, ainda com o rosto queimando. Harry soltou um risinho, logo após, mordeu a ponta da caneta que estava em sua mão.

Não falamos mais nada depois da aula. Conversei sobre o assunto do emprego e depois, cada um foi direto ao seu rumo. Eu tinha que voltar a minha realidade, saber se Harrison estava bem ou se Paola teve alguma melhora.

Fui direto ao hospital, sabendo que Micael ainda estava por lá.

— Por gentileza, pode me dizer o seu nome? — A recepcionista me perguntou. Bastante educada.

— É... Sophia. — Rolei meus olhos. — O Micael já está por aqui? — Me escorei no balcão.

— Quem?

— Alguém está no quarto da Paola? O quarto com esse número que eu te falei. — Expliquei.

— Pode subir, querida. — A recepcionista se embolou com minhas perguntas, me liberando com um crachá autocolante.

Entrei no elevador enquanto ajustava meu nome no papelzinho, colocando perto do meu peito. Quando as portas se abriram, avistei Micael conversando com o médico. Atento, cauteloso, sério e preocupado. Tinha olheiras no rosto, um semblante cansado de quem não havia dormido.

Me aproximei em passos leves, tirando sua atenção do médico.

— Querida. — Se aproximou de mim. Dei um abraço apertado no mesmo, beijando seus lábios.

— Como você está? — Tocamos nossas testas.

— Vamos avisando o quadro dela. Com licença! — O médico pigarreou antes de sair.

Micael o assistiu ele sumir pelo corredor. Me encarou novamente, vendo que eu ainda estava de uniforme. Que não era bem um uniforme.

— Veio direto?

— Sim. Eu sabia que você não estava em casa. — Toquei seu rosto. — Como eles estão?

— Harrison reagiu bem durante essa madrugada. Os aparelhos ainda estão ligados! O médico disse que pode ter alguma melhora depois de amanhã. — Senti esperança na voz de Micael. — Paola está ao contrário de todas as informações que eu falei.

— Nenhuma melhora? Nada?

— Nadinha de nada! Eu não sei como vai ser daqui em diante, Sophia. — Colocou as mãos na cintura.

— Por que? A Paola pode demorar dias para acordar! — Levantei meus ombros.

— Você não entendeu o caso ainda.

— Ela sofreu um acidente, Micael. Você não acredita em milagres? Precisamos orar por ela, qualquer coisa. — Comecei a andar de um lado para o outro.

— A Paola teve morte cerebral, Sophia.

Fiquei incrédula, parada como uma estátua. Minha cor havia sumido, assim como minhas reações.

— Então...

— Então que eu sou o responsável por manter ela sob os aparelhos, ou deixar ela descansar em paz.

Micael havia dado o ultimato. E eu não sabia como reagir a isso!

Meu Professor - Coast Onde histórias criam vida. Descubra agora