Meu primeiro dia de trabalho. Ai caramba!Tive meu uniforme de marinheira sexy no corpo, enquanto Harry subia as portas de ferro, entrando no ambiente extremamente limpo.
— Começamos com o ponto de trabalho. — Chacoalhou uma cartela dourada. — E depois vamos ao que interessa. — Juntou as mãos. — Freezer, mesas, higiene sempre em primeiro lugar.
— E o que mais?
— Atender os clientes, ser muito comunicativa e coerente. — Harry pensou. — Já disse higiene em primeiro lugar? — Fez uma careta.
— Acabou de repetir, de novo. — Coloquei um avental.
Harry me entregou uma vassoura, me pedindo para varrer o chão antes que os clientes entrassem. Ajudei ele em mínimos detalhes até a sorveteria finalmente funcionar.
E não foi tão difícil como eu pensei. O básico era atender, limpar as mesas, servir o cliente com o sorvete escolhido e cobrar. Eu e Harry dávamos conta do Ahoy, sem problemas.
— E aí, escudeira! Ou quer dizer, marinheira. — Harry ficou atrás de mim. Senti um arrepio.
A sorveteria estava vazia, ninguém estava nos vendo. A não ser as câmeras de segurança.
— O que está achando do primeiro dia de trabalho?
— Não é difícil. — Me virei, o encarando. — Eu pensei que seria mais radical por conta da dona estar aqui.
— Ela mal vem aqui, Sophia. — Harry cerrou os olhos. — Eu fico sozinho na loja o tempo todo! Por isso te chamei para me ajudar. — Fez aspas com os dedos.
— Você não queria ficar sozinho? — Levantei uma sobrancelha. Harry riu.
— Por esse lado, sim. É um tédio depois das três, você vai ver. — Harry abriu o freezer que estava em minha frente. — Não vai ficar brava se eu te disser uma coisa? — Fechou o freezer, tendo o olhar sob mim.
Remexi meus ombros e assenti, dando livre espaço para que Harry terminasse de falar.
— O que aconteceu? — Balbuciei.
— Eu li o seu currículo. — Soltou. — E procurei sua ficha escolar na sala do diretor, escondido, é claro.
— Por que você fez isso? — Eu ainda não estava entendendo.
— É verdade que você namora um cara de trinta anos?
Fiquei surpresa por Harry ter soltado tudo de uma vez, sem rodeios. Não conseguia respondê-lo, eu ainda estava formulando palavras.
— E como você ficou sabendo disso?
— Responda minha pergunta primeiro!
— Sim! Eu namoro! — Fechei os olhos, cansada de me explicar. — O que você tem a ver com isso?
— Eu? Particularmente nada. — Harry puxou uma cadeira, se sentando. — Mas isso é pedofilia. Você não acha?
— Meu aniversário é na semana que vem.
— Sendo assim, você ainda tem dezessete anos. — Buscou uma casquinha de sorvete, comendo pura. — Não tenho nada a ver com a sua vida, mas isso me impressionou.
— Por que te impressiona, Harry? — Também puxei uma cadeira para me sentar. — Só porquê ele tem trinta anos? Por que ele é velho demais para mim? — Fiz aspas com os dedos. — Eu amo ele! Micael é uma das melhores coisas que já me aconteceu.
— O nome dele é Micael? — Mordeu a casquinha, de um jeito bizarro. Me concentrei em seus lábios, pouco carnudos.
— É. — Me reprimi. — Você quer saber mais alguma coisa da minha vida? A hora é essa!
— Eu quero! — Foi sincero. — Eu posso te contar da minha vida também. Todo mundo tem problemas!
— Então está me dizendo que você tem problemas?
Baixei minha voz com Harry, que ainda comia sua casquinha de sorvete pura. Ele soltou um suspiro, gesticulando as mãos para eu continuar a história da minha vida.
Estávamos mais conversando do que trabalhando, de fato.— Eu ganhei um curso de férias de verão. Entrei no projeto e acabei conhecendo Micael, que era o meu professor. — Contei.
— E aí você transou com ele? — Harry rolou os olhos.
— É... A gente começou a ficar junto e deu no que deu! Depois eu me formei, meus pais ficaram sabendo e minha mãe me expulsou de casa.
Eu não sou daqui! — Nos encaramos. — Agora eu moro com ele.— Bacana! — Não pareceu ficar muito surpreso. — Achei legal ele ter te acolhido, nada mais justo, afinal, você é namorada dele.
— Mas e você? — Me aproximei do mesmo, querendo saber mais da sua vida. — Você disse que também tinha problemas.
— Minha mãe se suicidou no começo do ano passado! Pegou meu pai dormindo com a minha irmã. — MEU DEUS? — Eu fiquei meio fora de órbita e por isso sou assim. Nada mais me afeta.
Fiquei incrédula e boquiaberta. Fechei meus lábios e ajeitei minha postura, tentando não transparecer que a história de Harry era pior do que a minha.
— E você ainda mora com o seu pai?
— Não! Eca! — Fez uma careta. — Eu me mudei para Malibu. Éramos de San Francisco! Na real, eu nunca quis estudar, nunca quis... Perder a minha mãe não foi fácil. Mas eu preciso ser alguém na vida. Por isso estou aqui! Estudando e trabalhando, conseguindo me manter.
— Legal que você mora sozinho. Quer dizer, não legal a parte da sua mãe... Enfim, você entendeu. — Me embolei, tirando um riso de Harry.
— Eu até te convidaria para ir lá, mas o seu namorado gagá iria odiar isso.
— Você diz como se ele usasse sonda e estivesse em uma cadeira de rodas.
— Eu imagino isso. — Harry segurou o riso.
Empurrei seu braço, caindo na risada em seguida. Ficamos assim a tarde toda, até a sorveteria fechar, onde fomos embora juntos até o ponto de ônibus mais próximo.
— Obrigada por me acompanhar até aqui. — Fiquei de pé, esperando o ônibus que vinha.
— Podemos passar no píer amanhã! Lá tem um cachorro quente ótimo. — Sorriu.
— Preciso ver! Estou com uns problemas mas amanhã te conto tudo.
O ônibus parou, abrindo as portas. Harry balançou a cabeça antes de sorrir.
— Eu achei que nunca iria conhecer uma pessoa cheia de problemas, mais do que eu.
— Conheceu agora. — Acenei ao mesmo, vendo a porta do ônibus fechar.
Harry ficou distante para mim, quando o ônibus se foi. Ainda trocando olhares, seu corpo sumiu após a curva e eu me dediquei em procurar um lugar para me sentar.
Fiquei cansada, bocejando e torcendo para que o ônibus chegasse logo. E torcendo para que Micael ainda estivesse no hospital.
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Meu Professor - Coast
RomanceDurante as férias de verão, Sophia ganha um curso promocional na Califórnia. Mas ela não esperava se apaixonar pelo o seu professor, treze anos mais velho, moreno e de olhos castanhos.