Capítulo 75

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Meu corpo parecia uma pedra de gelo, intacta, sem dizer absolutamente nada. O único som que eu conseguia escutar era o de Micael, me perguntando o que ela aquilo, em sua mão.

Puta que pariu! Puta que pariu!

— Vai me dizer ou eu vou ter que arrancar isso de você? — Tinha o pano nas mãos, apertando fortemente como se quisesse me estrangular.

— Eu posso explicar, tá bem? — Rendi minhas mãos.

— Então vamos! Me explique! — Deixou o meu uniforme em cima da mesa, cruzando os braços em seguida.

— Eu arranjei um emprego depois que entrei no colégio. Eu não acho justo viver com você e não ajudar nada, entende? — Cerrei meus dentes.

— Ah, você não acha?

— Não! — Fiquei firme. — Micael, eu tinha uma mesada legal mas eu não posso ficar em cima de você! Sei que é o meu namorado mas eu preciso ter a minha privacidade. Entende? — Gesticulei. — Imagina que ridículo eu ter que pedir dinheiro para você, pra poder comprar um mísero pacote de absorvente?

— Eu não vejo problema nenhum! Você ainda estuda, é adolescente. Não tem que se dividir para trabalhar. Precisa focar nos estudos! — Por que ele parecia o meu pai falando?

— Eu sei, eu sei. — Cerrei os meus olhos. — Eu gosto de trabalhar! Gosto de ter o meu dinheiro!

— Certo, e desde quando essa palhaçada está acontecendo? Por que você não me contou? — Voltou a ficar bravo.

— Por isso. — Me sentei na cadeira, cansada de discutir. — Já faz umas semanas! Eu não sei muito bem.

— E onde você arranjou esse emprego?

— Com o meu colega de turma. — Nos encaramos.

Senti Micael endurecer a espinha até o máximo, não gostando do colega de turma, dito em voz alta por mim. Ele suspirou, cansado. Coçou o maxilar e pensou antes de fazer mais um questionário de pai preocupado e irritado.

— E eu posso saber quem é esse seu colega de turma? — Ajeitou a postura, ficando de braço cruzado mais uma vez.

— Harry. Ele estuda na minha sala. Mais precisamente o garoto tatuado com piercing, que eu te falei. — Remexi meus lábios, com medo da resposta de Micael.

— Você conversa com ele e simplesmente decidiu aceitar um emprego? Junto com ele? — Gesticulou. — Você realmente está me surpreendendo, senhorita Abrahão.

— Ai, sério? — Foi minha vez de se irritar. — Não é o fim do mundo, Micael! Ele é meu amigo! Ele ajeitou esse emprego pra mim porque eu precisava. — Me expliquei. — Ele super entende a minha situação e ficou muito sentido por Paola.

— Fico extremamente feliz de você estar contando o que acontece dentro da sua casa para um estranho! — Debochou. Ele reformulou a frase tão rápido que mal deu tempo de respirar...

— Ele não é estranho, ele é meu amigo, Micael! AMIGO! — Aumentei o tom de voz. — E quer saber mais? Eu literalmente odiei o dia de hoje! Sei que você está de luto, mas hoje é o meu aniversário. Você ficou aqui e... Não me deu um parabéns descente, um... Sei lá, abraço? Que tipo de namorado eu tenho? Eu entendo que você está de luto mas nada justifica. — As lágrimas caíram do meu rosto.

Micael encarou o chão e deu meia volta, seguindo até a geladeira. Abriu e voltou com uma embalagem lacrada, colorida e vibrante. Meu nome estava em cima, com desenhos de flores em glacê, glitter comestível e pedaços de chocolate.
Um lindo bolo! 

Em cima, uma vela rosa indicando dezoito.

Jogou a embalagem com tudo em cima da mesa, sem dó.

— Feliz aniversário. — Saiu andando, sumindo pelo corredor.

Eu chorei em silêncio, de novo. Me sentando na mesa com o bolo que Micael havia comprado. Estava meia bêbada mas senti que estava triste pelo meu tráfico aniversário, tanto que dormi perto do bolo e não lembro como sai dali.

Quando acordei no dia seguinte, minha cabeça latejava mais do que uma zabumba. Eu estava na cama, de pijama e certamente de banho tomado. Visualizei o visor do meu celular, agradecendo por estar no horário e não perder hora para o colégio.

Escutei Harrison falar alguma coisa com Micael, vindo da sala. Me levantei em passos leves, tomando um banho e fazendo minhas higienes matinais.

— Pai, onde está a Soph? — Harrison sentou no lugar de Micael, que corria contra o tempo, um pouco.

Estava fazendo panquecas, arrumado para ir ao trabalho.

— Dormindo. — Micael foi duro na resposta. — Sua babá está chegando!

— Eu sei. — Harrison deu de ombros.

Estava assistindo a conversa dos dois, sem ter a atenção dos dois à mim. Me aproximei mais um pouco, com vergonha de aparecer, depois de ontem. Eu queria sumir daquela casa, eu queria sumir de todos os meus problemas.

— Bom dia, Soph. — Harrison foi o primeiro a ficar contente em me ver.

— Bom dia, querido. — Beijei o topo da sua cabeça.

Me agachei até seu corpo, sentado da cadeira. Meus olhos encheram de lágrimas.

— Você está bem, sim? — Toquei sua mão.

— Por que você está chorando? — Harrison era inteligente até demais! O melhor é que ele falava em voz alta.

— Eu? Chorando? — Tentei disfarçar. — Impressão sua! Só estou feliz que você está em casa.

— É. — Harrison me abraçou. — Feliz aniversário atrasado! Eu te amo muito, sabia?

— Eu também te amo muito. — Abracei Harrison, deixando minhas lágrimas caírem.

Eu estava com uma sensação de culpa terrível! Amava Harrison e amava Micael, que não queria nem olhar para mim. Deixei os braços do garoto, secando minhas lágrimas e me sentando para tomar café.

Mas Micael chamou a minha atenção primeiro.

— Será que nós podemos conversar? — Pediu, meio sem jeito.

Assenti brevemente, deixando Harrison sozinho e indo até o quarto. Micael encostou a porta.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei.

— Sim, você sabe que sim! — Colocou as mãos na cintura. — Eu não gostei de ver você chegando ontem, tarde da noite, sem me dar nenhuma explicação. Não gostei também da forma como você mentiu para mim, mesmo eu fazendo tudo por você!

— Micael, eu já te disse que não sabia como te dizer... Eu tive medo!

— Ok mas eu precisava saber. Eu sou o seu namorado! Você mora comigo!

— Sim.

— Então! — Ficou mais bravo ainda. — Sei lá, eu ainda estou digerindo muita coisa.

— Se você está, imagine eu... — Desviei meu olhar.

— Eu estou muito confuso. Harrison está precisando de mim mais do que tudo! Esse momento está sendo mais delicado do que eu pensei, Sophia.

— Micael. — Pisquei várias vezes. — Eu não estou te entendendo? — Fiquei confusa.

— Você é nova, Sophia! Eu não quero te proibir, não quero que você fique presa à mim ou então...

— Ou então? — Meu coração gelou.

— Eu acho melhor a gente acabar essa história por aqui! Eu amo você mas não quero te prender nessa história tão confusa que é a minha vida. Eu não quero fazer você sofrer! Eu não quero fazer você passar por todos esses apuros com filhos e mães, enfim. — Apontou para a porta, se referindo à Harrison. — Eu só quero que você seja feliz!

— Então é isso? — Minhas lágrimas caíram. — Está me dando um pé na bunda?

— Estou terminando o nosso relacionamento, Sophia.

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