Capítulo 71

953 56 15
                                    


Estava no hospital depois da longa conversa com Harry. Esperei o horário certo de saída do colégio. Se eu chegasse cedo, Micael me sondaria para saber o que eu estava fazendo lá.

O encontrei no meio do corredor, como sempre. A mulher ao seu lado conversava com o médico, assim como Micael fazia, todos os dias.

— Oi. — Toquei seu peito. — Como estão as coisas por aqui?

— Atravancadas, eu diria. — Soltou um suspiro. — Harrison está bem! Conversou comigo, comeu, perguntou de Paola de novo. — Rolou os olhos.

— Eu quero ver ele. Será que eu posso? — Foi como pisar em ovos fazer aquela pergunta.

— Pode, claro! — Micael sorriu leve. — Vou avisar o médico que você está aqui.

— Tá. — Ganhei um beijo rápido nos lábios.

Vi Micael andar até a mulher e o médico, trocou breves palavras e ganhou um aceno em seguida. Caminhei até à porta do quarto, abrindo devagar e vendo Harrison na maca digital do hospital.

O ambiente não era tão agradável mas estava ótimo para uma criança. Sofá confortável ao lado, uma maca cem porcento digital com tecnologia de outro mundo, eu diria.
Micael sempre exagerado com hospitais particulares.

Me aproximei de Harrison, tocando sua mãozinha com um acesso preso à uma bolsa de soro. No nariz, um cateter nasal ligado ao oxigênio e mais alguns aparelhos que estavam ao seu lado.

Seus olhinhos piscaram duas vezes ao me ver. Ele sorriu, um pouco cansado, mas ficou feliz de me ver ali.

— Soph. — Sua voz saiu um pouco falhada. Meu coração não estava aguentando aquela cena terrível!

— Oi, meu pequeno. — Toquei seus cabelos, agora, um pouco cortados por conta do acidente. — Eu vim te ver! Estava morrendo de saudade.

— Eu também estava! Por que você não veio me ver antes? Meu pai disse que eu fiquei dormindo, por dois dias.

— Sim, você ficou sim. — Uma lágrima caiu do meu rosto. — Mas agora está tudo bem! Você está aqui! Com a gente. Graças a Deus. — Beijei sua mão.

— Por que você está chorando?

— Porque sim, Harrison. Eu prometo que vou te contar quando você sair dessa cama feia de hospital. — Fiz ele rir um pouco.

— Soph. — Me chamou. — Você sabe como está a minha mãe?

Um frio na espinha tomou conta de mim. Como eu iria contar? Afinal, eu não podia contar nada ainda.

Apenas sorri à Harrison, trocando de assunto enquanto ele insistia que eu voltasse, perguntando de Paola várias vezes.

Fiquei durante um bom tempo com ele, até Micael me chamar novamente. Sai do quarto, deixando Harrison na companhia de uma TV.
Gumball estava sendo reprisado, de novo.

— Micael, você precisa fazer alguma coisa e rápido. — Cerrei meus olhos. — Ele me perguntou da Paola umas cinco vezes.

— Está vendo? É por isso que eu não posso sair daqui! Minha cabeça está cheia! — Gesticulou. — A mãe da Paola está na mesma situação que a minha. Não sei como vamos fazer.

— Ela realmente não apresenta nenhum quadro de melhora?

— Deu morte cerebral, Sophia. Só precisa da gente para resolver a atual situação dela. — Micael ficou de cabeça baixa, pensando. — Eu já conversei com o médico e ele me disse a mesma coisa que eu disse para você. Eu só preciso me preparar!

— Para contar ao Harrison?

— Exatamente!

— Você poderia ir conversando com ele a partir de agora. — Rondei Micael, explicando. — Ele é inteligente! Vai entender que Paola está sofrendo desse jeito. É melhor do que você chegar no menino e contar que a mãe dele morreu, do nada.

— Não foi do nada, ela estava muito mal.

— Micael, você entendeu. — O repreendi. — Só não pode deixar as coisas chegarem a esse estado! Harrison acreditando que Paola está bem, a mãe dela chamando a família inteira para vir até o hospital e você com a cabeça cheia de problemas.

— Eu juro que queria sumir por seis segundos, depois eu pensava no que fazer. Como fazer. — Micael apertou os olhos, cansado de estar estraçalhando sua mente daquele jeito.

— Amor, eu sinto muito por essa situação. — O abracei de lado, tocando seu ombro. — Eu também espero que acabe logo!

— Vai acabar, em breve. — Me beijou rápido. — Como foi no colégio hoje?

— Nada demais. A mesma coisa. — Menti. — Na verdade eu fiquei pensando em um jeito de vir até aqui.

— Acho que fui um pouco rude de manhã, me desculpe! — Micael balbuciou, com um pouco de vergonha. Apertou os olhos novamente, me chamando para um abraço, logo após.

A recepcionista morena e alta chamou nossa atenção ao desfilar com seu salto ecoante pelo corredor. Parou perto de nós, com uma prancheta em mãos.

— Sophia Abrahão? Pode me acompanhar, por favor?

Micael e eu nos entreolhamos. Eu o deixei, seguindo o caminho com ela.

Descemos de elevador e fomos até a recepção. Durante o caminho eu havia perguntado à ela o que havia acontecido. Ela me respondeu que alguém me esperava lá em baixo, e não podia ficar por muito tempo.

Fiquei intrigada e curiosa para saber quem era. Eu imaginaria todo mundo que estava envolvido nesse mar de emoções, mas jamais imaginaria Harry em frente à recepção, com um buquê de rosas vermelhas.

— Harry? — Arregalei meus olhos. — O que você está fazendo aqui?

— Eu trouxe para o filho do seu namorado de sessenta anos. — Me entregou o buquê. — Na verdade eu queria ajudar, de alguma forma.

— Obrigada mas você não pode ficar aqui. — Segurei as rosas.

— Por que não? Eu sai do trabalho só para vir até aqui! — Olhou o próprio uniforme do Ahoy.

— Meu Deus! Você sabe o caos que vai ser quando o Micael descobrir que você está aqui?

— Por que caos? Eu vim saber do filho dele! Ele deveria ser simpático e agradável comigo.

— Harry, olha. — Fechei meus olhos rapidamente. — Eu agradeço muito que você está aqui, me ajudando, me dando essa força. Tanto para mim quanto para o Micael mas, você não pode ficar aqui. Entendeu?

— Você está com medo dele?

SIM!

— Não. Eu só acho que tem gente demais nessa história. Precisamos abafar um pouco as coisas. Nada de problemas. — Dei ênfase. — Ele é um pouco ciumento, não ficaria legal isso aqui. — Encarei as rosas, que eram lindas por sinal.

— Entendi mas... Esquece. — Harry rolou os olhos. — Eu vou indo então. Você entrega para ele?

— C-claro! Pode deixar que eu entrego sim.

— Antes de entregar, você pode abrir o envelope, se quiser. Eu não sei se o moleque sabe ler. — Harry soltou, dando às costas e indo.

Remexi o meio das rosas, encontrando o envelope fincado no meio delas. Abri o papel pardo, retirando de lá um papel mais firme, com a caligrafia de Harry.

"O moleque não gosta de rosas.
Seu dia está sendo péssimo mas confesso que a caída teatral nos meus braços não sai da minha cabeça.
Vou te dar folga no Ahoy, só por hoje.
Ah, e não se acostuma! Não sou homem de enviar flores.
Só envio para quem realmente aluga a minha mente"

— Sophia?

Micael apareceu na recepção, franzindo o cenho após me ver.

Cacete, fodeu!

Meu Professor - Coast Onde histórias criam vida. Descubra agora