Capítulo 90

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Cinco semanas depois.
Nova Iorque — EUA.

Muita coisa aconteceu durante cinco semanas.
Terminei o colegial, finalmente! Não optei pela festa de formatura, já que não tive dinheiro para realizá-la. Harry insistiu em pegar um empréstimo com a dona do Ahoy, mas eu neguei. Eu não iria ficar lá.

Antes de vir para Nova Iorque, consegui fazer a prova do vestibular, que durou seis horas em uma faculdade bem distante do centro de Malibu.
Alguns dias depois, arrumei minhas malas e declarei à Harry que estaria voltando ao meu habitat natural.

E você deve estar se perguntando: e o Micael?

Eu não tive mais nenhuma notícia depois que fomos embora do Texas. Eu bloqueei Micael em todos os sentidos da minha vida. Ele não me queria mais, e eu também não o queria mais na minha vida.

Seria melhor para todos nós! Eu tinha que refazer a minha vida, depois de todas as burradas que eu fiz.

— AMIGAAAAAA! — Mel pulou em cima de mim, me abraçando fortemente. — Eu pensei que jamais te veria de novo.

— Como você está? — Segurei seu rosto.

— Melhor agora. — Beijou minha bochecha. — Vamos indo? Chay deve estar nos esperando.

— Como estão as coisas por aqui? — Era tudo novo! Parecia que eu estava em cárcere privado.

— Ah, naquelas. — Andamos para fora do aeroporto. — Lua foi para Los Angeles, eu entrei na faculdade de artes e Chay está criando uma pequena empresa com o irmão. — Mel revirou os olhos.

— Uau. Muita coisa aconteceu enquanto eu estive fora! — Me impressionei. — Você tem notícia dos meus pais?

— Amiga, eu não sei te dizer. Eu nunca mais tive contato com a sua mãe depois das coisas que você aprontou por lá. — Foi como pisar em ovos.

"Coisas que eu aprontei por lá"... Sério?

— É. — Fiquei um pouco sem graça.

Avistamos Chay para fora do carro, com o porta malas aberto, esperando para pôr minhas malas lá dentro. Dei um abraço no mesmo, conversando pouco.

Entramos no veículo, partindo para a casa da Mel.

— Como está indo o casamento? — Puxei assunto como uma estranha.

— Naquelas. Eu descobri que a Mel ronca quando come hambúrguer de pimenta. — Chay brincou, levando um tapa no braço. — EI!

— Eu não ronco, só quando estou bastante cansada. — Se justificou.

— Ou seja, todos os dias. — Chay continuou.

— É... Como está a situação de empregos por aqui?

Mel virou o rosto para me encarar no banco de trás. Franziu o cenho e levantou os ombros, gentilmente.

— Eu não sei te dizer mas acho que o Chay pode te ajudar com isso.

— Você precisa se manter? — Chay continuou dirigindo.

— Eu não quero incomodar vocês, sério gente. — Me desesperei. — Eu sei que essa vinda minha para cá foi totalmente de última hora. Eu preciso alugar alguma coisa para mim!

— Acho que eu posso te encaixar em um emprego maneiro. — Chay soltou. — Preciso de um currículo seu, ok? Eu vou encaminhar aos meus contatos.

— Obrigada, Chay! — Quase agradeci de joelhos. — Eu não sei como agradecer vocês, de verdade.

— Amiga, você não precisa ficar se justificando da sua real situação. — Mel me tranquilizou. — Acontece com todo mundo! Você saiu, estudou, houve mudanças... — Pisou em ovos de novo com esse assunto. — E está tudo bem.

— Não Mel, eu sei que não está tudo bem.

Chay parou o carro em um semáforo, disfarçando que gostaria de encarar Mel, por conta do meu comentário drástico.

— Sophia, eu não queria dizer nada mas como... — Chay pigarreou. — Enfim, você está refazendo a minha vida.

— Minha mãe deve ter falado horrores de mim. — Segurei meu choro. — Mas ok. O que importa é que eu estou tendo uma segunda chance, não vou vacilar.

— É assim que se fala, amiga! Eu sei que a gente discutiu nessa sua época mas o que importa é que estamos aqui. — Mel e Chay assentiram. — E vamos te ajudar no que for preciso.

— Exatamente.

Eu quase chorei no banco de trás do carro, vendo em como a vida de Mel era totalmente diferente do que a minha. Eu pensei que poderia ser assim, com Micael, mesmo ele sendo mais velho do que eu.

Na verdade eu estava mais preocupada em arrumar um emprego e sair da casa dos dois. Não queria ser um incômodo para ninguém.

— Seja bem vinda. — Chay abriu a porta do apartamento, me deixando à vontade. — Saudade de ser uma nova-iorquina? — Deixou minhas malas no quarto de hóspede.

— Nem tanto. — Dei um sorriso leve. — Eu posso fazer o almoço, se você quiser. — Soltei para Mel, que riu.

— Você é nossa convidada e não nossa empregada. Vamos nos ajudar! — Andou até à cozinha americana. — Chay disse que vai te ajudar.

— Eu preciso mandar o currículo. — Lembrei.

— Não precisa! Eu vou ligar para os meus contatos. — Estava com o celular na orelha. Nos deixou enquanto caminhava para outro lugar no apartamento.

Fiquei ao lado de Mel, na cozinha.

— Que cara é essa? — A encarei.

— Amo o Chay mas ele está insuportável com esse irmão dele.

— Por que?

— Sophia, estamos recém casados! Precisamos estudar sobre o dinheiro que ele ganha. Mas parece impossível! — Reclamou. — É tanto investimento que eu tenho medo de... — Colocou as mãos na boca, na mesma hora. — Desculpa amiga, eu...

— Está tudo bem, eu não ligo pra isso. — Na verdade eu ligava sim! — Você tem medo de acabar como eu.

— Não necessariamente. — Congelou o sorriso. — É que você foi um caso mais sério. Tipo, foi coisa de outro mundo. Né?

— Por que outro mundo, Mel? Eu me apaixonei!

— Por um cara mais velho, Sophia. O seu professor!

— E daí? Ele me acolheu, moramos juntos, tive uma vida ótima com ele. Infelizmente não deu certo. — Lembrei. — O que a minha mãe disse para você?

— Horrores, nem queira saber. — Desviou o assunto.

— Agora eu quero saber!

— Pra que você quer saber? Não vai adiantar nada! Você está aqui e ela lá, as duas sem se falar. — Mel encostou no balcão. — Eu acho que você deveria dar a volta por cima e depois tentar uma rédea com ela.

— Minha mãe não quer mais falar comigo, entenda isso.

— Ela é sua mãe, Sophia! É óbvio que ela quer falar com você. — Levantou os ombros. — Não agora, mas futuramente vai querer falar.

Mel tinha razão. Talvez eu conquistasse novamente a confiança dos meus pais. Mas primeiro, eu precisava me reerguer.

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